'Dolores' leva modernidade ao classicismo do romance

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Dolores (Emilia Attias) retorna à Argentina para cuidar do sobrinho depois da morte da irmã - Divulgação

Para quem se acostumou com os filmes do chamado nuevo cine argentino, "Dolores" será uma surpresa.

Em vez de um drama contemporâneo e urbano (como os da parceria entre Juan José Campanella e Ricardo Darín), o diretor Juan Dickinson (Destino Anunciado) oferece um romance clássico, passado em uma Argentina rural durante a Segunda Guerra.

A protagonista Dolores (Emilia Attias) é uma mulher forte e financeiramente independente. Quando sua irmã morre, ela retorna da Escócia para ajudar a cuidar do sobrinho de oito anos.

Em seu país, ela reencontra o cunhado Jack (Guillermo Pfening), fazendeiro de origem inglesa que foi o amor da sua adolescência e agora se encontra atormentado pela morte da mulher e pelas dívidas da fazenda.

A chegada de Dolores eleva o moral, as finanças e a libido de Jack, e os dois iniciam um caso secreto sob o olhar desconfiado da irmã dele, Florrie (Mara Bestelli).

As coisas se complicam quando Octavio (Roberto Birindelli), fazendeiro vizinho descendente de alemães, se apaixona por Dolores e passa a cortejá-la.

Ecoando o embate entre Inglaterra e Alemanha na Segunda Guerra, Jack e Octavio passarão a disputar o amor de Dolores.

Está armado o cenário para um romance à beira do melodrama, que nos remete a Casablanca e outros filmes clássicos. É uma opção estética arriscada para a sensibilidade do espectador contemporâneo.

Mas "Dolores" consegue vencer essa aposta no classicismo graças a alguns fatores. Em primeiro lugar, por causa da segurança narrativa de Dickinson (embora, às vezes, seu domínio de linguagem se aproxime do academicismo).

Em segundo, e talvez mais importante, pela escolha de Emilia como protagonista. Ela é uma estrela de cinema, daquelas por quem a câmera se enamora, e sua beleza atemporal torna crível a disputa amorosa que está no centro do filme.

"Dolores" ainda consegue entregar um final surpreendente, algo que a condução convencional da trama não permite prever. Neste filme tão clássico, a pitada final é definitivamente moderna.

Avaliação: bom

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