O sucesso de um espaço cultural de eventos em relação à inclusão e acessibilidade, independentemente de sua dimensão, envolve uma premissa básica: ele foi planejado, pensado e testado para ser aproveitado também por pessoas com deficiência ou ele foi arranjado, criado da forma como deu e realizado por quem achava que sabia o que estava fazendo "para as PCDs"?
Pessoas com demandas físicas, sensoriais ou intelectuais não querem ser beneficiadas com meia-entrada, elas querem é pode viver plenamente a experiência de um espetáculo como qualquer outro vivente. Como isso geralmente é impossível —porque não há opção de escolha do lugar, porque o acesso é restrito e acochambrado—, é justo que se pague menos.
Casas de show no exterior costumam ter opções variadas de lugares para esse grupo social. Caso não haja muita escolha, a lógica é oferecer a melhor posição de contemplação do palco para esse público. Parece simples e justa a conta, mas, em São Paulo, ainda não é bem assim.
Um espaço que funciona bem para a diversidade —se fosse diferente, seria o fim do mundo, afinal, a propaganda do local é de modernidade— é o do Allianz Parque. Assisti a algumas apresentações no estádio a bordo de minha cadeira de rodas e sempre tive boas impressões.
No setor de cadeiras inferiores, por exemplo, há uma ampla área, com visão sem barreiras para o ponto dos shows, o que faz com que pessoas com deficiência curtam os espetáculos do jeito que deve ser: com seus possíveis acompanhantes, não separados completamente do restante do público e com acesso fácil a banheiros e serviços.
A Tokio Marine Hall, com dimensão bem menor, evidentemente, também costuma atender com eficiência o grupo social. Desde a hora em que chega —se for de carro, dá para estacionar bem na porta —, a pessoa recebe orientações sobre a acessibilidade e tem assegurado o direito de conseguir ir até a mesa comprada, dentro das que foram colocadas como disponíveis.
Um ponto negativo, que não é exclusivo da casa, é que nem em todos os espetáculos se pode adquirir os ingressos diretamente do site. Exige-se que a pessoa com deficiência vá até a bilheteria para "provar" que ela tem direito ao lugar acessível, o que é um disparate.
Outro aspecto pouco inclusivo é um certo tom assistencialista nos bombeiros civis que, às vezes, conduzem a pessoa com deficiência como se ela fosse um hospitalizado que precisa de cuidados médicos. Falta treinamento básico. Dá para ser prestativo sem ser invasivo.
A acessibilidade comunicacional é a derrapagem maior dos centros de entretenimento. Raras são as apresentações que oferecem Libras ou que tenham preocupação com legendas. Audiodescrição, que amplia o sentido do que está sendo exibido em palavras, não se encontra. Tecnologia que torne isso prático e usual já existe, assim como lei. Falta ação inclusiva.
Shows grandes no Espaço Unimed —e não apenas lá, no Morumbi, com o Coldplay, aconteceu o mesmo— fazem a organização do local criar algo bastante constrangedor: os chiqueirinhos dos "malacabados". Concentram pessoas com deficiência num cubículo acochambrado, em geral, longe de seus acompanhantes, e pronto, é o que temos.
Não custa lembrar que incluir a todos é valor absoluto de nosso século e da contemporaneidade. Contemplar de maneira adequada a diversidade dá o tom da civilidade e do avanço humano que se espera.
Com informação, conhecimento, tecnologia, boa engenharia, boa vontade, todo o mundo pode dançar, cantar, se emocionar e guardar momentos de felicidade em suas histórias.
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