Diretor explora o sofrimento e a fraqueza em 'O Apartamento'

Crítica

Em tempo recorde, Asghar Farhadi foi alçado como um dos maiores autores do cinema contemporâneo, uma espécie de herdeiro de Ingmar Bergman, ainda que em tom menor. Desde "A Separação" (2011), seu segundo e consagrado longa, colhe elogios como um grande diretor e autor de dramaturgia densa (ele escreve seus roteiros) capaz de relevar a alma humana a partir de conflitos cotidianos.

Não por acaso, "O Apartamento" saiu do último Festival de Cannes com os prêmios de melhor roteiro e melhor ator (para Shahab Hosseini). É curioso como o próprio Farhadi parece querer corroborar essa sua percepção como grande dramaturgo ao incluir, neste novo filme, trechos de "A Morte do Caixeiro Viajante", de Arthur Miller.

Cena de 'O Apartamento', filme que recebeu o prêmio de melhor roteiro e ator em Cannes
Cena de 'O Apartamento', filme que recebeu o prêmio de melhor roteiro e ator em Cannes - Divulgação

Mas é difícil compreender o que faz no filme o texto de Miller a não ser chamar atenção para essa "vontade de grande dramaturgia". Trata-se, aliás, de uma operação típica de Farhadi, expert em jogar para a plateia. "A Separação", por exemplo, é todo construído a partir de truques e jogos de identificação que, a meu ver, vendem como complexas situações frágeis, com personagens que sempre "revelam suas fraquezas".

"O Apartamento" começa como um filme-catástrofe. Um prédio, onde mora o casal protagonista, racha e ameaça desabar. Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidooshi) precisam procurar outro apartamento, e parecem ter sorte ao conseguir um lugar com certa rapidez. Até que Rana é atacada no novo imóvel.

A partir daí, vêm à tona as "fraquezas humanas". Emad, aparentemente pacífico, fica obcecado em descobrir quem atacou sua mulher. Quando descobre, Farhadi explora a dúvida. Como ele vai agir? Ao drama se intercalam os ensaios de uma montagem de "A Morte do Caixeiro Viajante", já que seus protagonistas são atores de um grupo amador.

É inegável que Farhadi é um cineasta de habilidades --mas o pecado, aqui, é justamente a habilidade excessiva. Seus filmes são marcados pela mão pesada de seu criador. É como se pudéssemos sentir um autor que gosta de jogar, às vezes sadicamente, com suas criaturas. Como ele gosta de vê-las sofrer, sempre em seu próprio benefício.

O APARTAMENTO (forushande)
DIREÇÃO Asghar Farhadi
ELENCO Shahab Hosseini, Taraneh Alidoosh, Babaki Karimi
PRODUÇÃO Irã/França, 2016, 14 anos
MOSTRA 20/10, 19h30 (Espaço Itaú - Frei Caneca); 21/10, 17h50 (Cinesesc); 22/10, 19h50 (Cinearte 2); 24/10, 21h30 (Cinemark Cidade São Paulo); 30/10, às 19h50 (Cinesala)
AVALIAÇÃO regular

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