'Paulistano não tem onde se sentar', diz envolvido na criação de 'parklets' em SP

Presidente do Instituto Mobilidade Verde, envolvido na criação de 9 das 12 atuais minipraças, Lincoln Paiva diz que SP está vencendo a luta contra o paradigma da cidade inviável.


"Guia Folha" - Como o sr. avalia os primeiros nove meses de regulamentação dos "parklets" em São Paulo?
Lincoln Paiva - A avaliação é muito positiva. Só de estarmos falando de um decreto, é fantástico. Nunca esperei ver a cidade vivendo isso: um "parklet" no lugar onde paravam dois carros. Estamos vencendo a luta contra o paradigma da cidade inviável.

E a sociedade e os comerciantes impactados vêm respondendo bem à iniciativa?
Sim. Percebemos que cada "parklet" tem uma vocação diferente. No da rua Padre João Manuel, onde somos mantenedores, notamos que o espaço mexeu com a qualidade de vida das pessoas que moram, trabalham ou passam por ali. Param para ler, comer, fazer reunião ou simplesmente descansar. Tem uma moradora que tem seu próprio vasinho de flor e cuida dele. Isso é demais! Além disso, há um reflexo direto no aumento do fluxo de pessoas no entorno, o que impacta na dinâmica econômica local. Ainda não conseguimos auferir com precisão em São Paulo, mas em Nova York e em Chicago a arrecadação de impostos em locais que contam com "parklets" aumentou até 29%.


Era esperado que bares e restaurantes fossem os mais interessados nos "parklets"?
Sim. Em São Francisco, onde fazem editais anuais para os "parklets", quase todos os projetos são em frente a bares ou a restaurantes. Esse tipo de lugar tem todo o interesse em cuidar bem do espaço, fazer a manutenção diária. Mesmo que ele não possa explorar comercialmente o "parklet", é claro que acaba sendo um diferencial.

Dos "parklets" que estão montados em São Paulo, nove foram implementados pelo seu coletivo. Agora, surgem outras empresas especializadas e se forma um novo mercado. O que esperar desse processo?
Sabíamos e queríamos que isso acontecesse: um novo mercado. Na rua, o paulistano não tem lugar para se sentar. As empresas de mobiliário urbano estão todas voltadas para espaços privados. Agora, com mais gente fazendo, ajuda a fortalecer essa nova economia, gerar empregos. A gente não trata essas novas empresas como concorrentes, pois todos trabalhamos para ocupar o espaço público da melhor maneira. Um "parklet" não serve para substituir uma praça, mas, sim, para estimular que os cidadãos ocupem os espaços públicos, praças, parques. Você não constrói uma cidade apenas reclamando nas redes sociais, é preciso ter contato com a rua e entender os seus problemas.

Os "parklets" paulistanos são parecidos. Há ideia de fazer modelos diferentes, temáticos, como ocorre em São Francisco?
Na verdade, embora parecidos, eles são todos diferentes. Como são modulares, cada um é montado de um jeito. O que se usa é a mesma madeira, pois ela tem garantia de 15 anos mesmo exposta ao tempo. Nós adotamos um modelo, e estamos estudando qual disposição do mobiliário pode atrair mais gente. Nessas pesquisas, encontramos um certo padrão ideal de layout: o miolo do "parklet" é mais ocupado por famílias; os bancos ao lado direito, por namorados; e, ao esquerdo, virou ponto de leitura.

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