CRÍTICA: Oposição entre Catherine Deneuve e Catherine Frot é combustível de 'O Reencontro'



O REENCONTRO (regular) 
(Sage Femme)
DIREÇÃO Martin Provost 
ELENCO Catherine Frot, Catherine Deneuve e Olivier Gourmet. 117 min. 14 anos. 
PRODUÇÃO França, 2017, 14 anos 
Veja salas e horários de exibição.


O universo feminino é tema de predileção do diretor francês Martin Provost, que escreveu o roteiro de "O Reencontro" para duas sólidas atrizes, a veterana Catherine Deneuve e Catherine Frot, infelizmente pouco conhecida no Brasil.

Elas interpretam personagens radicalmente opostas. Deneuve é a decadente –mas ainda charmosa– Béatrice, uma aventureira frívola, alcoólatra e viciada em jogo. Frot é Claire, uma parteira abnegada que vive um tanto isolada e criou o filho sozinha. Seu único passatempo é cultivar legumes num terreno entre o rio Sena e um viaduto.

No momento em que a existência regrada de Claire é abalada pelo fechamento da maternidade onde trabalhava há anos, Béatrice ressurge bruscamente. Mulher do pai de Claire, ela o abandonou de maneira repentina há mais de 30 anos, levando-o ao suicídio.

Sofrendo de uma grave doença, com dificuldades financeiras, Béatrice se reaproxima de Claire em busca de ajuda e redenção e, logicamente, acaba trazendo à tona velhas mágoas e fantasmas, evocados com engenho por Provost sem o batido recurso aos flashbacks.

Da rejeição à aceitação e daí ao amor –esse é o trajeto de Claire. A reaproximação com Béatrice provoca outra mudança na parteira, que se reencontra com sua feminilidade e com o desejo ao lado de Paul (Olivier Gourmet), um caminhoneiro.

Provost vai fundo na oposição entre ambas, combustível para os embates quase constantes, que não cessam nem quando Claire passa a cuidar de Béatrice, que não pretende renunciar aos excessos mesmo com a morte à espreita. Tudo repousa em dualidades do tipo vida/morte, dar/receber, virtude/vício, introversão/extroversão, que soam por vezes mecânicas, demasiado calculadas.

Esse maniqueísmo onipresente evacua parte do mistério, dá previsibilidade aos personagens e às situações –que felizmente não caem no sentimentalismo. Mas a história se aproxima da fábula que ilustra preceitos morais e perde força.

O melhor do filme é o trio principal. Deneuve encarna com a desenvoltura de sempre seu enésimo personagem de burguesona glamorosa, enquanto Frot –mais habituada a personagens cômicos– se sai muito bem num papel mais dramático. Gourmet dá o tom justo a seu personagem, caracterizado sem clichês, que entra timidamente na história e conquista seu lugar ao lado das duas.

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