Arquiteto pioneiro de calçadões e ciclovias é tema de documentário

"The Human Scale" (ou "A Escala Humana", na tradução literal) é um fortificante anímico para pedestres e ciclistas que andam desanimados com o domínio da velocidade nas marginais no debate público paulistano.

* Conheça a programação completa da mostra Arq.Futuro

Além de mais atenção para pedestres e ciclistas, o documentário dinamarquês advoga por mais espaços de convivência nas grandes cidades e menos para carros e obras viárias, que dragaram verbas bilionárias e espaços públicos mundo afora nas últimas seis décadas, sabotando o prazer de andar alguns diriam, de viver em qualquer grande metrópole.



O filme que abre a mostra foca no trabalho do escritório do influente urbanista e arquiteto dinamarquês Jan Gehl, pioneiro nos calçadões e ciclovias que fizeram de Copenhague, capital dinamarquesa, um exemplo contracorrente desde os anos 1960.

Arquitetos do escritório nos guiam em cenas inspiradas pelas transformações em cidades ricas como Nova York (EUA) e Melbourne (Austrália), na reconstrução da Neozelandesa Christchurch, devastada por um terremoto em 2011, e pelos desafios em megalópoles emergentes, como Daca, em Bangladesh, e Chongqing, na China, onde os privilégios para os carros ainda estão repetindo o pior do urbanismo ocidental dos anos 1950 e 1960.

Em Nova York, rara cidade norte-americana onde a maior parte da população não usa automóvel para trabalhar, mostram-se as transformações das novas pistas para pedestres na Broadway e na Times Square, além do espaço cada vez menor para o uso do carro.

Em um país onde se troca a bicicleta pelo carro, a região metropolitana mais populosa da China (com 31 milhões de habitantes) vai na contramão: Chongqing oferece uma rede de calçadões e pracinhas lotadas, nas quais velhinhos e crianças jogam, brincam e ocupam singelas mesas e cadeiras plásticas estrategicamente colocadas.

O diretor Andreas Dalsgaard não revela, mas o filme até parece um longo anúncio para as consultorias do escritório de Gehl mundo afora. Porém, ao contrário do recente documentário-egotrip sobre Jaime Lerner ("Uma História de Sonhos"), em "A Escala Humana" são as teorias do urbanista, utópicas e singelas (e mais baratas que qualquer viaduto), que dominam a maior parte da produção mal se fala da vida dele ou de sua carreira.

Como filme, o documentário não é exatamente inovador, ao contrário das propostas que apresenta. Da música solene à voz do narrador, faltam-lhe ginga e graça. Mas, dadas a urgência e a importância na mudança de paradigmas, "A Escala Humana" deve ser visto. É como o remédio amargo que precisamos tomar.

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