Paulo Freire, que faria cem anos, ganha exposição sobre sua vida e obra em SP

Mostra no Itaú Cultural tem início neste sábado e reúne fotos, manuscritos e peças originais

São Paulo

Atacado por Jair Bolsonaro, perseguido por bolsonaristas e escolhido o patrono da educação brasileira, Paulo Freire faria cem anos neste domingo, dia 19. Um dos mais importantes educadores do mundo, com métodos que influenciaram diversos países, Freire ganhou uma exposição no Itaú Cultural, em São Paulo. A "Ocupação Paulo Freire" foi aberta ao público neste sábado, dia 18.

Localizada no segundo piso do prédio, a mostra reúne obras de Freire, manuscritos, peças originais, documentos, fotos e vídeos organizados em quatro eixos, que levam os nomes de "Formação", "Angicos", "Exílio" e "Retorno" e passeiam pela vida e legado do educador.

O autor, que morreu em 1997, começou a trabalhar com educação popular em 1947, sendo o diretor de educação e cultura do Sesi, o Serviço Social da Indústria de Pernambuco. Esse foi o mesmo período em que ele começou a desenvolver um método de alfabetização para adultos.

Preocupado com a o nível educacional das pessoas, criou uma proposta de ensino baseada no dia a dia de quem estava aprendendo. Seu objetivo era ensinar aos alunos palavras que eles usavam no cotidiano. Em 1963, na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, Freire alfabetizou mais de 300 alunos em 40 dias.

Apesar da divisão em eixos, a exposição paulistana não obedece exatamente um roteiro. Quem for até lá pode caminhar livremente e traçar seu próprio caminho.

Logo na entrada, é possível ver uma projeção com as páginas manuscritas de “Pedagogia do Oprimido'', um dos livros mais conhecidos do autor. Na obra, ele propõe reflexões sobre a relação entre aluno e professor que teve na época de seu exílio no Chile. Documentos sobre esse período, como as páginas do inquérito policial, também estão disponíveis na exposição.

Freire atuou como Secretário de Educação da prefeitura de São Paulo na gestão de Luiza Erundina; parte do material feito por ele nesta época está exposto
Também há material da época em que Freire atuou como Secretário de Educação da prefeitura de São Paulo na mostra - Agência Ophelia/Divulgação

Na mostra há cerca de 140 peças, sendo algumas delas originais. Valéria Toloi, que fez parte da equipe de curadoria, conta que a reunião desses objetos só deu certo com a ajuda do Instituto Paulo Freire e também de pessoas que o conheceram em vida.

Os originais vão desde o livro do bebê feito pelos seus pais quando ele nasceu e passam por manuscritos e canetas e lápis usadas por Freire. Há também cartas escritas e recebidas, como a enviada por Indira Gandhi, ex-primeira-ministra da Índia.

O local revela ainda que o educador tinha o costume de escrever nas margens de alguns dos seus livros. Algumas das marginálias, como são conhecidas essas notas, também estão expostas. Aldous Huxley, renomado nome de livros ficção científica como "Admirável Mundo Novo", tem um dos livros com anotações de Freire exibido no Itaú Cultural.

No encerramento da mostra, há um mapa animado que mostra todos os lugares do mundo que Freire conseguiu alcançar com suas obras. Há ainda atividades online que complementam a exposição presencial. Uma série de encontros por vídeo chamada "Quartas com Paulo Freire" será transmitida via Zoom às quartas-feiras, de 6 de outubro a 1º de dezembro. Para se inscrever, é necessário acessar sympla.com.br —ainda não há data para abertura das inscrições.

Esta é a 53ª mostra da série “Ocupação” feita pelo Itaú Cultural. A exposição sobre Freire estava sendo planejada desde antes da pandemia, mas precisou ser adiada por causa da Covid-19. Quem for ao evento também pode visitar a "Ocupação Sueli Carneiro", que ocorre até 31 de outubro no térreo do Itaú Cultural.

'Ocupação Paulo Freire'

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas

Ver mais