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60 anos da ditadura: conheça pontos de São Paulo ligados à memória da época

Capital paulista possui museus, monumentos e logradouros que remetem ao período entre 1964 e 1985

São Paulo

A madrugada entre os dias 31 de março e 1º de abril de 1964 ficou para sempre marcada na história do Brasil, quando o então presidente João Goulart (PTB) foi deposto do cargo e se iniciou uma ditadura que durou 21 anos.

Neste ano, completam-se seis décadas do episódio, que mudou os rumos da política brasileira, impedindo que o povo pudesse votar por seus representantes. O Estado, à época, agia com base na censura e opressão contra todos os cidadãos que julgavam "inimigos" ou perigosos.

Cela do antigo Dops
O Memorial da Resistência, em São Paulo, abriga as celas do antigo Dops, local de repressão da época da ditadura - Vicente Vilardaga

As cicatrizes desta época estão marcadas não apenas na pele dos sobreviventes, mas também em locais do país que foram testemunhas da tortura e também da resistência.

Confira dez destes lugares que podem ser visitados na cidade de São Paulo:

Memorial da Resistência
Localizado no centro da cidade, o memorial é o maior museu de história dedicado à memória das resistências e da luta pela democracia no Brasil. Aberto ao público em 2009 no prédio onde, entre 1940 e 1983, operou o Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), o local exibe exposições temáticas ligadas à época da ditadura militar. O próprio espaço faz parte do acervo do museu, pois lá os visitantes podem entrar em celas que eram usadas para confinar presos políticos da época.

Aberto de quarta a segunda das 10h às 18h
Entrada gratuita mediante reserva
Largo General Osório, 66, Santa Ifigênia

Cemitério Dom Bosco - Vala de Perus
Inaugurado em 1971 na zona norte, o cemitério ficou conhecido nos anos 1990 após serem encontrados 1.049 sacos com ossadas de pessoas enterradas como indigentes durante a ditadura. Em homenagem às vítimas, Luiza Erundina (PSOL), prefeita da cidade à época, inaugurou no local o Monumento aos Mortos e Desaparecidos Políticos, de autoria de Ricardo Ohtake.

Todos os dias, das 8h às 17h
Entrada gratuita
Estrada do Pinheirinho, 860, Perus

Tuca
O Teatro da Universidade Católica está localizado em um prédio ao lado do campus da PUC-SP. Nos anos em que o AI-5 vigorou, com cassação de direitos políticos, exílios e censura, o teatro se consagrou como um local de resistência artística, cultural e política, recebendo em seus palcos nomes como Elis Regina, Caetano Veloso, Vinicius de Moraes e Fernanda Montenegro. Além de peças e shows, também era usado para simpósios, encontros, debates e atos públicos. Na ditadura, o Tuca foi incendiado duas vezes, em setembro e dezembro de 1984. O primeiro ocorreu no aniversário de sete anos da invasão da PUC pelas forças da repressão. Padre Edenio Valle, pró-reitor comunitário da universidade, afirma que se tratou de um "atentado terrorista que deu certo". Em 1988, o prédio foi tombado como bem cultural, histórico e arquitetônico e, até hoje, o local mostra em suas paredes as marcas de incêndio, preservando a memória da resistência à ditadura.

Rua Monte Alegre, 1024, Perdizes
Programação e valores de ingressos podem ser consultados no site oficial do teatro.

Homenagem a Carlos Marighella
Quem passa ao lado de uma pedra alta na calçada da alameda Casa Branca, na altura do número 815, não imagina que ela foi colocada lá de propósito como forma de homenagear o guerrilheiro Carlos Marighella. O ex-integrante do Partido Comunista Brasileiro foi assassinado ali, próximo ao nº 800, atingido por quatro tiros em uma operação do Deops. A pedra de granito foi instalada no local em 1999, 30 anos depois do ocorrido, durante a gestão de Celso Pitta. Ela tinha uma placa explicando o significado da homenagem, mas ela foi roubada. Hoje, a mensagem "aqui tombou Carlos Marighella em 4/11/69, assassinado pela ditadura militar", inscrita na pedra, está quase ilegível.

Alameda Casa Branca, na calçada, próxima ao nº 85

Casa de Portugal de São Paulo
A entidade foi criada em 1935 com a intenção de ser uma instituição de apoio e assistência à comunidade portuguesa em São Paulo. Nos anos finais da ditadura, teve grande importância, pois sediou assembleias sindicais, como a ocorrida em 30 de agosto de 1978, considerada a maior assembleia de bancários desde a implantação do AI-5 e responsável por iniciar a primeira greve geral da categoria. A biblioteca do espaço é aberta ao público geral, tal como a galeria de arte, quando há exposições.

Biblioteca aberta das 12h às 16h30 de segunda a sexta-feira
Entrada franca
Av. da Liberdade, 602

Teatro da USP
Mais conhecido como Tusp, o prédio localizado em frente à faculdade Mackenzie, abrigava a FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas). A divergência ideológica entre os alunos de ambas as faculdades culminou em um episódio sombrio da história de São Paulo. Um desentendimento na manhã de 2 de outubro de 1968 resultou em um confronto de 4 horas, conhecido como "Batalha da Maria Antônia". Jovens se agrediram com paus, pedras, coquetéis molotovs e outras ferramentas. O combate deixou diversos feridos e um morto, o jovem secundarista José Carlos Guimarães. Atualmente, o prédio histórico oferece uma programação teatral e mostras sobre a produção de teatro de âmbito universitário. A agenda de peças pode ser encontrada no site oficial do local.

Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque

Arco do antigo Presídio Tiradentes
Construído em 1852, o presídio servia como local de detenção de pessoas escravizadas. Durante o Estado Novo (1937-1945), recebeu um pavilhão especial para presos da Lei de Segurança Nacional e passou a ser reconhecido como um presídio político. Durante a ditadura, presos políticos que tiveram suas prisões legalizadas ou foram condenados pela Justiça Militar eram enviados para o local. Era um centro de detenção mais seguro, pois havia documentação, que foi crucial para reunir evidências das violências vividas pelos detidos. Em 1972, o presídio foi demolido, mas o seu arco de entrada continuou preservado e foi tombado pelo Condephaat em 1985. Atualmente, o local não conta com nenhuma sinalização que informe os transeuntes de sua história. Ele contava com uma placa informativa, mas esta foi roubada e nunca foi reposta.

Avenida Tiradentes, 451, Tiradentes

Pórtico conhecido como 'Arco do presídio', que restou do Presidio Tiradentes - Cris Komesu/Folhapress

Praça Vladimir Herzog
A Comissão da Verdade formada pela Câmara Municipal de São Paulo quis homenagear o jornalista Vladimir Herzog, assassinado em 25 de outubro de 1973, nos porões do DOI-CODI, vítima da repressão e violência da ditadura. No aniversário de 40 anos de sua morte, a pequena praça localizada atrás do prédio da Câmara, então chamada Praça da Divina Providência, passou a se chamar praça Vladimir Herzog. O local conta com três obras de arte de autoria do artista plástico Elifas Andreato que homenageiam Herzog, além de também abrigar a Escadaria da Liberdade, que possui 17 degraus com trechos da letra do Hino da Proclamação da República.

Rua Santo Antônio ao lado do prédio da Câmara Municipal de São Paulo, Bela Vista

Memorial aos Membros da Comunidade USP Vítimas do Regime da Ditadura Militar
Inaugurado em 2011, na Praça do Relógio, em frente ao Auditório Camargo Guarnieri, o memorial idealizado pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade consiste em uma obra de placas de concreto que contém os nomes de professores, funcionários e estudantes da USP que foram mortos ou desapareceram durante o período da ditadura. Na primeira coluna do monumento está escrita a frase "Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante", presente no quinto artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Praça do Relógio, USP, Portaria 01, cruzamento da Av. Afrânio Peixoto com a Rua Alvarenga, Butantã

Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos
Inaugurado em 2014, em frente ao Parque do Ibirapuera, o monumento de seis metros de altura por 12 de comprimento foi projetado pelo arquiteto Ricardo Ohtake. As chapas brancas que formam a obra contêm os nomes de 436 mortos e desaparecidos políticos de todo o país.

Área externa do Parque Ibirapuera, em frente ao Portão 10, Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n, Vila Mariana

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