Além de virar o mundo inteiro do avesso e atrapalhar os planos da indústria musical, a pandemia também trouxe gratas surpresas.
Se turnês foram canceladas, gravações precisaram ser adiadas e artistas tiveram que se virar para divulgar seus trabalhos, um festival de lives surgiu e discos foram lançados durante a quarentena —muitos deles gravados inteiramente de casa.
São álbuns de artistas que viveram picos de inspiração na clausura ou registros feitos antes da chegada do coronavírus, mas que ganharam outros significados.
Veja, abaixo, uma seleção de dez álbuns lançados entre março e setembro deste ano —do alternativo brasileiro ao mainstream americano, do rap ao pop oitentista, dos instrumentos orgânicos aos sons sintéticos. É só apertar o play.
'Future Nostalgia' - Dua Lipa (março)
A britânica planejava uma turnê global para promover o seu segundo (e melhor) disco, mas o coronavírus atropelou a ideia logo após seu lançamento, no comecinho da quarentena. Cancelamentos à parte, o álbum com forte pegada disco ainda embala as festinhas virtuais e reina como um dos principais exemplares da música pop deste ano.
'Fetch the Bolt Cutters' - Fiona Apple (abril)
Oito anos após seu último lançamento, “The Idler Wheel…”, de 2012, Fiona Apple soltou o trabalho que deve ser coroado como o mais elogiado da quarentena. Gravado majoritariamente em sua casa, no estado americano da Califórnia, o poderoso disco de tom confessional incorpora elementos do lugar nas músicas —entre eles, até mesmo os latidos de seus cachorros, que são creditados na ficha técnica.
'Chromatica' - Lady Gaga (maio)
Quem também fez seu retorno no período foi a americana, que não lançava um disco desde que soltou “Joanne”, em 2016. Em “Chromatica”, Lady Gaga se junta a nomes como Ariana Grande e Elton John para tratar de assuntos sérios com músicas que certamente permanecerão para ver as luzes néon das pistas acesas após a pandemia.
'Corpo Sem Juízo' - Jup do Bairro (junho)
O EP de estreia da artista paulistana, parceira de Linn da Quebrada no elogiado disco “Pajubá”, de 2017, é um forte manifesto que trata de gênero, racismo e sexualidade com relatos pessoais e influências sonoras que vão do rap ao punk. Produzido por BadSista, tem a participação de Deize Tigrona, Linn, Rico Dalasam e Mulambo.
'Punisher' - Phoebe Bridgers (junho)
Nomes como Nathaniel Walcott, do Bright Eyes, Nick Zinner, do Yeah Yeah Yeahs, e Rob Moose, que já orquestrou canções de Bon Iver e Sufjan Stevens, são algumas das estrelas que acompanham a jornada da cantora de 26 anos em seu disco mais recente, uma ótima mistura de melancolia, sensibilidade e a típica naturalidade de Bridgers para contar histórias —o que a elevou ao status de queridinha do indie contemporâneo.
'What’s Your Pleasure?' - Jessie Ware (junho)
Ao lado do produtor James Ford, das bandas Arctic Monkeys, Gorillaz e Depeche Mode, a cantora entregou um fino trabalho fortemente influenciado por nomes dos anos 1980, como Chic e Diana Ross, como tem sido tendência em 2020. O quarto disco da britânica é ideal para ser dançado na sala durante o isolamento social.
'Lianne La Havas' – Lianne La Havas (julho)
O terceiro registro da britânica filha de pai grego e mãe jamaicana mergulha no neossoul e no R&B para cantar com voz doce e poderosa sobre fases de um relacionamento. Além de uma versão para “Weird Fishes”, do Radiohead, também há, em faixas como “Courage”, uma inspiração confessa no trabalho de Milton Nascimento e do Clube da Esquina.
'Folklore' - Taylor Swift (julho)
A Taylor Swift cercada por polêmicas dos últimos anos aproveitou a quarentena para respirar fundo e explorar uma faceta mais intimista, com músicas mais calmas e até vulneráveis. Nas canções de “Folklore”, mais voltado para o indie folk e inteiramente feito durante o isolamento social, ela absorve um pouco da estética sonora de Aaron Dessner, guitarrista da banda The National, que produziu o disco.
'Olorum' - Mateus Aleluia (julho)
O artista baiano que integrou o clássico grupo Os Tincoãs soltou, aos 76 anos, seu terceiro disco em carreira solo —e o primeiro inteiramente autoral. Um respiro em meio ao caos pandêmico, o trabalho segue influenciado pelos cantos e batuques dos terreiros presentes na obra de Aleluia. Nomes ilustres como João Donato, as Pastoras do Rosário e Thiago França, do Metá Metá, participam do álbum.
'O Líder em Movimento' - BK/Abebe Bikila (setembro)
É o terceiro disco do rapper, mas o primeiro assinado com seu nome de batismo —um tributo ao primeiro atleta africano e negro a ganhar uma medalha de ouro em uma Olimpíada. Ao longo dos 36 minutos, o carioca rima em cima dos beats de Jonas Profeta, do JXNVS, usa samples de “Minha Gente”, de Erasmo Carlos, de “God Only Knows”, dos Beach Boys, e inclui trechos de um discurso de Abdias Nascimento para falar sobre racismo, política e violência.
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