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Cinema

Filme paraense 'Para Ter Onde Ir' traz mulheres fortes em região quase inédita no cinema

Road movie da diretora Jorane Castro é protagonizado por três mulheres

A atriz Lorena Lobato está sentada com um vestido branco
A atriz Lorena Lobato interpreta Eva no filme 'Para Ter Onde Ir' - Divulgação
São Paulo

Para Ter Onde Ir

  • Classificação 12 anos
  • Elenco Lorena Lobato, Ane Oliveira e Keila Gentil
  • Produção Brasil. 100 min
  • Direção Jorane Castro

Veja salas e horários de exibição.

É sedutora a ideia de um road movie protagonizado por três mulheres. Ainda mais quando suas origens são bastante diferentes e a paisagem pertence a uma porção do território brasileiro quase inédita no cinema.

Esse é o ponto de partida de “Para Ter Onde Ir”, primeiro longa da paraense Jorane Castro. Eva (Lorena Lobato) acaba de atracar o navio que comanda. Melina (Ane Oliveira) chega de uma balada forte. E, numa casa erguida sobre palafitas, Keithylennye (interpretada pela cantora Keila Gentil, ex-Gangue do Eletro) dá banho na filha. 

O filme avança em meio a pontos nebulosos. Não se sabe a natureza da relação entre as personagens, nem o motivo da jornada. Contentamo-nos em acompanhar o deslocamento do carro de Eva, que corta a floresta rumo ao mar, enquanto ouvimos os tensos diálogos das viajantes. Por que falar tanto de homem? “Homem é bom!”, diz Keithy. Eva argumenta que amor é narrativa, invenção, e que “ficar sozinha também é bom”.

Entre percalços e devaneios, o percurso até as praias de Salinópolis revela a exuberância de um Pará rarissimamente visto nas telas. Nada óbvia, a fotografia, a cargo do recifense Beto Martins, vale-se da luz difusa do inverno amazônico, que acrescenta uma camada de mistério ao longa. O apuro quase maneirista na composição dos quadros privilegia momentos de opacidade, com reflexos, sombras e enquadramentos que conferem aos objetos e corpos formas quase abstratas.

Outros obstáculos surgirão entre espectador e ações filmadas —o reflexo da vegetação no vidro do carro, a luz ainda tímida do amanhecer—, alguns deles surpreendentes, outros gratuitos. 

Feitas de sonhos, amores passados, separações e suas cicatrizes, as histórias das protagonistas se evidenciam pouco a pouco. Mas não é o roteiro, algo esgarçado, que conquista, e sim a atmosfera densa. 
Numa aliança entre deleite e melancolia —como quando as viajantes cantam “Amor, Amor”, sucesso nos anos 1980 na voz do cantor Carlos Magno Xavier—, somos levados, nós também, a procurar um destino. Se não for um par romântico, melhor.

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