'#MinhaFuga' joga espectador no meio da crise de refugiados

Sem sair da Alemanha, a documentarista Elke Sasse conseguiu compilar registros inéditos, crus e imediatos das jornadas de vida e morte de 15 dos cerca de 1 milhão de refugiados que entraram em seu país no ano de 2015.

Vindos da Síria, do Afeganistão e de Eritreia, os personagens de "My Escape" têm em comum o desespero que os legou à fuga da terra Natal conflagrada e a narrativa do longo e penoso trajeto até o Estado mais rico da Europa, para o qual convergem seus sonhos e esperanças, em filmetes de celular.

Para estes médicos, estudantes e músicos convertidos todos em candidatos a refúgio, o aparelho celular é ferramenta indispensável do percurso. É por meio do aparelho que eles tanto tratam com os indispensáveis atravessadores das redes de tráfico humano como é com ele que informam amigos e parentes de sua situação, com telefonemas ou postagem de fotos e vídeos em redes sociais.

Cena de '#MinhaFuga', que reúne vídeos de celular feitos por refugiados durante fuga para a Alemanha
Cena de '#MinhaFuga', que reúne vídeos de celular feitos por refugiados durante fuga para a Alemanha - Divulgação


Além de permitirem aos personagens do filme o protagonismo de suas histórias, as imagens captadas pela câmera dos aparelhos ganha, no filme, outra função.

Num tempo em que não é raro acompanharmos pela pequena tela do celular uma ação que se desenrola diante de nós -para guardá-la ou compartilhá-la-, assistir à sequência de registros pessoais neste formato cria a ilusão de estarmos, também nós, em cena.

É, portanto, por meio de imagens amadoras, tremidas, fora de quadro e, muitas vezes, furtivas que o espectador é lançado a viagens dramáticas de gente como o estudante Omar Al Sawadi, 21, que fugiu de Deir Al-Zor, na Síria, depois que o pai foi assassinado por integrantes do Estado Islâmico. Ou da adolescente afegã Toba, 15, ameaçada por um casamento forçado com um integrante do Taleban. Ou ainda do cantor de Eritreia Wedi Kishi, que pagou traficantes líbios para chegar ao barco que o levaria à ilha italiana de Lampedusa, mas que teve de enterrar, no deserto do Saara, os corpos de companheiros de fuga.

O acesso a esses registros e vídeo-selfies, bem como às entrevistas que os complementam, realizadas já longe dos perigos do percurso, é evidência de que estes 15 refugiados tiveram melhor sorte que os milhares de conterrâneos que ficaram pelo caminho. Nem assim é menor a agonia de acompanhar seu martírio.

São dias de deserto, a pé ou empilhados na caçamba de 4X4 dos traficantes. Tensas negociações com atravessadores armados. Viagens claustrofóbicas trancados no baú de caminhões. Dias escondidos numa floresta costeira da Turquia, aguardando o bote que os levará para a União Europeia, na travessia que virou ícone da atual crise humanitária de refugiados por meio da imagem do corpo, emborcado na areia, do menino sírio Aylan Kurdi, de apenas três anos.

A partir das areias da Grécia ou da Itália, eles ainda enfrentam caminhadas exaustivas, barreiras policiais e fronteiras cerradas até receberem, enfim, já em seu destino final, o primeiro "bem-vindos" da jornada.

Confira toda a programação no site do "Guia" da Mostra.

#MINHAFUGA (#MYESCAPE)

DIREÇÃO Elke Sasse

PRODUÇÃO Alemanha, 2015, livre

QUANDO qui. (20), 20h10, CCSP - Lima Barreto; qua (26), 17h, Cine Olido; qui. (27), 17h30, Frei Caneca 1; sáb. (29), 15h15, Frei Caneca 6; dom. (30) 16h30, MIS

AVALIAÇÃO muito bom

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