Dizer que algum filme não deveria existir é demasiadamente forte. Mas certos filmes chegam muito perto de merecer esse tipo de afirmação.
É o caso de "Zoology", segundo longa de Ivan I. Tverdovsky, incrivelmente vencedor do prêmio especial do júri no tradicional e prestigiado Festival de Karlovy Vary, na República Tcheca.
Natasha é uma mulher de meia idade que mora com a mãe, uma fanática religiosa, e trabalha em um zoológico numa pequena cidade no litoral russo. Suas colegas de trabalho parecem saídas da antessala do inferno, tamanha a disposição delas para os atos mais vis e cruéis.
Num belo dia, Natasha descobre que um rabo cresceu em seu corpo. Talvez ela preferisse se transformar numa barata, tal Gregor Samsa em "A Metamorfose". Mas sua história é menos trágica. Ela até passa a aceitar o apêndice.
Apaixonada pelo médico que a examinou, ela atravessa um período de felicidade com ele, dançando e se divertindo com a hipocrisia da sociedade ao redor.
Em uma sequência inacreditável de tão ruim, as pessoas fogem de Natasha como se ela fosse uma assombração.
Poderia ser uma fábula sobre a aceitação do outro, na linha de "Nasce um Monstro" (1974), de Larry Cohen. Ou uma crítica à sociedade russa atual, como em "Leviatã" (2014), de Andrey Zvyagintsev.
Isso se não fosse filmado de modo tão indigente, com cenas que demonstram uma ideia completamente infantil da humanidade (não cruel, como em Fritz Lang, nem questionadora, como em Buñuel).
A câmera na mão não sabe bem o que mostrar. Movimenta-se o tempo todo e não olha para nada. Os cortes são aleatórios, não respeitam o tempo das atuações.
"Zoology" é mesmo um dos três ou quatro piores filmes que vi este ano. Uma aula de como não se fazer cinema.
Confira toda a programação no site do "Guia" da Mostra.
ZOOLOGY
(Zoologiya)
DIREÇÃO Ivan I. Tverdovsky
ELENCO Natalya Pavlenkova, Masha Tokareva, Dmitriy Groshev
PRODUÇÃO Rússia/França/Alemanha, 2016, 16 anos
QUANDO 22h, na Cinesala
AVALIAÇÃO ruim
Comentários
Ver todos os comentários