Descrição de chapéu Crítica
Cinema

'Todo Clichê do Amor' se limita a brincar com estereótipos da relação amorosa

Diretor Rafael Primot aposta nos lugares-comuns em torno do amor como matéria-prima

Alexandre Agabiti Fernandez
São Paulo

Todo Clichê do Amor

  • Classificação 16 anos
  • Elenco Débora Falabella, Marjorie Estiano e Maria Luísa Mendonça
  • Produção Brasil, 2018. 83 min
  • Direção Rafael Primot

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Reelaborar estereótipos para criticá-los e superá-los é uma estratégia que pode render ótimos resultados. Em seu segundo longa-metragem, o jovem diretor, roteirista e ator Rafael Primot aposta nos lugares-comuns em torno do amor como matéria-prima.

O tom dominante, como convém a uma narrativa que aspira a ser uma comédia, é o do excesso. Primot o exercita em três histórias que se relacionam com o tema do amor de maneira bastante diferente.

A primeira envolve Leo (o próprio Primot), um motoboy disposto até a matar para conquistar Helen (Débora Falabella), que trabalha em uma lanchonete. Mas ela está comprometida e resiste às investidas do rapaz, que, por sua vez, é objeto do desejo de Sofia (Gilda Nomacce), a chefe da garçonete.

A segunda história se passa em um velório, onde a mulher do morto (Maria Luisa Mendonça) busca se aproximar da enteada (Amanda Mirásci), que não gosta dela, e onde ambas expõem suas fragilidades. Denso e dramático, é o episódio mais distante da temática amorosa tradicional.

A última história é sobre Lia, uma prostituta (Marjorie Estiano) que quer ter um filho com o marido (João Baldasserini), um ator pornô, que resiste à ideia. Enquanto atende um cliente (Eucir de Souza), Lia discute com o marido pelo telefone. Em seguida, ela e o cliente conversam sobre seus relacionamentos em crise. É a história mais debochada, a única que francamente abraça a comédia.

A empreitada metalinguística de Primot se completa com uma interligação das três histórias, feita por meio de um livro, um filme e uma novela de rádio, mas que cai no vazio por não enriquecer nenhuma das narrativas.

No mesmo vazio cai a metáfora dos problemas sensoriais de alguns personagens —o cliente de Lia não tem paladar, a mulher dele é cega, a enteada não ouve bem, e Helen ensina a língua de sinais para crianças surdas.

As histórias não são desprovidas de interesse, também por mérito dos atores. Mas o escasso desenvolvimento dos personagens, com exceção da segunda história, impede que a narrativa ganhe corpo e ultrapasse a brincadeira metalinguística com os clichês.

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