Roberto Menescal se apresenta com Wanda Sá e Marcos Valle para comemorar 60 anos de bossa nova em dois shows, na quarta (23) e na quinta (24), no Sesc 24 de Maio. Mas, para o guitarrista e violonista, o estilo e seu nascimento não significaram apenas uma revolução musical.
"Foi uma virada. Nos costumes também. [Antes] Era uma época dominada pelo samba-canção. Feita por uma turma mais velha, que trabalhava o dia inteiro e, no final do expediente, se encontrava em boates, de terno e gravata. Faziam coisas bonitas, mas de letras muito sofridas", diz.
"E nós éramos de uma nova geração, que usava a praia em todos os sentidos. Jogávamos vôlei e futebol, à tarde, e à noite, tocávamos violão lá. Então, éramos mais esportivos, muito mais abertos. E aquelas letras [do samba-canção] caíam esquisito para nós. Como é que, com o corpo todo queimado de sol, iríamos [cantar] 'Garçom, apague esta luz/Que eu quero ficar sozinho"?", conta Menescal, citando versos de “Bar da Noite”, composição de Bidu Reis (1920-2011) e Haroldo Barbosa (1915-1979).
Dali, da areia, ele saiu para entrar no olho do furacão. Foi contratado da histórica gravadora Elenco, compôs "Vagamente" e —um dos hinos do gênero— "O Barquinho", ambas em parceria com Ronaldo Bôscoli (1928-1994) e garantidas no repertório dos shows de comemoração.
E mais: Menescal tornou-se um dos artistas a se apresentar no Carnegie Hall, em Nova York, em 1962, na noite que reuniu nomes como João Gilberto, Carlos Lyra e Milton Banana (1935-1999) e lançou a bossa nova nos Estados Unidos e no mundo. Seu amor pelo mar, no entanto, quase o deixou de fora.
"Eu não tinha noção da possível importância daquilo. Tanto que, quando me ligou um cara do Itamaraty, falei a ele 'eu não vou poder ir, não'. Tinha marcado uma pescaria em Cabo Frio [RJ], já havia alugado um barco", relembra.
Foi preciso ouvir um conselho de Tom Jobim (1927-1994), a quem chama de "mestre". “Ele me telefonou e disse 'vamos fazer show num teatro importante. Tem de ir'. Então, fui."
Hoje, aos 81 anos, diverte-se com o fato de o "samba moderno" (nome que eles mesmos davam ao som) ter ganhado o nome de bossa nova e seguir chamando a atenção décadas depois. "Lembro de comentar com meu parceiro Bôscoli [à época]. 'Pô, Ronaldo, isso já dura dois anos. Se durar mais um, será demais.”
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