"O Olho e a Faca" não é bem o filme que se podia esperar de Paulo Sacramento, depois de seus curtas, de sua atrevida estreia com o documentário “O Prisioneiro da Grade de Ferro” (2003), e mesmo de “Riocorrente” (2013), sua primeira ficção.
Dois elementos, no entanto, permanecem: a ambição e o perfeccionismo na realização. Pois se o filme começa com, praticamente, um documentário sobre uma plataforma de petróleo, admita-se que é um bom documentário.
Mas se, apenas por hipótese, o acidente que desencadeia o drama fosse antecipado, colocado no início do filme, não é impossível que isso levasse o espectador a notar, desde logo, que o aspecto documental, por cuidado que seja, não é o essencial do filme, e sim o acessório. Nem a camaradagem a bordo, nem os jogos de pebolim se relacionam com o centro da questão. A aventura, sim, é o principal.
Até porque logo saberemos que uma plataforma de petróleo não é apenas aquilo que aparece no anúncio, mas um lugar onde a aventura e o perigo se misturam à profissão.
Em dado momento, “O Olho e a Faca” opta pela aventura interior na vida desses profissionais que passam semanas, por vezes meses no mar. O desarranjo começa quando Roberto (Rodrigo Lombardi) é escolhido como gerente da plataforma no lugar de um amigo que esperava (e ao que parece merecia) ocupar o posto.
Roberto é obcecado pela exatidão. Quando volta para casa, na companhia do filho, gosta de mostrar-lhe um fio de prumo. Mas sua vida está um tanto fora de prumo: assim como na plataforma, parece contaminado por problemas que vêm de dentro e de fora. Começa por privilegiar um dos filhos e termina por dar à mulher aquilo que ela não gostaria.
Se “O Olho e a Faca” surpreende pela ambição e pela competência, não deixa de indicar a via dupla do trabalho de Sacramento, como se nele permanecesse a dúvida entre a empreitada experimental e o desejo de responder à necessidade de fazer bem, de impressionar pela exatidão, de manter o filme no prumo.
É evidente que, por conta dessa duplicidade, algo parece faltar para que o longa se afirme como o espetáculo que pretende ser. Assim, se chega a debruçar-se sobre a solidão extrema de Roberto com pertinência, deixa de nos dizer se esse é um caso muito pessoal ou se é parte do modo de vida desses homens-plataforma. Algo que ninguém, aqui no Brasil ao menos (fora do Brasil também não recordo de filme dedicado ao tema), teve a paciência e o sentimento do equilíbrio difícil para mostrar.
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