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Claire Denis, quem diria, ficou domesticada. Longe estão os tempos de obras ríspidas e inquietantes, como “Desejo e Obsessão” (2001) e “O Intruso” (2004), ou mesmo delicadamente poéticas como “35 Doses de Rum” (2008).
Essa Denis, outrora intransigente e pouco afeita a concessões, parece ter ficado na década passada. Embora já tivesse demonstrado sinais de cansaço com “Minha Terra, África” (2009), dependente demais do talento de Isabelle Huppert, preso às fórmulas de um cinema de arte.
E, então, vemos novamente a diretora na dependência de uma atriz soberba. Em “Deixe a Luz do Sol Entrar”, seu último filme, temos um duelo inesperado entre uma anestesiada Denis e uma vibrante Juliette Binoche. Felizmente, é a atriz quem leva a melhor, mas sua vitória não é facilitada.
Binoche é Isabelle, uma mulher de meia-idade, muito sensual e apaixonada, mas frustrada pelo comportamento dos homens que encontra.
Desde o início, quando a flagramos numa noite quente com Vincent, homem monstruoso interpretado por Xavier Beauvois, somos convidados a acompanhar o seu calvário atrás de sexo com um pouquinho de amor, numa tentativa de reconquistar sua autoestima.
Não ajuda muito o quase envolvimento com Marc (Alex Descas), homem com certo poder no meio artístico. Nem a relação mais próxima com um jovem ator. Tampouco com qualquer outro de seu meio. E, mesmo fora de seu contexto social, as coisas não andam.
Essa Paris dos endinheirados e descolados seria duramente criticada por Denis nos velhos tempos, mas aqui só serve para mostrar o deslocamento total de Isabelle, incapaz de se encaixar no meio artístico pedante da capital francesa.
Na tentativa de mostrar o desespero da protagonista na procura de seu sol interior, Denis quase se afunda numa jornada de autocomiseração por vezes um tanto desagradável de se ver. Fica a impressão de que Isabelle não merece tamanho infortúnio —ou merece algo melhor que o mundinho artístico parisiense (que Denis conhece bem, aliás).
Mas, se “Deixe a Luz do Sol Entrar” está mesmo longe dos melhores momentos da diretora, ao menos demonstra uma vontade de reação, algo praticamente ausente no modorrento “Bastardos” (2013). Se essa reação acontece pela luminosidade de sua atriz, que ao menos Denis saiba aproveitar o caminho aberto para voltar à forma de outrora.
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