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Cinema

'O Labirinto', filme de terror com Dustin Hoffman, se enrola até virar beco sem saída

Produção italiana se perde no roteiro e é salva pela atuação de Toni Servillo no papel de detetive

O Labirinto

Hitchcock contava, que certa vez, pensou em fazer um filme na Itália. Mas ele diz que recuou por estar convencido de que os escritores italianos —latinos em geral?— não tinham muita noção de estrutura, o que dificultaria a execução de um suspense policial.

É nesse conjunto de filmes com problemas de estrutura que parece estar “O Labirinto”, escrito e dirigido por Donato Carrisi, baseado num livro dele mesmo. Estamos aqui em uma mistura de terror, terror psicológico e filme policial, dividido quase simetricamente em duas metades.

De um lado, temos o detetive particular interpretado por Toni Servillo procurando o criminoso responsável por sequestros de jovens. Na outra metade, o psiquiatra vivido por Dustin Hoffman busca penetrar na mente de Samantha, uma jovem que foi sequestrada há mais de uma década, período quando viveu encerrada no labirinto que dá título ao filme.

Na primeira dessas partes, que correm paralelas, o detetive se depara com uma série de obstáculos misteriosos, por vezes terríveis, que protegem o criminoso, de quem as raras testemunhas não sabem dizer nem mesmo que aparência têm —ou antes, o personagem esconde o rosto com a fantasia de uma cabeça de coelho.

É, assim, um percurso bem labiríntico. Mas também arriscado, naturalmente, como convém a um bom personagem de filme noir que deriva para o terror.

A segunda metade supõe que Samantha aos poucos se liberte das drogas que turvavam a sua mente e embaralham sua memória, começando a descrever o que se passava efetivamente no labirinto em que andou encerrada.

Enquanto o detetive busca não apenas o homem que faz semelhantes maldades mas também as sombrias motivações que motivaram as ações, o psiquiatra se contenta com as descrições que a vítima faz de sua vida no local. Se contentar não é bem a palavra —tudo se passa num quarto de hospital, sendo que Hoffman informa que há policiais ouvindo o testemunho.

Enquanto a atividade do detetive é objetiva, a busca do psiquiatra parece bem subjetiva. Ele e Samantha não parecem saber quando a moça está delirando e quando não está. A partir disso, tudo se torna possível. O que é imaginação e o que não é? O que houve de real efetivamente? Conhecer esses detalhes todos leva a história a quê?

Ficamos um pouco perdidos nessa elaboração labiríntica, para, ao final da sessão, concluirmos que esse jogo entre real e imaginário constitui ele próprio um labirinto em que o filme se embrenha e de onde só encontra saída graças a uma série de trapaças. Na verdade, é possível chegar a essa conclusão bem antes do fim.

O espectador acaba desfrutando muito mais da busca levada por Servillo, o detetive, que poderia ser o assunto único do filme. A investigação conduzida pelo psiquiatra parece só ter a dimensão que tem porque o ator escalado se chama Dustin Hoffman.

Existe ainda uma outra dimensão no filme —a de jogo, ou quebra-cabeça. Talvez o objetivo seja chegar ao vasto setor do público que se interessa muito mais por jogos de computador do que por intrigas ficcionais. “O Labirinto” pode ser bem-sucedido na busca por esses espectadores —e é possível que eles encontrem mais rigor nas artimanhas do senhor do labirinto do que eu, por exemplo, encontrei.

O certo é que tais artifícios conduzem o filme a perguntas como “será que a vida existe?”. A escolha parece mais uma saída do autor ao labirinto narrativo em que ele se enfiou do que, de fato, uma opção da história.

O fato é que “O Labirinto” só não é um filme aborrecido graças à parte dedicada ao detetive e à boa atuação de Servillo, que é ótimo ator.

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