Bienal se espalha por museus e galerias de São Paulo em exposições paralelas

Conheça dez mostras que dialogam com o principal evento de arte da cidade

'Tim by the Door', de Mauro Restiffe, na Fortes D’Aloia & Gabriel (34ª Bienal)

'Tim by the Door', de Mauro Restiffe, exibida em mostra na Fortes D'Aloia & Gabriel Divulgação

São Paulo

Quando foi convidado para participar da 34ª Bienal de São Paulo, o equatoriano Adrián Balseca recebeu a proposta de ocupar também um dos espaços da rede Museu da Cidade de São Paulo. Após visitar a Capela do Morumbi, o Beco do Pinto, a Casa do Grito e a Cripta Imperial, o artista elegeu a Casa do Sertanista para sua intervenção.

A escolha não foi aleatória —a sede, no bairro Caxingui, abrigou, no fim dos anos 1980, a Embaixada dos Povos da Floresta. Ele não imaginava, porém, que a Covid-19 surgiria em seguida e faria com que a obra fosse pensada a distância, no jardim de sua casa, enquanto observava a queda no preço do petróleo com a chegada da pandemia. O que se vê agora na Casa do Sertanista é uma junção desses pontos. A instalação, já aberta ao público, é um arquipélago de plantas amazônicas cultivadas dentro de latas descartadas pela indústria petroquímica.

oito latas da indústria petroquímica com mudas de planta dentro espalhadas por um cômodo
'Plantasia Oil Company' de Adrián Balseca na Casa do Sertanista - Monica Caldiron/Divulgação

Mas se a Covid alterou os rumos da produção artística nesta Bienal, ela influenciou também a própria programação do evento de arte, marcado inicialmente para 2020, mas que tem início oficial neste sábado, dia 4 (saiba mais em 34.bienal.org.br/sobrea34). Um dos pontos centrais da curadoria era ampliar a duração da programação não só no tempo, mas no espaço, construindo uma rede de exposições paralelas.

Isso vingou, e o projeto se espalha por São Paulo —tanto em museus quanto em galerias, com mostras de artistas participantes abertas também longe do prédio da Bienal, no Ibirapuera. Confira abaixo dez delas.

Moquém_Surarî
Com curadoria de Jaider Esbell, integrante da 34ª edição da Bienal, a mostra reúne trabalhos de artistas dos povos baniwa, guarani mbya, huni kuin e yanomami, entre outros, e pretende apresentar traduções visuais das cosmovisões dessas sociedades. Entre as peças selecionadas, há desenhos de Ailton Krenak, pinturas de Jaider Esbell, além de fotografias de Sueli Maxakali e Arissana Pataxó e um vídeo de Denilson Baniwa.
MAM - pq. Ibirapuera, av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3. De 4/9 a 28/11. Ter. a dom., das 10h às 18h. Grátis. mam.org.br


Parade
Em sua primeira viagem ao Brasil, em fevereiro do ano passado, a japonesa Yuko Mohri ficou impressionada com o emaranhado de cabos pelos postes e os preparativos para o Carnaval. Foi a partir disso que ela criou uma espécie de máquina que ressignifica objetos —feita com uma placa de prototipagem eletrônica, ela lê os desenhos de uma toalha de mesa estampada com frutas coloridas e os traduz em correntes elétricas que provocam reações inesperadas.
Japan House - av. Paulista, 52, Bela Vista. Até 14/11. Ter. a sex., das 10h às 17h; sáb. e dom., das 9h às 18h. Grátis. japanhousesp.com.br


Lamento das Imagens
Com curadoria de Moacir dos Anjos, a mostra reúne obras realizadas nas últimas quatro décadas de atividade do chileno Alfredo Jaar. Os trabalhos exploram o que o artista chama de “política das imagens” e problematizam formas de controle social e a manutenção de desigualdades. Na instalação "The Sound of Silence", de 2006, por exemplo, Jaar reflete sobre a imagem do fotojornalista sul-africano Kevin Carter que registra uma garota faminta no Sudão observada por um abutre
Sesc Pompeia - r. Clélia, 93. Até 5/12. De ter. a sex., das 14h às 20h; sáb. e dom., das 11h30 às 17h30. Grátis. sescsp.org.br/exposicoes

instalação artística
'Sombras', instalação de Alfredo Jaar de 2014 exibida na sua mostra no Sesc Pompeia - Divulgação

Frida Orupabo
Em suas colagens, a artista nigero-norueguesa mescla fotografias de seu arquivo pessoal a imagens disponíveis na internet para construir narrativas sobre raça, gênero, identidade e sexualidade. As camadas de papéis sobrepostas, em uma composição artesanal, tornam evidentes os processos de objetificação e violência entre mulheres negras.
Museu Afro Brasil - pq. Ibirapuera, av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 10. Até 5/12. De ter. a dom,
das 10h às 17h. Ingr.: R$ 15. Grátis às quartas. museuafrobrasil.org.br


Arquivo / O Lugar do Trabalho
A exposição traz notas, projetos, cadernos e publicações sobre obras de Antonio Dias, permitindo ao público acompanhar o seu processo de pensamento. Assim, ao lado de “Trama”, álbum de 1977 com
11 gravuras, por exemplo, é possível conferir um papel do Nepal, utilizado como suporte dessa obra, além das próprias matrizes xilográficas. A mostra conta ainda com a instalação "Do It Yourself: Freedom Territory", de 1968, e peças como "O Lugar do Trabalho", de 1977, que dá título à individual.
Instituto de Arte Contemporânea - av. Dr. Arnaldo, 120/126, Consolação. Até 18/12. De ter. a sex., das 11h às 17h. Grátis. iacbrasil.org.br


​Plantasia Oil Company
As dinâmicas extrativistas são o tema da obra do equatoriano Adrián Balseca. Em sua mostra na Casa do Sertanista, espaço que abrigou a Embaixada dos Povos da Floresta no fim dos anos 1980, o artista recorreu a uma série de latas da indústria petroquímica para o cultivo de plantas nativas da Amazônia. Um dos cômodos do espaço também abriga uma seleção de fotografias do Archivo Visual Amazónico, com imagens que documentam a devastação ecológica da Amazônia equatoriana
Casa do Sertanista - pça. Ênio Barbato, s/nº, Caxingui. Até 5/12. De ter. a dom., das 10h às 16h. Grátis. museudacidade.prefeitura.sp.gov.br


Noa Eshkol
A individual de Noa Eshkol expõe tapetes de parede, vídeos e documentos com ênfase nos processos comunitários da coreógrafa e dançarina que desenvolveu uma espécie de sistema para representar o movimento físico —o conjunto de símbolos e números ganhou o nome de Eshkol-Wachman Movement Notation. Os destaques são as obras têxteis feitas de forma coletiva com sobras de tecido e a partir de algumas premissas, como a de nunca cortar as tramas.
Casa do Povo - r. Três Rios, 252, Bom Retiro. Até 15/10. De ter. a sáb., das 12h às 18h. Grátis. casadopovo.org.br

Quatro tapetes pendurados em um cômodo com janelas amplas
Exposição da Noa Eshkol na Casa do Povo - Edouard Fraipont/Divulgação

Oriana
Em sua primeira exposição no Brasil, a porto-riquenha Beatriz Santiago Muñoz apresenta uma espécie de tradução do livro “As Guerrilheiras”, da francesa Monique Wittig. A instalação audiovisual, que dá título à mostra, é apresentada em diferentes telas no espaço, como se a narrativa estivesse distribuída e tornasse o visitante parte das cenas nas quais uma tribo de mulheres articula um ataque à linguagem e aos corpos masculinos.
Pivô - edifício Copan, av. Ipiranga, 200, loja 54. De 5/9 a 6/11. Qua. a sáb., das 13h às 19h. Grátis. pivo.org.br


Laço Rastro Traço
Selecionadas em um arquivo construído por Mauro Restiffe há três décadas, as 33 fotografias expostas misturam produções antigas e recentes, de pequeno e médio formato, coloridas e em preto e branco. O ponto de encontro entre elas é o retrato, com personagens por vezes alheios à câmera ou retratados a partir de outras imagens.
Fortes D’Aloia & Gabriel – r. James Holland, 71, Barra Funda. Até 6/11. De ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 18h. Grátis. fdag.com.br


Fendas, Fagulhas
Junto ao vídeo “Luz del Fuego II”, de 2018, que recorre a imagens de incêndios publicadas em jornais, a exibição de Carmela Gross conta com instalações inéditas que dialogam com o fogo. Em “Fonte Luminosa”, deste ano, a artista apresenta o desenho de uma lava de vulcão a partir de lâmpadas de neon vermelho.
Vermelho - r. Minas Gerais, 350, Higienópolis. Até 18/9. De ter. a sex., das 11h às 19h, sáb., das 11h às 16h. Grátis. galeriavermelho.com.br

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