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O nono longa-metragem do diretor e roteirista Jean-Paul Civeyrac expõe sua cinefilia enquanto esboça um retrato da juventude —traços fundamentais da nouvelle vague, movimento que tanto preza. O estudante de cinema Etienne (Andranic Manet), o personagem central, encara essa arte como uma necessidade vital, ao menos no discurso.
O filme tem contornos autobiográficos, ainda que imprecisos, pois assim como o personagem, Civeyrac deixou sua cidade do interior da França para estudar cinema em Paris. Na capital, Etienne encontra um ambiente de intenso debate entre os colegas, em que cada um explicita sua visão de cinema como uma maneira de estar no mundo.
Existem os pragmáticos, que defendem um cinema com concessões para agradar ao público, e os puristas —ou românticos—, como Mathias (Corentin Fila), que reivindicam com altivez uma forma de expressão capaz de representar as dores e alegrias da vida.
Essas discussões acaloradas se dão em meio a uma enxurrada de referências —sobretudo a cineastas, filósofos e a escritores românticos como Novalis e Nerval. Quase ausente no cinema contemporâneo, a citação literária é outro traço da nouvelle vague.
Em meio a essa agitação cheia de rivalidades e certezas, Etienne destoa. Está perdido, ensimesmado. Jura fidelidade à namorada que ficou em Lyon enquanto acumula aventuras amorosas que o deixam ainda mais desnorteado. Quando chega o dia de rodar seu filme, inseguro, ele quase desiste.
A bela fotografia em preto e branco, os enquadramentos que privilegiam quase sempre o rosto e o torso dos atores, as cenas interiores levemente escuras e muito mais numerosas do que as cenas exteriores definem um conjunto de procedimentos que ajudam a ressaltar o drama existencial de Etienne, cheio de contradições e sombras.
O rapaz convive com muita gente, mas nunca deixa de ser solitário e melancólico. Aproxima-se de Mathias, mas jamais expõe suas convicções com clareza: ele observa mais do que fala. Sua imobilidade é exasperante, sua fragilidade como personagem faz com que a narrativa de iniciação nunca se afirme plenamente: falta-lhe a curiosidade pela descoberta.
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