Descrição de chapéu Crítica crítica de filmes
Cinema

Drama que explora personagens desorientados soa como ladainha

'A Voz do Silêncio' tem direção de André Ristum e Marieta Severo no elenco

São Paulo

A Voz do Silêncio

  • Classificação 16 anos
  • Elenco Marieta Severo, Ricardo Merkin e Marat Descartes
  • Produção Brasil, 2018. 98 min
  • Direção André Ristum

A desumanização é um dos aspectos mais eloquentes da modernidade, o que a mantém como foco de cineastas interessados no presente. “A Voz do Silêncio”, terceiro longa de ficção de André Ristum, integra-se, assim, à tradição que, desde o paradigmático “São Paulo, Sociedade Anônima” (1965), de Luis Sérgio Person, não envelhece.

O inchaço das metrópoles só intensificou os dramas de abandono e de exploração. O que era sintoma moderno há meio século se tornou definitivo nas formas de vida hipercontemporâneas.

O desenho narrativo proposto no roteiro de Ristum e Marco Dutra privilegia a desconexão por meio de um conjunto de personagens ao mesmo tempo relacionados e desorientados.

Mesmo que habitem espaços comuns, seja a casa, o trabalho ou a cidade, eles se encontram encapsulados tanto quanto a sucessão de veículos filmados como imagem simbólica nas cenas de abertura.

Dessa forma, o filme faz suceder os personagens como muitos exemplos de um mal-estar generalizado. Particulariza os tipos em gêneros, gerações e classes sociais ou individualiza seus dramas sem perder de vista que cada um expressa sentimentos equivalentes de perda, impotência, crise ou sofreguidão.

A principal qualidade de “A Voz do Silêncio” é conseguir evitar a abstração, tornando fáceis de reconhecer ou se identificar com uma senhora fóbica trancada em seu apartamento, um migrante que sobrevive fazendo jornada dupla ou um executivo que se move pela cidade como um vampiro financeiro e sexual.

O dinamismo inerente à metrópole garante que os rumos dos personagens se cruzem, mas o filme prefere reiterar o isolamento, forçando-os à aridez.

Desse modo, a direção é obrigada a depender demais de atores sozinhos em cena, mudos ou limitados a expressar reações. A situação, quando excessiva, pode levar até Marieta Severo a parecer postiça.

Mas é por não se permitir fazer pausas no jorro pessimista que “A Voz do Silêncio” deixa de ser escutado como discurso feroz para soar como ladainha.

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