Grafites vivem explosão em São Paulo na quarentena; veja roteiro para não se perder

Cidade mistura murais de nomes badalados e novidades que surgiram na pandemia

Em primeiro plano, o 'Homem Urbano', de Tec; no fundo, a obra 'Pindorama', de Rimon

Em primeiro plano, o 'Homem Urbano', de Tec; no fundo, a obra 'Pindorama', de Rimon Eduardo Knapp/Folhapress

São Paulo

Anda cada vez mais difícil encontrar uma empena vazia e cinzenta em São Paulo. Nos prédios da capital mundial do grafite, como ficou conhecida a cidade, nenhuma daquelas paredes livres de janelas parece imune a um banho de tinta —principalmente depois da quarentena.

Basta um passeio no Minhocão para ver no concreto o desenho de um rosto formado por um emaranhado de ruas. Perto dali, criaturas marinhas colorem prédios próximos ao Copan, projetado por Oscar Niemeyer. O arquiteto, aliás, aparece em um retrato de 52 metros de altura pintado pelo artista Kobra num edifício visto da avenida Paulista.

Com museus e galerias de arte fechados, São Paulo funciona como um museu a céu aberto recheado de murais coloridos. Muitos deles são assinados por nomes badalados, como o próprio Kobra, a dupla Osgêmeos, Nina Pandolfo, Crânio, Pri Barbosa, Enivo, entre outros.

E os grafites parecem estar aumentando. Na pandemia, enquanto tudo estava parado e de portas fechadas, as latas de spray não descansaram.

O Festival de Arte Urbana NaLata, por exemplo, entregou no fim de agosto 12 obras de 15 artistas na região do largo da Batata, em Pinheiros.

O ideal por ali é fazer o circuito a pé —e quem sabe emendar uma visita ao Beco do Batman, referência nessa arte.

Também durante a quarentena, o produtor cultural Kléber Pagu e Fernanda Bueno propuseram um projeto de lei para elevar a cidade à categoria de galeria a céu aberto, oficializando como polos culturais 30 pontos conhecidos por abrigar grafites. Entre eles, estão o Beco do Batman, na Vila Madalena, e o Minhocão, na região central.

A proposta foi apresentada na Câmara Municipal pelos vereadores Quito Formiga, do PSDB, Eduardo Suplicy, do PT, e Toninho Vespoli, do PSOL, mas não tem data para ser votada.

O projeto prevê também a manutenção das intervenções, o que proibiria o seu apagamento pela prefeitura —como aconteceu em 2017, quando a gestão Doria cobriu grafites na avenida 23 de maio, entre eles um da dupla Osgêmeos.

A proposta ajudaria também o Museu Aberto de Arte Urbana, inaugurado em 2011 com 66 painéis feitos nos pilares da linha do metrô, entre as estações Santana e Portuguesa-Tietê. Nove anos depois, as obras estão desgastadas e cobertas por lambe-lambes.

Enquanto o projeto de lei não avança, Pagu trava outro embate em relação aos grafites da capital. Em novembro do ano passado, a Justiça suspendeu a pintura do mural “Aquário Urbano”, no centro.
A intervenção pretendia ser a maior do mundo, com 10 mil metros quadrados e 15 prédios, mas foi interrompida porque um dos edifícios não permitiu a pintura.

Mas, mesmo incompleta, já é possível visitar a atração. A seguir, veja um roteiro por grafites novos e consagrados de São Paulo —ideal para quem tem saudades dos museus, mas quer fugir de espaços fechados. É só pegar máscara, álcool em gel e aproveitar.

SE FOR, USE MÁSCARA

‘Aquário Urbano’
Ainda não finalizado, o grafite exibe criaturas marítimas.
R. Mj. Sertório, s/nº, ao lado do Copan, República, região central.

Beco do Batman
Com diversos artistas de renome, a galeria a céu aberto teve início nos anos 1980 e se tornou ponto turístico.
R. Medeiros de Albuquerque, 82-154, Vila Madalena, região oeste.

Cem Minas na Rua
Vinte e duas mulheres grafitam um muro de 150 metros durante a Virada Sustentável.
R. Dr. Avelino Chaves, s/nº, Vila Leopoldina. De 1º a 4/10, das 10h às 18h.

‘A Cidade É Nossa’
Assinado por Rita Wainer, preenche uma empena com uma mulher de punho cerrado.
R. da Consolação, esq. com a pça. Roosevelt, Consolação, região central.

‘Crisálida’
A obra de Luna Buschinelli mostra um mundo distópico.
Vão do Masp - av. Paulista, s/nº, alt. do nº 500, Bela Vista.

O mural 'Crisálida', da artista Luna Buschinelli
O mural 'Crisálida', da artista Luna Buschinelli - Bruna Arcangelo/Divulgação

Minhocão
É uma espécie de drive-thru de grafites —entre eles, o “Homem Urbano”, de Tec, e “Mandela”, de Criola e Diego Moura.
Elevado Pres. João Goulart, s/nº, Santa Cecília.

MAM
A fachada do museu recepciona o público com figuras coloridas da dupla OsGêmeos.
MAM - av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3, Pq. Ibirapuera.

23 de Maio
O mural da dupla Osgêmeos na avenida foi apagado pela prefeitura em 2008, mas foi refeito.
Av. 23 de Maio, próx. ao elevado Pres. João Goulart, Bela Vista, região central.

Museu Aberto de Arte Urbana
O polo foi criado em 2011 nas pilastras da linha de metrô.
Av. Cruzeiro do Sul, 2.611, Santana.

As obras de Gleo (esq.) e Pri Barbosa, que fazem parte do Festival Nalata
As obras de Gleo (esq.) e Pri Barbosa, que fazem parte do Festival Nalata - Divulgação

NaLata
Na primeira edição, festival reúne 15 artistas para grafitarem mais de 3.000 metros quadrados.
R. dos Pinheiros, 1.162, 1.474 e 1.475; av. Brig. Faria Lima, 1.134 e 1.215; r. Artur de Azevedo, 985; r. Capitão Prudente, 151; r. Campo Alegre, 60; r. Teodoro Sampaio, 2.757.

‘Niemeyer’
Kobra assina o painel com o rosto do premiado arquiteto.
Pça. Oswaldo Cruz, s/nº, esq. c/ av. Paulista, Paraíso.

‘O Pensador’
Também de Kobra, o mural exibe a escultura de Rodin.
R. Cel. Luís Americano, 130, Tatuapé.

‘Pindorama’
Feito por Rimon, usa tinta que ajuda na purificação do ar.
R. Sebastião Pereira, 92, Campos Elíseos.

‘Veracidade’
Trabalho mais recente de Mauro Neri, que grafita diversos pontos de São Paulo.
R. da Consolação, 2.223, Consolação.

‘Saudação’
Ainda em produção, o trabalho de Alexandre Orion mescla rostos de pessoas que atuam no combate à Covid-19.
Incor - av. Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 44, Cerqueira César.

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