Os que preferem a concentração em vez da dispersão já sabem que as retrospectivas reúnem os títulos mais raros e oferecem oportunidade única para mergulhar nos meandros de uma obra. Esses não podem deixar passar batido a reunião dos 13 títulos do bielorrusso Sergei Loznitsa, em cartaz na Mostra de Cinema. Seus filmes, feitos a partir de 1996, mapeiam a vida na Rússia pós-soviética com a agudeza dos grandes romancistas do século 19.
"Vida, Outono", segundo título de uma carreira iniciada no documentário, registra os hábitos de uma aldeia russa na qual não há jovens e projeta a memória de um tempo em apagamento.
A suspensão temporal como símbolo de transformações que só ocorrem na superfície se revela em cada longuíssimo segundo de "A Estação de Trem". A partir desse trabalho, confirma-se o poder de Loznitsa de conectar o passado e o presente com parábolas políticas disfarçadas sob aparentes banalidades cotidianas, como em "Retrato", "Paisagem" e "Fábrica".
Em "Bloqueio" e em "Cinejornal", Loznitsa recorre a imagens de arquivo para extrair o futuro imaginado no passado, um dinamismo que se contrapõe à paralisia da história contemporânea.
A passagem do cineasta para a ficção com "Minha Felicidade" agregou intensidade documental ao pessimismo, oferecendo uma imagem degradada da natureza. "Na Neblina", prêmio da crítica no Festival de Cannes deste ano, avança no território da ficção com um episódio da resistência à ocupação alemã na Bielorrússia na Segunda Guerra. A ver se corresponde aos êxtases dos críticos que o equipararam ao insuperável "Vá e Veja", de Elem Klimov.
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