Com empoderamento feminino e guerra de narrativas, 'Jackie' é atual

"Jackie" é um filme sobre o passado que fala muito ao presente. E não apenas porque a vulgaridade que acaba de tomar o poder nos Estados Unidos desperte nostalgia pelo refinamento de John e Jacqueline Kennedy.

A atualidade do filme dirigido pelo chileno Pablo Larraín ("No", "Neruda") tem a ver com seu tema. Jackie não é uma cinebiografia convencional sobre a história da primeira-dama americana Jacqueline Bouvier Kennedy (Natalie Portman).

Indicada ao Oscar de melhor atriz, Natalie Portman interpreta a primeira-dama americana
Indicada ao Oscar de melhor atriz, Natalie Portman interpreta a primeira-dama americana - Stephanie Branchu/Divulgacao

Este é um filme sobre guerra de narrativas em tempos de "pós-verdade", um tema contemporâneo por excelência. Com sabedoria, Larraín escolheu um foco específico para seu filme: o momento posterior ao assassinato de JFK, em 1963.

Apesar da comoção pela morte trágica, o círculo do poder em Washington quer um funeral modesto para o país seguir adiante, e a imprensa faz em geral um balanço francamente negativo de Kennedy.

Natalie Portman em cena do longa "Jackie"
Natalie Portman em cena do longa "Jackie" - Stephanie Branchu/Divulgacao

Contra eles, Jackie se rebela solitariamente. Ela planeja um enterro grandioso para que Kennedy não seja esquecido.

E convoca um jornalista (Billy Crudup) para entrevistá-la e reescrever a narrativa sobre o legado do marido.

Sua tentativa é bem-sucedida: nessa reportagem emerge a imagem de Camelot um reino de bravos e nobres guerreiros que marcaria os anos Kennedy na história.

"Jackie" é atual também porque fala sobre empoderamento feminino, sobre uma mulher vista como dondoca que foi capaz de segurar a cabeça explodida do marido para que o cérebro não saísse do crânio.

Natalie consegue nos oferecer uma Jackie que só poderia ser sua
Natalie consegue nos oferecer uma Jackie que só poderia ser sua - Stephanie Branchu/Divulgacao

Ao longo do filme, Jackie sofre formas veladas de machismo que só seriam batizadas mais tarde, como o "gaslighting" (em que os homens a fazem se achar louca) e o "mansplaining" (em que os homens lhe explicam o mundo, com condescendência).

Indicada ao Oscar de melhor atriz, Natalie precisa dar conta desse personagem real e complexo. No começo, parece que a solução encontrada foi a mera imitação, de voz, de olhares, de gestos.

Larraín escolheu um foco específico para seu filme: o momento posterior ao assassinato de JFK, em 1963
Larraín escolheu um foco específico para seu filme: o momento posterior ao assassinato de JFK, em 1963 - William Gray/Divulgacao

Ao longo da projeção, a sensação se dissipa, e a atriz chega a um notável equilíbrio entre força psicológica e fragilidade física.

Assim como Jackie foi capaz de impor sua visão particular sobre o legado do marido, Natalie consegue nos oferecer uma Jackie que só poderia ser sua.

Avaliação: bom
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