Novidade no largo do Arouche, na região central da capital, o restaurante Virado tem dupla personalidade —e isso pode ser bom.
Por um lado, é uma opção de refeição simples e mais acessível, com pratos básicos e bem-feitos, numa versão um pouco mais arrumada do tradicional PF. Por outro lado, tem uma cozinha autoral mais moderninha, dessas que servem pequenos pratos autorais mais criativos e interessantes.
A primeira face do restaurante pode ser uma boa alternativa para um almoço comercial mais rápido. Estão ali opções bem tradicionais em São Paulo, como bife acebolado, filé à parmegiana, galeto na brasa e, só mais recentemente, o virado à paulista que dá nome à casa. Qualquer desses pratos custa R$ 59 e é bem feito, mas não é nada que chegue a empolgar demais.
Pelo lado hipster, com opções "para compartilhar", a experiência se torna muito mais atraente —ainda que possa ficar um pouco cara.
É ali que está o crudo (R$ 40), por exemplo, que traz carne bovina crua com alcaparras, limão-siciliano, azeite de manjericão e queijo tulha. A porção é pequena, mas é excepcional e já faz valer a visita. A carne vem cortada em cubos um pouco maiores do que em versões francesas do steak tartare, o que deixa a textura mais marcante, combinando muito bem com o queijo. Vem ainda acompanhado por bons pastéis de vento, que podem servir de veículo para levar a carne à boca. É uma boa combinação, mas uma fatia de pão também cairia bem.
Outra excelente opção é a língua tonnato (R$ 32), que é servida fria e vem fatiada bem fininha. Com sabor delicado e textura macia, ela casa bem com o molho de atum, e ainda oferece uma surpresa em avelãs torradas que vão por cima. Talvez não seja exatamente uma falha, mas o prato é servido com o molho escondido por baixo da carne, então as primeiras garfadas pareciam um tanto secas até chegar nele.
Surpreendente também é o prato de verdes tostados (R$ 32), uma combinação de ervilha torta, vagem, brócolis e azedinha grelhados e com sabor levemente defumado. E ainda uma bela coalhada oferece contraste e frescor. Alguém pode estranhar o fato de que são servidos como atração principal, e não como acompanhamento. Mas eles merecem ser o centro da atenção mesmo de carnívoros.
A única decepção entre os pratos para compartilhar experimentados foi o shoulder de wagyu (R$ 75). Maior do que os outros, ele tem uma apresentação pouco atraente, com o bife inteiro em um prato sozinho. A carne até é saborosa, mas não estava macia como se podia esperar. Além disso, foi servida no ponto errado, mais passada do que o pedido. É acompanhada por um bom molho béarnaise e por ótimas batatas fritas.
Mas a criatividade volta a dar as caras no fim da refeição, com sobremesas como o pudim de iogurte (R$ 22). Muito cremoso, ele é mais doce do que o nome pode indicar, mas vem coberto com mais iogurte por cima, o que cria um contraste com o azedo, que causa estranheza, mas que dá vontade de comer mais.
O Virado fica no térreo do hotel San Raphael e tem como chef Benê Souza, de 26 anos, que trabalhou no Maní e no Taraz e apresenta ali sua primeira operação solo. É uma aposta na renovação do centro, uma área que vinha ficando degradada nos últimos anos e em que restaurantes mais tradicionais pareciam isolados, mas que agora ganham boa companhia.
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