Drinques considerados cafonas voltam a fazer sucesso nos bares de SP

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Os guarda-chuvinhas foram abertos a tempo de as águas de março chegarem. E devidamente colocados em cima de drinques que tinham caído em desuso até recentemente. Bares e restaurantes da cidade voltaram a ostentar nos seus menus ponches, batidas e coquetéis de muitas décadas atrás, como o Kir Royale, e misturas populares como capeta e maria mole.

Isso porque o cafona de ontem (ou anteontem) vai ser a pedida da vez de amanhã, dizem especialistas. "Os drinques são como a moda, passam por ciclos. O que era cafona até 40 anos atrás vai ser a tendência do ano que vem", diz Chad Braham, consultor americano de marcas de bebida. "Esses drinques vêm com toques novos, mas, na maioria das vezes, são o que nossas avós bebiam."

E parece que, a partir da tendência dos bares de apostar em uma coquetelaria mais elaborada, uma nova onda de drinques vintage aportou na cidade.

O Bar Número, nos Jardins, por exemplo, aposta no revival do estilo "tiki", com drinques "tropicais" de visual kitsch –que também voltou aos balcões de Nova York e de Londres nos últimos meses. Já em casas como o Riviera, hits dos botecos, caso do bombeirinho e da maria mole, ganham releituras sofisticadas. Conheça a seguir alguns dos lugares que servem coquetéis de outros carnavais.

Guia da FOLHA. Drinks cafonas. Foto do drink Blue Hawaii, do Bar Numero no Jardins. Bebida leva Rum branco e Rum Angostura 5 anos. Suco de abacaxi, suco de limao. Stock curacau blue e Stock coconut
O Blue Hawaii, do Bar Número - Eduardo Knapp/Folhapress

BAR NÚMERO

Um dos salões mais chiques da cidade, com ambiente forrado de couro marrom, ganhou um colorido inusitado com a chegada de um cardápio de oito drinques "tiki".

Essa variedade de bebidas, criada na década de 1930, geralmente leva rum e se inspira em culturas tropicais, como a da Polinésia.

O Blue Hawaii, por exemplo, leva rum branco e marrom, sucos de abacaxi e de limão, licor de coco e (pasme!) Curaçau Blue.

As misturas são servidas em copos em formato de peixes, mulheres ou carrancas e finalizadas com elementos decorativos, como laços de ráfia.

"Ninguém pede esse tipo de drinque até alguém passar desfilando no salão com um. Aí, todo mundo vê que é lindo e saem muitos", diz Derivan Ferreira de Souza, barman do Número. Para ele, reviver esse tipo de bebida, tão cara a cruzeiros da terceira idade, serve para lembrar também de elementos ligados à cultura tiki, como o relaxamento e a alegria.

Bar Número - R. da Consolação, 3.585, Cerqueira César, região norte, tel. 3061-3995. 120 lugares. Qua. a sáb.: 20h às 5h. Saiba mais.

O Kir Royale, do Biri Nait *** ****
O Kir Royale, do Biri Nait - Mário Rodrigues Jr./Divulgação

BIRI NAIT

O sobrado colorido e barulhento em Pinheiros oferece algumas viagens no tempo no seu cardápio com 70 opções de drinques. O Kir Royale, criado na França na época da Segunda Guerra, leva espumante, licor de cassis e uma cereja marrasquino, lembrança dos filmes dos anos 1960 de Billy Wilder.

A mixologista Talita Simões ainda resgatou popularices de gosto questionável, como o Pau do Índio, mesmo nome da bebida típica do Carnaval de Olinda à base de cachaça. Aqui, ela leva licor de café, Chartreuse (licor francês de ervas e flores) e vodca, sob um pau de canela e uma cerejinha –que, juntos, dão o toque fálico à piada.

Biri Nait - R. Cunha Gago, 864, Pinheiros, região oeste, tel. 3032-9028. 150 lugares. Ter. a sáb.: 18h às 2h. Saiba mais.

O Punch Bollywood, do Espaço Zebra *** ****
O Punch Bollywood, do Espaço Zebra - Renato Larini/Divulgação

ESPAÇO ZEBRA

Esse quintal repleto de obras de arte, inaugurado em 2012 na Bela Vista, também é a casa e o bar de Néli Pereira e Renato Larini, que colecionam taças vintage e receitas antigas, reproduzidas com um toque próprio.

Seu ponche de rum com suco de manga leva xarope de cominho, louro e tamarindo e uma infusão de tâmara e pimenta-da-jamaica.

A bebida é oferecida em poncheiras de cristal, garimpadas em feiras do bairro do Bexiga, que ela deixa em cima do balcão.

"Quando você propõe que as pessoas peçam um ponche, elas já pensam em uma bebida doce e ruim. Leva um tempinho para convencê-las de que não se trata de uma sidra vagabunda, mas funciona", diz ela.

Néli e Renato vendem ao menos uma poncheira por noite e, às vezes, faz festas temáticas no espaço.

Espaço Zebra - R. Mj. Diogo, 237, Bela Vista, região central, tel. 3105-5171. 50 lugares. Sex. e sáb.: 19h às 24h. Saiba mais.

O Milk Punch, do Guilhotina *** ****
O Milk Punch, do Guilhotina - Helena Peixoto/Folhapress

GUILHOTINA

Chegue no balcão desse novo bar, em Pinheiros, e peça, com um sussurro, o ponche clarificado. Além da bebida, que não está no cardápio, quem fizer isso vai ganhar um aperto de mão do barman Marcio Silva –sócio do local e um dos fundadores do SubAstor–, que tem uma relação bem próxima com sua criação.

O Milk Punch, cujos primeiros registros surgiram na Escócia do século 17, é servido numa garrafinha que parece de remédio e leva destilados de cana, tempero e leite. Sua aparência, no entanto, é translúcida como a água, resultado de um processo de coagens que demora dias.

"Todo drinque merece ser feito", diz o homem por trás do bar, "e, se você quiser beber algo que eu não saiba fazer, é só ensinar que vou servir".

Guilhotina - R. Costa Carvalho, 84, Pinheiros, região oeste, tel. 3031-0955. 80 pessoas. Ter. a sáb.: 17h à 1h. Saiba mais.

O bombeirinho, do Riviera *** ****
O bombeirinho, do Riviera - Helena Peixoto

RIVIERA

Inaugurado em 1949 (e reaberto em 2013 sob comando do empresário Facundo Guerra e do chef Alex Atala), o bar carrega no logo suas próprias palmeiras kitsch.

O balcão vermelho e tortuoso da casa na esquina da Paulista com a Consolação é estacionamento de drinques sofisticados como West Side e Old Pal. Mas também oferece opções de misturas populares, como a maria mole. Clássico de boteco à base de Contini e conhaque, aqui ganha releitura com vinho fortificado xerez, vermute branco e angostura.

Os comensais podem também pedir uma versão de outro hit dos pés-sujos, o bombeirinho (mix de groselha e pinga), que só não saía no dia da visita do "Guia" por falta de grenadine –xarope de romã que não entra na receita popular, mas foi agregado na interpretação chique.

Riviera - Av. Paulista, 2.584, Bela Vista, região central, tel. 3258-1268. 230 lugares. Seg. a qua.: 12h às 15h e 18h às 24h. Qui.: 12h às 15h e 18h à 1h. Sex.: 12h às 15h e 18h às 2h. Sáb.: 12h às 2h. Dom.: 12h às 24h. Saiba mais.

O capeta, do Açougue Central *** ****
O capeta, do Açougue Central - Chico Felitti/Folhapress

AÇOUGUE CENTRAL

Adolescentes de escolas particulares de São Paulo certamente já tiveram um encontro com o capeta. O coquetel é hit matador de Porto Seguro (BA), destino de viagens de formatura. Por lá, é feito com leite condensado, guaraná e canela em pó, vodca, abacaxi e o que mais estiver à mão. No restaurante de carnes de Alex Atala, ganhou uma releitura sofisticada.

Ali, o capeta é minimalista e se equilibra nos temperos da canela, do cravo e do guaraná, no dulçor do xarope de mel e na picância do abacaxi e da cachaça. Uma liberdade poética com o nome do drinque mais cafona do país.

R. Girassol, 384, Vila Madalena, região oeste, tel. 3095-8800. 100 lugares. Seg. a qui.: 12h às 15h e 18h às 24h. Sex. e sáb.: 12h à 1h. Dom.: 12h às 18h. Saiba mais.


FAÇA EM CASA
Confira a receita de dois coquetéis citados no texto

BLUE HAWAII
Receita do Bar Número

Ingredientes
- 45 ml de rum branco 
- 30 ml de rum envelhecido por 5 anos 
- 30 ml de suco de abacaxi 
- 15 ml de suco de limão 
- 20 ml de licor Curaçau Blue 
- 10 ml de licor de coco

Preparo 
Coloque os ingredientes em uma coqueteleira com gelo e bata bem. Sirva em um copo longo, complete com soda e decore com tema "tiki"

PUNCH BOLLYWOOD 
Receita do Espaço Zebra

Ingredientes 
- 1 litro de suco de manga 
- 200 ml de suco de laranja 
- 350 ml de rum 
- 100 ml de xarope de cominho 
- 50 ml de pasta de tamarindo

Preparo 
Em uma jarra, misture bem todos os ingredientes e adicione gelo. Finalize com páprica defumada e anis-estrelado

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Diferentemente do informado, o drinque capeta do Açougue Central não é preparado pelo barman Leonardo Massoni, que não trabalha mais no restaurante. 

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