Seu Olhar Gentil reúne Rodrigo Campos, Bruno Morais e Romulo Fróes em SP

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O que Bruno Morais, Rodrigo Campos e Romulo Fróes têm em comum, além de discos recém-saídos do forno? Os três se atraíram pelo mesmo olhar gentil que lançam, como flerte, à canção popular brasileira.

Cancioneiros urbanos da nova safra de uma música "brazuca" --que pouco tem de popular--, o trio sobe ao palco do Auditório Ibirapuera, em São Paulo, neste domingo (13), para apresentar ao público um pouco de seus elogiados trabalhos lançados neste ano --"A Vontade Superstar", "São Mateus Não É um Lugar Assim Tão Longe" e "No Chão sem o Chão", respectivamente.

Bruno, Rodrigo e Romulo não são sambistas, mas buscam no samba uma forma de contar histórias, expressar angústias, banalidades e esquisitices do mundo, cada um da sua maneira, sem hesitar em misturá-lo a outros elementos musicais.

Ao palco, há momentos em que sobem sozinhos e, nos intervalos, se encontram para cantar e tocar composições de artistas que os influenciaram. A sintonia dos três anuncia arrepios disfarçados e suspiros contidos. Leia entrevista:

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Folha Online - O nome do encontro de domingo, Seu Olhar Gentil, foi tirado de uma canção sua, "Amor na Vila Sônia". O que essa música carrega de São Mateus?
Rodrigo Campos - Nessa canção imagino que um time sai de São Mateus pra jogar na Vila Sônia, num desses campeonatos de futebol de várzea. Geralmente, quando um time sai de seu bairro pra jogar em outro, aluga-se um ônibus pra levar o time e, junto, a torcida, quase sempre formada de amigos e familiares dos jogadores. Durante o jogo um dos torcedores, de São Mateus, se apaixona, à primeira vista, por uma menina da Vila Sônia, encantado pelo "olhar gentil" da garota, que se compadeceu do erro do time adversário. Esse olhar gentil da garota pode ser, também, o nosso, compositores que somos, atentos às sutilezas, redimindo o imperfeito, o inacabado...

Folha Online - O que há de comum entre você, Romulo Fróes e Bruno Morais?
Rodrigo - Além do olhar gentil, poderia citar o samba, que permeia o trabalho de todos. O fato de sermos da mesma geração e fazermos música nos anos 2000 também nos aproxima muito, visto que fazemos parte de uma geração que se atrai e se procura.

Folha Online - Como você conheceu os dois e como foi a preparação para o show?
Rodrigo - Conheci o Romulo, pessoalmente, no lançamento do meu disco, no Tucarena. Já conhecia e admirava seu trabalho, mas a partir dali passamos a nos frequentar. O Bruno conheci pelo Romulo, os dois já eram parceiros e meio que me integraram ao movimento que já faziam. E a preparação foi ótima. Já nos primeiros minutos do primeiro ensaio decidimos o que faríamos juntos, sem nenhuma hesitação, tamanha a afinidade musical dos três.

Folha Online - Com qual música de Romulo e de Bruno você se identifica mais?
Rodrigo - Gosto de "Nada Disso É pra Você", do Romulo e do Clima, que a Mariana Aydar gravou. Gosto muito porque algumas frases me dão uma sensação de liberdade, de desapego, resignação, com frases como: "Pra começar, vai acabar..." e "...nada disso é pra você querer...". Do Bruno gosto de "Hino dos Corações Partidos F.C.". Essa canção me traz um enorme aconchego, é uma "canção colo de mãe".


Crédito: Ivana Debértolis/Divulgação

Folha Online - Romulo Fróes, no release de "A Vontade Superstar", diz que você é um excelente cantor e que isso é raridade na música brasileira. Para você, quem são os melhores cantores do Brasil e por quê?
Bruno Morais - Com certeza os mais importantes para mim são o João Gilberto e o Monarco. O João porque abriu caminho para que pudessem existir cantores como eu: um "cantor de microfone". A invenção da bossa nova em seu melhor estado vem do sussurro suingado e milimetricamente arquitetado por João ao longo de sua carreira. Ele também foi influenciado por um dos cantores que mais ouvi na vida, Chet Baker, e influenciou toda uma de geração tropicália a novos bahianos, que inseriram a delicadeza do seu canto nas experimentações incríveis da época, conferindo o equilíbrio exato que fazem daqueles discos tão memoráveis e importantes. O Monarco, desde a primeira vez que ouvi fiquei fascinado. Tem uma experiência de vida na voz dele, uma sabedoria. É um cantor muito expressivo, me emociona sempre. Classe, potência, delicadeza, humanidade e clareza. É coisa de quem viveu intensamente tudo. Meu ídolo.

Folha Online - O que há de comum entre você, Romulo Fróes e Rodrigo Campos?
Bruno - A delicadeza, a gentileza, o samba triste... Mas principalmente a abordagem muito singular de cada um, a maneira com que cada um dos três se apropria das mesmas referências. Somos muito diferentes, mas talvez o cerne do trabalho de cada um seja o mesmo.

Folha Online - Como você conheceu os dois e como foi a preparação para o show?
Bruno - O Romulo eu conheci porque fui atrás dele para trabalharmos juntos. Acabei virando parceiro em duas canções e sempre fazemos projetos juntos. É meu amigo querido. Eu me apaixonei pelo trabalho do Rodrigo dele assim que ouvi o disco, temos alguns colaboradores em comum. E hoje em dia temos a mesma produtora, a Vila 6, da Lili Molina. A preparação do show foi muito simples, fácil. Vamos tocar nossas músicas cada um com sua banda e esta parte já estava construída, a diferença nesse caso é que vamos contar com o ótimo amparo técnico do Auditório. As canções que vamos tocar juntos resolvemos em alguns ensaios na casa do Rodrigo, cada um escolheu um clássico para cantarmos junto, só alegria.

Folha Online - Com qual música de Romulo e de Rodrigo você se identifica mais?
Bruno - "Minha Casa" (Romulo Fróes e Nuno Ramos), não só pela síntese da letra, curta e simples, porém cheia de significados, que é bem a minha onda, mas também pela melancolia embrulhada em papel de presente super alegre e colorido. Do Rodrigo, "Amor na Vila Sônia" --a maneira como ele descreve o exato momento em que se apaixonou é cinema puro. "Nunca Vi Canção Falar de Amor na Vila Sônia" é muito bonito, fico emocionado sempre.


Crédito: Eugenio Vieira/Divulgação

Folha Online - Com "No Chão sem o Chão", você diz querer desfazer a imagem de sambista que "grudou" em você. Por quê?
Romulo Fróes - Porque não sou um sambista! Eu sou um compositor de música popular brasileira que trabalha com toda sua enorme diversidade, incluindo e principalmente, o samba. Eu fugi da figura do sambista e não do samba.

Folha Online - O que há de comum entre você, Rodrigo Campos e Bruno Morais?
Romulo - Acho que nós três temos um envolvimento com a canção que passa longe da paródia e do mero entretenimento, cada qual ao seu modo se relaciona de modo muito vivo e íntimo com a música que faz e talvez uma certa delicadeza que se desprende dessa relação, seja o que nos une.

Folha Online - Como você conheceu os dois e como foi a preparação para o show?
Romulo - Do modo como nossa geração se conhece, indo a shows, colaborando com o trabalho de outros artistas, tentando viabilizar projetos em conjunto como esse do auditório. Nós lançamos discos recentemente, então estamos muito ensaiados com nossas bandas, mas pra essa apresentação, uma novidade é que interligaremos os shows de cada um com sambas que representam um universo mais triste, menos luminoso, esse olhar gentil do título, cantados só por nós três no palco.

Folha Online - Com qual música de Rodrigo e de Bruno você se identifica mais? Por quê?
Romulo - É incrível como todo o disco do Rodrigo me toca. Ainda que o que seja dito por ele não pertença a minha realidade, sua beleza me toca a ponto de me fazer íntimo das suas estórias e a minha predileta é a contada em "O Fim da Cidade". Já com o Bruno, minha ligação sempre foi e ainda é através do seu canto. Eu o considero um dos maiores dessa geração e em seu disco novo ele ainda conseguiu a proeza de lançar novos acentos ao clássico de Alvaiade, "O Mundo é Assim".

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