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Portinari e Van Gogh ganham mostras instagramáveis em SP sem obras de verdade

Novas exposições tecnológicas inspiram público a 'entrar nas obras' dos artistas

Silhueta de pessoa em sala escura com projeções de obras de Portinari

Mostra 'Portinari para Todos', exposição imersiva sobre o artista moderno no MIS Experience Ronny Santos/Folhapress

São Paulo

A caricata série "Emily em Paris" explorou uma febre internacional, a das exposições imersivas. Longe das obras clássicas do Louvre e do Museu d'Orsay, a patricinha americana vive parte de seu drama amoroso numa mostra de Vincent van Gogh que transforma suas pinceladas enérgicas em projeções animadas gigantes.

Personagens da série 'Emily em Paris' visitam exposição imersiva inspirada na obra de Vincent Van Gogh
Personagens da série 'Emily em Paris' visitam exposição imersiva inspirada na obra de Vincent Van Gogh - Stephanie Branchu/Netflix/Divulgação

O formato, que vende a proposta de "estar dentro da obra", já chegou ao Brasil em exposições como a de Leonardo Da Vinci e agora ganha um reforço com duas aberturas em São Paulo, no mês de março.

A primeira delas é "Portinari para Todos", no MIS Experience —e o espaço dedicado especificamente a esse tipo de atração mostra que o negócio veio para ficar.

Como é praxe nesse tipo de exibição, há uma sala com projeções imensas, mas não só. Também fazem parte do percurso a montagem de um ateliê com reproduções de pinturas e alguns objetos do artista, além de maquetes de espaços que abrigam suas obras —algo que seu filho e diretor do Projeto Portinari, João Candido Portinari, chama de apresentação da herança ética e humanista do pai.

"Nenhum artista brasileiro pintou 5.000 obras e nem a diversidade do Brasil como Portinari", afirma o organizador da mostra, Marcello Dantas.

O trabalho de documentação feito pelo Projeto Portinari e a quantidade de obras são importantes para uma mostra dessas, que requer imagens em boa resolução para uma tecnologia de ponta.

Para o organizador, esse formato revela dados de pinturas e murais que não podem ser vistas nos formatos tradicionais. É o caso do destaque em projeções de moringas, baús e cordas, elementos que aparecem com frequência no trabalho de Portinari —mas num tamanho diminuto.

"Portinari para Todos" é anunciada como "a mais completa mostra já realizada sobre o artista", com 150 obras do pintor. Mas nenhum desses trabalhos está, de fato, pendurado nas paredes do local.

"A gente tinha acesso a obras originais, mas não é uma mostra sobre isso. A preocupação aqui é como a gente vai falar de Portinari daqui a mil anos", defende o organizador. "É importante ser popular e acessível."

Dantas afirma que a atração não foi pensada para ser instagramável. Ainda assim, há frases de Candido Portinari estampadas na parede —e que o organizador diz que mostram que o pintor daria um ótimo tuiteiro— e painéis que permitem ao público se ver como se estivesse em uma de suas obras.

O nível espetaculoso das experiências imersivas norteia ainda mais a "Beyond Van Gogh", a mesma que Emily visitou em Paris e que chega ao MorumbiShopping no dia 17.

Isso porque a ideia de experiência também guia uma programação com aulas de ioga, café temático e até um pacote romântico com drinque, almofada e chocolates para casais.

Van Gogh, aliás, tem inspirado uma série de mostras desse tipo, como as "Immersive Van Gogh" e "Van Gogh: The Immersive Experience". E os números impressionam —10 milhões de pessoas já visitaram "Beyond Van Gogh", enquanto no Brasil 20 mil garantiram ingressos antecipados, segundo a organização.

Rafael Reisman, CEO da Blast Entertainment, que organiza a atração, afirma que a montagem tecnológica pode despertar interesse pela arte nos que não têm costume de ir ao museu e estão o tempo todo com a cara no celular.

Mas mostras imersivas não são uma exclusividade do século 21. Uma reportagem do New York Times lembra que instalações com vários projetores já ocorriam nos anos 1960. O que parece ter mudado não são as imagens lançadas na parede, mas os celulares na mão do espectador —e que inclusive aparecem em mostras afeitas a selfies, como as instalações de Yayoi Kusama no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.

É mais difícil imaginar, no entanto, uma conexão íntima com os artistas no suor de uma aula de ioga ou na repetição de um formato de projeções. Mas, quem sabe, esses traços e gestos agigantados capturem o público também para outros universos.

Portinari para Todos

Beyond Van Gogh

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