Genocídio na Primeira Guerra é pano de fundo pouco explorado em 'A Promessa'



Vampirizar as tragédias históricas e reduzir seus horrores à função de cenário para dramas redentores é uma especialidade que exige despudor.

Terry George é mais um desses realizadores prontos a extrair a última gota de sangue dos cadáveres para distrair o público que se conforta ao consumir entretenimento temperado com sentimentos de indignação.

Depois de explorar a memória dos militantes do IRA em "Mães em Luta" (1996) e o massacre dos tutsi em "Hotel Ruanda" (2004), o diretor e roteirista irlandês reconstitui em "A Promessa" o genocídio armênio pelos turcos durante a Primeira Guerra Mundial, matança histórica que antecipou o Holocausto e que, em mais de um aspecto, se equipara à executada pelo nazismo.

George é adepto do cinema histórico baseado em efeitos espetaculares, o que quer dizer movido a grandes golpes do destino e a imagens embelezadas. "A Promessa" entrega isso na forma de um roteiro estruturado sobre muitas reviravoltas e de cenários virtuais que reconstituem a Constantinopla de outrora, em que até o crepúsculo brilha falso.

Charlotte Le Bon, Oscar Isaac e Christian Bale formam o trio romântico de 'A Promessa' *** ****
Charlotte Le Bon, Oscar Isaac e Christian Bale formam o trio romântico de 'A Promessa' - Divulgação

A contemplação desse tipo de imagem não dá mais ao saudosista a chance de se extasiar, pois agora ela só ostenta a perfeição tecnológica.

Assim como sua cenografia, o contexto histórico no qual ocorreu o apagamento deliberado dos armênios equivale a esse tipo de imagem, é um pano de fundo sem profundidade.

A redução do conflito a ataques dos poderosos turcos aos indefesos armênios é usada como justificativa, enquanto o filme se detém numa trama que considera mais importante: acompanhar a historinha de um trio amoroso formado por um jovem médico idealista, uma garota europeizada e um intrépido jornalista americano.

Os adeptos desse tipo de filme argumentam que o uso de uma estética antiquada não deve ser criticada porque mais importante é provocar no espectador uma reação construtiva, uma tomada de consciência da tragédia histórica. Mas será que o público de longas como "A Promessa" se comove com algo além de sua trama romanesca?

Avaliação: ruim
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