Da França, atualmente, parece que só nos chegam comédias ligeiras pensadas para atingir um grande público que não está muito disposto a ser desafiado ou a mergulhar em emoções mais profundas.
“Minha Irmã de Paris” é um típico produto dessa fase. Não é ruim, mas é um tanto quanto sem gosto, mais ou menos como o peru sem molho deste Natal.
O filme é puxado pela atriz Mathilde Seigner, cujo sobrenome os mais espertos logo vão reconhecer: trata-se de uma irmã mais nova de Emmanuelle Seigner, mulher e musa de Roman Polanski desde o final dos anos 1980.
Mas não é dessa irmã que o título “Minha Irmã de Paris” fala (Emmanuelle não está na obra). Trata-se de um papel duplo desempenhado por Mathilde, duas gêmeas separadas no nascimento, uma cabeleireira dos subúrbios e uma atriz de filmes sérios da capital.
A história se repete: com personalidades opostas, a pobretona que vive próxima ao povo francês de verdade é feliz. Já a famosa, com a carreira agora claudicante, se embrenha num mau humor terrível e contagiante.
Um botox mal aplicado vai fazer a segunda, secretamente, pedir ajuda da primeira na interpretação do papel principal em uma nova comédia. Julie, a atriz profissional, detesta o riso fácil, mas eis que a cabeleireira Laurette nasceu para isso.
Parte do filme se assemelha à série francesa da Netflix “Dix pour Cent” (ou “Call My Agent”), que mostra o dia a dia de atores franceses às voltas com seus agentes. Isso porque os bastidores da filmagem e as relações com o empresário e com o diretor norteiam grande parte da ação aqui.
Mas tudo o que se imagina de clichês cinematográficos está no roteiro escrito pela também diretora Anne Giafferi. A novata dublê surpreende a todos com seu bom humor e simpatia, mas a outra resolve voltar ao set de filmagem justamente quando tudo está indo de vento em popa.
Ainda que haja uma ou outra solução inteligente no roteiro, a previsibilidade é tamanha que estraga qualquer tentativa séria de rir com essa comédia francesa, um gênero que certamente já viu dias melhores.
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