Descrição de chapéu LGBTQIA+
Teatro

Vencedora do prêmio Shell, Verónica Valenttino explora os limites da arte

Atriz e cantora trans está em peça dirigida por Felipe Hirsch e fará show no Sesc Bom Retiro

São Paulo

Verónica Valenttino nasceu no porão do Theatro José de Alencar, em Fortaleza, aos 21 anos. Era noite de apresentação do espetáculo "Cabaré das Travestidas", na qual a atriz trans performava canções. "Eu lembro dessa situação de me encontrar comigo mesma ali no palco. Foi meu nascimento como Verónica", diz.

Verónica foi a primeira mulher trans a receber o prêmio Shell na categoria de melhor atriz, em 2023, por seu papel em "Brenda Lee e o Palácio das Princesas" em São Paulo. No mesmo ano e pelo mesmo trabalho, levou também o prêmio Bibi Ferreira, importante no nicho de teatro musical.

A imagem mostra uma mulher com cabelo loiro e ondulado, usando um lenço colorido na cabeça. Ela está vestindo uma blusa escura com detalhes em camadas e possui vários brincos grandes. A mulher tem tatuagens visíveis nos braços e um olhar sério, posando em frente a um fundo preto.
A atriz e cantora Verónica Valenttino nasceu em Fortaleza, Ceará, onde começou carreira artística - Helena Wolfenson/Divulgação

O musical que lhe rendeu o reconhecimento recente retrata a vida de Brenda Lee (1948-1996), uma ativista conhecida como "o anjo da guarda das travestis" por ter criado, nos anos 1980, uma casa de apoio às pessoas com HIV.

Não foi a primeira e nem a última vez que Verónica interpretou papéis LGBTQIA+, o que ela considera uma limitação, mesmo ressalvando a importância de levar a causa aos palcos.

Hoje, está em cartaz em "Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso", do diretor Felipe Hirsch, no Teatro Sesi-SP. A peça tem como protagonista a via e as vidas que passam todo dia por ali. Por isso, não há um papel designado para cada ator ou atriz. "Não existe um sublinhar em cima da minha persona por ser travesti. Estou lá simplesmente exercendo minha vocação de atriz."

Quando isso for naturalizado, diz ela, a presença e a permanência de pessoas trans no meio artístico será menos limitada.

A atriz e cantora teve contato com o teatro e a música desde a infância, na igreja evangélica que a família frequentava em sua cidade natal, a capital cearense.

Quando entrou no curso de artes cênicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), se afastou de seu primeiro palco. "Fui fazer a faculdade com o pensamento de levar tudo que eu aprendesse à igreja. Até ser fisgada pela própria arte. A igreja não aceitou muito bem minha escolha por artes cênicas."

A artista seguiu atuando com o coletivo As Travestidas, dirigido por Silvério Pereira, e cantando com a banda de rock criada por ela, Verónica Decide Morrer. Foi guiada pela música que ela se mudou para o Sudeste e aqui segue atuando nas duas frentes.

Além da peça, Verónica também vai fazer o show "Travessia" no Sesc Bom Retiro, cantando músicas de Belchior e Ednardo, além de composições autorais. Em breve, estreará no streaming Max na produção "Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente", de Marcelo Gomes.


Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso
Dir.: Felipe Hirsch. Com: Amanda Lyra, Aretha Sadick e Verónica Valenttino. 16 anos. Teatro do SESI-SP - Centro Cultural Fiesp - av. Paulista, 1.313, Bela Vista, região central. Até 29/6. Qui. a sáb., às 20h. Dom., às 19h. Grátis, com reserva antecipada em sesisp.org.br

Travessia!
Sesc Bom Retiro - al. Nothmann, 185, Campos Elíseos, região central. 10 anos. Sex. (14), às 20h. Ingr.: a partir de R$ 18 em sescsp.org.br ou bilheterias Sesc

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