Na imagem de arquivo, dos anos 1980, um quase adolescente Marco Archer diz que não teme morrer, logo após ter sido resgatado de um acidente com asa delta no Rio. Sentenciado por tráfico de drogas na Indonésia, em 2004, Archer aguardou por 11 anos no corredor da morte até ser fuzilado, no ano passado.
A história do brasileiro executado pela pena capital no arquipélago asiático é destrinchada em Curumim, documentário dirigido por Marcos Prado (Estamira) que faz parte da programação da Mostra de São Paulo.
O que conduz o filme são imagens clandestinas feitas por Archer, o Curumim, dentro da prisão, em Cilacap, a 400 km de Jacarta. Prado alterna depoimentos de amigos, colegas de cadeia e imagens de arquivo que contam a trajetória do carioca festeiro que não queria ser lembrado como o primeiro brasileiro condenado à morte no exterior.
Na cela compartilhada, tomada por pôsteres da baía de Guanabara, fotos de Dilma Rousseff e Maria Sharapova, Curumim mostra-se arrependido do crime, faz imitações de Michael Jackson e aponta a câmera para outros presos, terroristas islâmicos, a turma do Bin Laden, como diz.
Ele é que colocou a câmera lá. Fiquei preocupado que complicasse a situação dele, diz Prado, que também gravou conversas telefônicas semanais que eles travaram.
Por meio de cartas, Curumim rememora a sua turma de surfistas que nos anos 1970 circulavam entre o píer de Ipanema e o Arpoador, na zona sul do Rio, e o primeiro baseado, que fumou com Petit, inspiração da música Menino do Rio. Depoimentos de ex-parceiros reconstituem sua vida traficando cocaína nos Estados Unidos e na Europa a partir dos anos 1980, ocupação que ele dividia com os voos de asa delta.
Foi dentro dos tubos desses equipamentos que a polícia alfandegária indonésia encontrou 11 quilos de cocaína. Curumim conseguiu fugir do aeroporto numa escapada cinematográfica até ser achado, dias depois, numa ilha. O suborno, mostra o filme, o teria livrado da execução.
Tudo ali é muito corrupto. Só consegue entender a doideira toda quem viu O Ato de Matar, diz o diretor, citando o premiado documentário de Joshua Oppenheimer que aborda a atuação de esquadrões da morte na Indonésia.
Num dos momentos mais pesados, Curumim reconstitui a execução de Archer. O governo brasileiro não fez muita coisa por ele, diz Prado. Uma indonésia chegou a ser presa por tráfico no Brasil e não se tentou trocar os prisioneiros. Foi uma vergonha.
Confira toda a programação no site do "Guia" da Mostra.
CURUMIM
DIREÇÃO Marcos Prado
PRODUÇÃO Brasil, 2016, 10 anos
MOSTRA 24/10, 18h (Reserva Cultural 2), 28/10, 21h30 (Cinemark Cidade São Paulo)
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