Galerista, Igi Ayedun atua para transformar a cena da arte negra

Aos 34 anos, ela também abre caminho na indústria para artistas mulheres e da comunidade LGBTQIA+

São Paulo

Quando foi fundada, há cinco anos, a galeria de arte Hoa trilhou um caminho pouco explorado: apresentar e comercializar obras de artistas negros, mulheres e da comunidade LGBTQIA+.

Agora, muitas outras "galerias são um pouco da Hoa, porque artistas que expuseram aqui passaram a ocupar esses outros lugares", diz Igi Lola Ayedun, 34, fundadora do local. Artista multimídia, ela é negra, assim como sua equipe, que também é composta por profissionais de outras minorias.

A imagem apresenta uma mulher sentada, com cabelo longo e liso, usando uma blusa preta com um recorte no peito e calças claras. Ela está olhando diretamente para a câmera, com uma expressão séria, em um fundo neutro e claro.
Artista multimídia Igi Lola Ayedun - Wallace Domingues/Divulgação

Hoje chamado Horizon of Arts, o espaço funcionava como ateliê da artista e expandiu sua vocação durante a pandemia. Na época, a Hoa participou de uma versão online da SP-Arte e, três anos mais tarde, de outra no Pavilhão da Bienal.

Naquele momento, em 2023, a ideia era manter as exposições na galeria e implantar uma instituição que funcionasse como ambiente de expressão e desenvolvimento para artistas. Foi quando Ayedun recebeu o diagnóstico de um câncer.

"O maior desafio foi minha saúde. Estou em remissão agora, mas passei por um tratamento agressivo durante um ano e meio e ainda tenho sequelas dele", diz.

Agora, a Hoa vai funcionar mais da porta para dentro, como uma espécie de incubadora de desenvolvimento. A ideia é abrir para o público sazonalmente. "Tiramos um pouco o caráter de exposição para nos tornar um lugar mais de processo."

Mas a história de Ayedun não se resume apenas à gestão da galeria. Durante sua adolescência, trabalhou como ajudante na editora Abril, para depois se tornar jornalista e designer, voltada à cobertura de arte, moda e cultura.

Ayedun nasceu no bairro paulistano do Brás. Sua família é uma das fundadoras da escola de samba Colorado do Brás, formada por moradores da região.

Foram seus pais, aliás, que apresentaram a ela a militância do movimento negro. Com samba no pé desde o berço, só não desfilou neste ano na agremiação, que faz parte do Grupo Especial de São Paulo, por causa de sua recuperação.

A saúde também mudou a forma com a qual a artista faz as próprias obras. "Passei a entender que podemos utilizar a arte como ferramenta de mudança para que de fato se possa transformar a comunidade, não apenas fazer arte que corresponde à ideia de inclusão no mercado."

Além da ocupação na Hoa, Ayedun também já expôs seu trabalho pessoal em espaços como o
MIS, a Pinacoteca de São Paulo, o Instituto Tomie Ohtake e na área de exibição do Christie’s Rockefeller Plaza, em Nova York.

"Não consigo mais fazer arte para pendurar na parede ou para se guardar em casa", afirma. Em junho, Ayedun tem programada a montagem de uma obra flutuante na mostra "Águas Abertas", que traz intervenções artísticas no rio Pinheiros, na região oeste da capital paulista.

Galeria HOA

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