O que ver na Bienal de São Paulo? Confira mapa com obras imperdíveis desta edição

Com trabalhos de mais de 90 artistas participantes, é fácil se perder

São Paulo

Percorrer uma Bienal de São Paulo pode remeter mais à experiência de correr uma maratona do que a de visitar uma exposição. Afinal, são mais de 90 artistas participantes, com obras que ocupam um pavilhão de quase 25 mil metros quadrados. Isso sem falar nos 14 trabalhos dispersos pelo parque Ibirapuera. Haja sola de sapato.

Digerir tudo isso num só dia é praticamente impossível. Por isso, selecionamos aqui dez momentos-chave da mostra em cartaz agora —seja por sua grandiosidade ou por sintetizarem algumas das propostas centrais desta edição.

Não esqueça de levar um comprovante de vacinação e a máscara. Ambos são necessários para entrar no pavilhão.

1. ‘Entidades’, de Jaider Esbell
As serpentes do artista indígena já tinham chamado a atenção em Belo Horizonte, quando fundamentalistas religiosos a chamaram de demoníacas. Nada disso: elas fazem referência à mitologia dos makuxi, segundo a qual a “cobra grande” é um símbolo de fertilidade e fartura. Vale visitar as esculturas infláveis à noite, quando suas cores brilham.


2. Escultura de Marielle Franco da série ‘Corte Seco’, de Paulo Nazareth
Conhecido por suas andanças —ele estourou nas artes ao caminhar da capital mineira até Miami—, Paulo Nazareth homenageia personalidades que lutaram contra a opressão numa série de esculturas em chapas de metal espalhadas pelo parque. A mais reconhecível delas é Marielle Franco, vereadora carioca assassinada há três anos. Com 11 metros de altura, ela estampa o rosto sorridente e os cabelos crespos que foram elevados a ícone pop no Brasil de hoje.


3. Monotipias da série ‘Boca do Inferno’, de Carmela Gross
As cerca de 150 manchas escuras parece até espelhar o meteorito à sua frente, sobrevivente do incêndio do Museu Nacional em 2018. Mas representam um vulcão prestes a explodir, “esse fogo vital que ao mesmo tempo que destrói regenera possibilidades”, nas palavras da artista.


4. ‘Deposição’, de Daniel de Paula, David Rueter e Marissa Lee Benedict
Uma roda de negociações usada por décadas na Bolsa de Chicago é apresentada na mostra não como um círculo fechado, mas aberto. O trabalho evoca imagens de relações de exploração, já que nesta estrutura eram negociados aos berros preços de grãos como milho e soja, evidenciando a força do sistema financeiro global. A roda recebe ainda vários eventos públicos ao longo do período expositivo.


5. ‘A Carga’, ‘Barril’ e ‘Presunto’, de Carmela Gross
O trio de esculturas de Carmela Gross foi exibido originalmente na Bienal do Boicote, de 1969, quando vários artistas se recusaram a participar da mostra em protesto contra a ditadura. Ao retornar ao Pavilhão em meio à escalada autoritária do governo atual, as obras ganham uma nova leitura, refletindo uma espécie de passado atávico, condenado à repetição. Suas formas se inspiram nas cabanas que os operários que trabalhavam em obras urbanas costumavam construir na rua —mas é difícil não pensar que as lonas ocultam algum tipo de horror.


6. ‘Complexo Atlântico (Corda)’, instalação de Arjan Martins
​Mais conhecido por suas pinturas, povoadas por corpos negros sem rosto, Arjan Martins aposta numa outra mídia ao estender uma corda náutica em formato de triângulo pelo pavilhão. A forma faz referência ao trajeto do comércio de escravos no oceano Atlântico, que unia África, Europa e as Américas. Mas também delimita tematicamente essa parte da mostra, em que fotografias, vídeos e instalações discutem a circulação de pessoas e de mensagens, ontem e hoje.


7. Telas de Antonio Dias e esculturas de Hanni Kamaly
Esta talvez seja a sala mais sombria de uma Bienal já bem carregada. As esculturas esqueléticas de metal da artista norueguesa levam nomes de pessoas executadas pelo Estado, e parecem estar prestes a se desmontar. Ao redor delas, os quadros negros com palavras soltas de Dias são o que ele chamou de “arte negativa para um país negativo” —feitas a partir de 1968, elas fazem alusão à ditadura no Brasil.​


8. Sala com associações livres
A seção traça paralelos entre trabalhos de uma série de artistas, simulando o próprio processo de construção da Bienal, segundo os curadores. Entre os destaques, estão cartas do baiano Juraci Dórea que lembram iluminuras medievais. E as telas do italiano Giorgio Morandi, mestre da natureza-morta que pintou os mesmos vasos, copos, garrafas por anos a fio.


9. ‘Nos Erguemos ao Levantar Outras Pessoas’, instalação de Marinella Senatore com o grupo britânico Esprit Concrete
A italiana e o grupo de parkour britânico se uniram numa obra dividida em duas partes: uma grande roda luminosa presa ao teto, que lembra um brinquedo de parque de diversão, onde se lê “nos erguemos ao levantar outras pessoas”, e uma instalação com alguns monitores no chão. Ali, passam vídeos de oficinas de movimentos do corpo realizadas com moradores da Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo. A ideia é que os visitantes se inspirem e copiem esses movimentos.


10. ‘The Re(a)d Forest’, instalação de Zina Saro-Wiwa
Apesar do tom lúgubre, esta Bienal prega que um dos modos de adiar o fim do mundo é resgatando o saber dos povos originários. É o que faz a nigeriana Zina Saro-Wiwa, que cria uma espécie de floresta cujos troncos são feixes de luz vermelha. O visitante pode então entrar nelas, tornando-se, ele mesmo, árvore.

34ª Bienal de São Paulo – 
Faz Escuro Mas Eu Canto

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