Nos anos 1960, Claudette Soares e Alaíde Costa deixaram o Rio de Janeiro e trouxeram a bossa nova a São Paulo. Agora, elas comemoram seis décadas do estilo em shows no Sesc 24 de Maio, no centro da cidade.
Em apresentações na quarta (30) e na quinta (31), as duas interpretam repertório do disco que lançaram em 2018, “60 Anos de Bossa Nova”. Como no álbum, são acompanhadas por piano, bateria e baixo acústico e revisitam músicas que marcaram suas carreiras.
“Na minha parte, canto Tom [Jobim, 1927-1994], João Donato, João Gilberto, com ‘Hô-Bá-Lá-Lá’, Walter Santos [1939-2008], que foi um compositor maravilhoso”, explica Claudette, 81, elencando nomes importantes do gênero.
Ela também surfa na bossa do sambalanço, em faixas como “Crediário do Amor” e "Vem Balançar".
Já Alaíde, 83, exibe um cancioneiro mais romântico, com “Onde Está Você” e “Chora Tua Tristeza”.
Neste quesito, Claudette exibe “Apelo”, cuja história faz questão de contar. “O Vinicius [de Moraes, 1913-1980] compôs para mim esta música, na época em que eu fazia um show com Taiguara [1945-1996], o 'Primeiro Tempo: 5x0', em 1966."
Mas, por causa de um imbróglio na gravadora com a qual tinha contrato, ela viu outra artista alcançar êxito com a canção. "A Elizeth Cardoso [1920-1990] gravou antes. E parecia predestinação: o Vinicius havia me dito ‘vou te dar para lançar, mas acho que você ainda não sofreu muitas dores de amor’”, relembra.
"Depois de tudo, pensei que, àquela altura, a Elizeth tinha mais idade do que eu e deveria ter sofrido mais com o amor. Aí você vê que tudo está certo, né? Nada é por acaso."
Na conversa, afirma ainda não ter sido à toa a sua chegada a São Paulo. Segundo ela, quem lhe deu a ideia de sair do Rio para disseminar aquela música moderna na terra da garoa foi Ronaldo Bôscoli (1928-1994). Ouviu seu conselho, para não ser "mais uma cantora", e fez as malas.
"Claro que minha mãe quase me matou", diz, aos risos. Mas veio, cantou e ficou. Agora, é como se ela e a parceira Alaíde dessem sua própria volta olímpica nos shows que lembram dos 60 anos da bossa nova.
Comentários
Ver todos os comentários