São Paulo é certamente mais conhecida por ser uma ruidosa selva de pedra do que por sua fauna abundante. Mas tudo pode ser uma questão de mudar o olhar: entre prédios e avenidas movimentadas, a cidade reúne oásis verdes com uma enorme variedade de espécies de pássaros –mais precisamente, 465 (para efeito de comparação, na Itália toda há 390).
Esses dados são catalogados em portais, como o WikiAves e o eBird, por gente que transformou a observação de pássaros em hobby. "O crescimento da atividade na cidade é relativamente recente. O número de observadores aumenta a cada ano, mas foi a partir de meados da década de 1990, quando a máquina fotográfica digital e a internet surgiram, que tivemos um salto. As pessoas gostam de olhar, mas também querem fotografar", diz Luiz Fernando Figueiredo, observador e secretário do Centro de Estudos Ornitológicos de São Paulo, única entidade oficial de "birdwatching" (termo em inglês para a prática) na cidade.
São os registros dos praticantes que alimentam bancos de dados e ajudam os pesquisadores a controlar as espécies. "Se formarmos muitos observadores, teremos um exército de pessoas dedicadas à conservação da natureza", afirma Luciano Lima, ornitólogo do observatório de aves do Instituto Butantan.
A partir desses registros, o "Guia" montou um roteiro dos dez lugares da cidade com maior variedade de espécies –e exemplos de aves para ver em cada local.
O Ibirapuera, casa da marreca-caneleira e de outros 166 pássaros, sai na frente. Mas há outros tantos passarinhos a espiar de norte (no parque Cidade de Toronto) a sul (no Sesc Interlagos) da cidade. Reunimos ainda dicas para os iniciantes e eventos que reúnem praticantes –onde, com certeza, as aves passarão.
PARQUE IBIRAPUERA
167 espécies registradas
Dica: Observe a marreca-caneleira, de coloração marrom e com asas escuras
Com 1,5 milhão de m², o parque é campeão da diversidade de espécies, facilitada pela variedade de ambientes (bosques, gramados, lagos). Explore o entorno do Viveiro Manequinho Lopes, pois o ambiente é tranquilo e dá para registrar aves mais raras.
Av. Pedro Álvares Cabral, Vila Mariana, região sul, s/ tel. Seg. a sex.: 5h às 24h. Sáb. e dom.: 24 horas. GRÁTIS
CIDADE UNIVERSITÁRIA
162 espécies registradas
Dica: Veja o quiriquiri, também conhecido como falcão-americano
Caminhe nas ruas que circundam a Reserva do Matão, ao lado do Instituto de Biociências, para observar as aves que estão dentro da mata. A raia olímpica é um bom lugar para registrar aves aquáticas. Nas áreas mais abertas, é comum encontrar o pica-pau-do-campo.
Rua Alvarenga, Butantã, região oeste, s/tel. Seg. a sex.: 5h às 20h. Sáb.: 5h às 14h. GRÁTIS
PARQUE ANHANGUERA
144 espécies registradas
Dica: Procure a saracura-três-potes, com canto grave e bem alto
Por ser um dos maiores parques da cidade, com quase 1 milhão de m², também registra várias espécies que habitam a mata atlântica –a saracura-três-potes, o falcão-de-coleira e o tangará são exemplos. O parque também conta com um centro de recuperação de animais silvestres.
Via Anhanguera, km 26,5, Vila Sulina, região norte, tel. 3917-2406. Seg. a dom.: 6h às 18h. GRÁTIS
PARQUE DO CARMO
123 espécies registradas
Dica: Admire o besourinho-de-bico-vermelho, espécie de beija-flor
Siga os caminhos pavimentados ao longo do parque e repare nas regiões de mata fechada, onde é possível ouvir e observar as espécies que costumam ficar em matas mais fechadas. No lago, pode-se avistar espécies aquáticas.
Av. Afonso de Sampaio e Sousa, 951, Jardim Nossa Senhora do Carmo, região leste, tel. 2746-5001. Seg. a dom.: 5h30 às 20h. GRÁTIS
INSTITUTO BUTANTAN
99 espécies registradas
Dica: Repare no tucano-de-bico-verde, de papo amarelo e bico esverdeado
"Em metade de uma manhã passarinhando no local, é possível observar de 30 a 40 espécies de aves", diz Luciano Lima, pesquisador do observatório de aves do instituto. O pica-pau-de-cabeça-amarela e o pica-pau-de-banda-branca são comuns por lá.
Av. Vital Brasil, 1.500, Butantã, região oeste, tel. 2627-9300. Ter. a dom.: 9h às 16h45. GRÁTIS (acesso aos museus: R$ 6)
PARQUE BURLE MARX
97 espécies registradas
Dica: Observe o chupa-dente, que pesa menos de 30 gramas
Apresenta boa área descampada e espaço de mata –em ambos é possível observar. Por lá já foi avistada a polícia-inglesa-do-sul (de coloração semelhante ao uniforme de um soldado inglês), comum no sul de Santa Catarina, mas rara na cidade de São Paulo.
Av. Da. Helena Pereira de Moraes, 200, Parque do Morumbi, região oeste, tel. 3776-7497. Seg. a dom.: 7h às 19h. GRÁTIS
SESC INTERLAGOS
92 espécies registradas
Dica: Busque o pavó, raro de encontrar em regiões urbanas
É uma das unidades campestres do Sesc, com 500 mil metros quadrados, áreas verdes e, consequentemente, muitos pássaros. Vale explorar a mata e também o entorno da represa, para registro de espécies aquáticas, como o irerê.
Av. Manuel Alves Soares, 1.100, Parque Colonial, região sul, tel. 5662-9500. Qua. a dom.: 9h às 17h. GRÁTIS
PARQUE CIDADE DE TORONTO
92 espécies registradas
Dica: Espie o suiriri-pequeno, de cabeça e barriga amarelas
O maior atrativo é o lago, onde podem ser vistas espécies aquáticas como o martim-pescador-grande. Há também uma trilha que contorna o fundo do parque, boa para a observação. Perto do lago e do prédio da administração dá para ver também, além das aves, preás, que saem do capinzal para comer a grama.
Av. Card. Motta, 84, City América, região norte, tel. 3834-2176. Seg. a dom.: 6h às 18h. GRÁTIS
PARQUE DO PIQUERI
80 espécies registradas
Dica: Tente achar o saí-andorinha, de pelagem azul (macho) ou esverdeada (fêmea)
Com vegetação de eucaliptos, bambus e bosques, é bastante arborizado. A observação é feita pelos caminhos comuns que os visitantes usam. Espécies como o arapaçu-de-cerrado e o anambé-branco-de-rabo-preto, com cerca de 20 cm, podem ser avistadas.
R. Tuiuti, 515, Tatuapé, região leste, tel. 2097-2213. Seg. a dom.: 6h às 19h. Livre. GRÁTIS
PARQUE DA ACLIMAÇÃO
74 espécies registradas
Dica: Encontre o bico-de-lacre, também conhecido como beijo-de-moça
Com pouco mais de 100 mil m², atrai observadores que buscam aves aquáticas, como o biguá, que mergulha em busca de peixes para se alimentar e permanece um bom tempo embaixo d'água. Na parte inferior do lago, há um brejo onde é possível observar espécies que gostam desse ambiente.
R. Muniz de Souza, 1.119, Aclimação, região central, tel. 3208-4042. Seg. a dom.: 6h às 20h. GRÁTIS
Você não viu, mas eles veem você
Cinco espécies de aves comuns na cidade, mas nem sempre avistadas pelos paulistanos
Alma-de-gato
Vive nas copas das árvores em parques e ruas mais verdes, pois procura, entre as folhas grandes, lagartas –seu principal alimento. É uma ave inconfundível, por causa de sua cauda longa e escura com pontas branquinhas
Corujinha-do-mato
Ao contrário da coruja-buraqueira, geralmente observada em áreas abertas e no chão, a corujinha-do-mato é mais discreta, repousando em copas de árvores densas durante o dia. Seu canto, que lembra o som de um sapo-cururu, pode ser ouvido em praças e ruas arborizadas
Periquito-rico
Sobrevoa São Paulo em bandos barulhentos e é visitante frequente de comedouros. Embora tenha se adaptado bem ao ambiente urbano, a espécie é mais comum na mata atlântica
Pica-pau-de-cabeça-amarela
São Paulo é uma das poucas cidades onde esta espécie de pica-pau, com cabeça amarela e "bochechas" vermelhas, se tornou urbana. Pode ser encontrado em parques e ruas com muitas árvores, sendo mais facilmente percebido pelo seu canto característico: um assobio agudo de duas notas
Saí-azul
Esse pássaro vive discretamente nas copas das árvores. Alimenta-se de néctar, insetos e frutas. Sua coloração azulada, no caso dos machos, e verde, no das fêmeas, o torna um dos mais belos exemplares da cidade
Fonte: Luciano Lima, ornitólogo e pesquisador do observatório de aves do Instituto Butantan
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