Desde que deixou a crítica (foi talvez o melhor crítico da geração dos anos 1980 dos Cahiers du Cinéma) para se tornar um dos melhores cineastas franceses, Olivier Assayas tem sido sobretudo um diretor das transformações.
Há o novo que se converte em antigo por força do tempo (a Juliette Binoche de “Acima das Nuvens”), há um mundo que se despedaça por efeito da guerra (“Os Destinos Sentimentais”), há também um continente que decai e vê suas obras de arte e seus filhos tomarem novos rumos (“Horas de Verão”).
Também na política esse sentimento das mudanças está presente. O Maio de 68 foi um momento libertário, mas também um beco sem saída (“Depois de Maio”). O momento de rebelião dos anos 1970 foi o tempo de glória de Carlos, dito O Chacal, que transitou entre América Latina, Europa e Oriente Médio, perseguido por meio mundo, mas seu destino foi se reescrevendo com o correr do tempo. Resultou, em todo caso, em “Carlos”, obra-prima sobre a degeneração dos ideais revolucionários.
Assayas, que está na cidade e ganha retrospectiva nesta 43ª Mostra, parece observar com humor essas transformações decorrentes do tempo. É assim que se passam as coisas em “Irma Vep”, no qual alguém decide refilmar “Os Vampiros”, o célebre seriado mudo de Louis Feuillade. Para o papel que foi no original de Musidora, no entanto, o diretor pretende trazer uma atriz chinesa. Ora, sabe-se que a Musidora de “Os Vampiros” é uma instituição nacional francesa. Como dar o papel a uma atriz chinesa? Foi um espanto para muitos.
Em todo caso, lá estava Maggie Cheung, que se casaria com o diretor e voltaria a filmar com ele no fascinante “Clean”. Esse interesse por outras culturas já existia nos tempos de crítica, quando visitou a China e descobriu um cinema até então ignorado no Ocidente.
Talvez seja essa curiosidade que o leve com frequência a buscar no exterior a vitalidade de atrizes como Kristen Stewart e a própria Maggie Cheung. Ou mesmo a buscar a trama de seu último filme, “Wasp Network”, sobre a rede de espionagem montada por Cuba para monitorar os exilados que, de Miami, buscavam golpear o regime de Fidel Castro.
Retrospectiva Olivier Assayas na 43ª Mostra
Acima das Nuvens
Sils Maria. França/Suíça/Alemanha, 2014. Direção: Olivier Assayas. Com: Juliette Binoche, Kristen Stewart e Chloë Grace-Moretz. 124 min. 14 anos.
Uma atriz experiente é chamada para participar de uma nova montagem da peça que a consagrou. Tensões se instalam quando ela conhece a jovem com quem contracenará.
Água Fria
L’Eau Froide. França, 1994. Direção: Olivier Assayas. Com: Virginie Ledoyen, Cyprien Fouquet e László Szabó. 92 min. 16 anos.
Recém-restaurado, o filme acompanha, ao som de hits do rock dos anos 1970, um casal de adolescentes desencantado e rebelde em um subúrbio parisiense.
Carlos, o Chacal
Carlos. França/Alemanha, 2010. Direção: Olivier Assayas. Com: Édgar Ramírez, Alexander Scheer e Nora von Waldstätten. 330 min. 16 anos.
Cinebiografia de Carlos, o Chacal, terrorista venezuelano que já foi o homem mais procurado do mundo. Entre seus crimes estão atentados e assassinatos cometidos em nome da libertação da Palestina. Com mais de cinco horas de duração e lançada em formato de minissérie, será exibida na íntegra.
Clean
Canadá/França/Reino Unido, 2004. Direção: Olivier Assayas. Com: Maggie Cheung, Nick Nolte e Béatrice Dalle. 111 min. 14 anos.
Considerada culpada pela overdose que matou o marido roqueiro, uma dependente química é presa. Após reconquistar a liberdade, tem de lutar para se aproximar do filho e ficar limpa.
A Criança do Inverno
L’Enfant de L’Hiver. França, 1989. Direção: Olivier Assayas. Com: Clotilde de Bayser, Michel Feller e Marie Matheron. 84 min. 16 anos.
Uma complicada rede de amores não correspondidos em uma companhia teatral acontece durante um longo inverno. Um ator dispensa a namorada grávida para ficar com uma figurinista que, por sua vez, é apaixonada por outro ator da mesma trupe.
Depois de Maio
Après Mai. França, 2012. Direção: Olivier Assayas. Com: Clément Métayer, André Marcon e Lola Créton. 122 min. 16 anos.
Um retrato da juventude do diretor. No filme, um rapaz de 17 anos vive a efervescência política e cultural de Paris após os protestos de Maio de 1968.
Desordem
Désordre. França, 1986. Direção: Olivier Assayas. Com: Wadeck Stanczak, Ann-Gisel Glass e Lucas Belvaux. 88 min. 18 anos.
Na estreia de Assayas como diretor em longa-metragem, três integrantes de uma banda punk em ascensão têm de lidar com consequências indesejadas ao invadirem uma loja de instrumentos.
Eldorado
Idem. França, 2008. Direção: Olivier Assayas. 90 min. 16 anos.
Documentário sobre o encontro do compositor austríaco Stockhausen com o célebre coreógrafo francês Preljocaj, que resulta na criação do balé que intitula o filme. Também será exibido o média-metragem “Stockhausen/Preljocaj (Diálogos)” (2008), do mesmo diretor.
Espionagem na Rede
Demonlover. França, 2002. Direção: Olivier Assayas. Com: Connie Nielsen, Gina Gershon e Chloë Sevigny. 129 min. 18 anos.
Neste suspense erótico, uma jovem executiva é recrutada como espiã para uma empresa que disputa a aquisição de uma tecnologia ilícita de pornografia. Com trilha sonora do Sonic Youth.
Horas de Verão
L’Heure D’Été. França, 2008. Direção: Olivier Assayas. Com: Juliette Binoche, Charles Berling e Jérémie Renier. 103 min. 10 anos.
Com a morte da mãe, três irmãos com vidas distantes têm de decidir o destino da coleção de arte que ela deixou.
Irma Vep
Idem. França, 1996. Direção: Olivier Assayas. Com: Maggie Cheung, Jean-Pierre Léaud e Nathalie Richard. 99 min. 14 anos.
Nesta homenagem à história do cinema francês, uma atriz de Hong Kong é convidada a protagonizar um remake do clássico mudo “Les Vampires”.
Noise
França, 2005. Direção: Olivier Assayas. 105 min. 16 anos.
Documentário experimental sobre o Art Rock Festival, um dos maiores da cena musical francesa, com apresentações de Metric e Sonic Youth, entre outros.
Personal Shopper
Idem. França, 2017. Direção: Olivier Assayas. Com: Kristen Stewart, Lars Eidinger e Sigrid Bouaziz. 110 min. 16 anos.
Uma personal shopper com supostos poderes místicos tenta entrar em contato com o irmão gêmeo, morto recentemente. Venceu o prêmio de melhor direção no festival de Cannes de 2016.
Vidas Duplas
Doubles Vies. França, 2018. Direção: Olivier Assayas. Com: Guillaume Canet, Juliette Binoche e Vincent Macaigne. 107 min. 14 anos.
Um escritor borra a linha entre ficção e realidade ao se inspirar em suas escapadas extraconjugais —uma delas com a mulher de seu editor— para escrever o novo livro.
Comentários
Ver todos os comentários