CRÍTICA: Retrato de relação de paquistanês com americana, 'Doentes de Amor' recusa clichês 



DOENTE DE AMOR (bom)
(The Big Sick) 
DIREÇÃO Michael Showalter 
PRODUÇÃO EUA, 2017. 121 min. 12 anos 
ELENCO Kumail Nanjiani, Zoe Kazan e Holly Hunter
Veja salas e horários de exibição. 


A comédia romântica é constantemente maltratada por overdoses de sentimentalismo e convenções diversas. Felizmente, não é o caso de "Doentes de Amor", um relato baseado na vida de Kumail Nanjiani, ator paquistanês radicado nos EUA, mais conhecido por sua participação no sitcom "Silicon Valley".

Enquanto busca um lugar ao sol no mundo da stand-up comedy, Kumail sobrevive como motorista de aplicativo em Chicago. Nos palcos, tenta fazer rir contando sua vida, dividida entre as tradições culturais paquistanesas e a liberdade de que goza nos EUA.

The Big Sick
Zoe Kazan e Kumail Najiani em cena do filme "Doentes de Amor" - Divulgação

No fim de uma dessas apresentações ele conhece Emily (Zoe Kazan) e iniciam um relacionamento. Os meses passam e Kumail não se anima a falar sobre Emily para a família. Nos almoços dominicais, sua mãe costuma convidar jovens paquistanesas, noivas potenciais para um casamento arranjado com o filho, como mandam os costumes do país de origem.

​Emily descobre tudo e rompe. Mas ela logo fica gravemente doente e a situação sofre uma reviravolta.

O tema do amor perturbado pelas diferenças culturais não é novo. A família paquistanesa é alvo de uma caracterização superficial, contrastando com a relação que Kumail desenvolve com os pais de Emily —muito mais dinâmica, imprevisível e cheia de peripécias divertidas.

Apesar dessas fragilidades, o roteiro —escrito pelo protagonista e pela mulher dele, Emily V. Gordon— tem a lucidez de recusar os excessos que tanto atormentam o gênero, como o enaltecimento da fantasia amorosa, bem como seu corolário açucarado e lacrimogêneo.

Além disso, os diálogos são ágeis e espirituosos, na melhor tradição da stand-up comedy, sem medo do politicamente incorreto. E Kumail brilha com suas tiradas temperadas com autoironia, construindo empatia com o espectador quase sempre a partir de sua peculiar identidade cultural.

No papel dos pais de Emily —personagens com muito mais substância do que os pais de Kumail—, Holly Hunter e Ray Romano encontram o tom justo entre a gravidade e o humor. Anódina, a direção de Michael Showalter tem a virtude de não comprometer o resultado.

Longe de ser o filme do ano, Doentes de Amor tira proveito do fato de se apoiar na realidade e demonstra que é possível haver vida inteligente na comédia romântica.

Avaliação: bom
  Veja horários e sala de exibição

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