O diretor Hector Babenco sabia que não tinha muito tempo de vida quando deu anuência à mulher, Bárbara Paz, para filmá-lo em sua luta contra o câncer. Mas o cineasta só morreria três anos mais tarde (em 2016), então um material opulento foi registrado no período.
É de lá que veio grande parte das cenas de “Babenco – Alguém Precisa Ouvir o Coração e Dizer: Parou”, filme-homenagem que ganhou o prêmio de melhor documentário Venezia Classici, no Festival de Veneza, e terá sessão no Theatro Municipal no domingo (20), às 20h30.
A priori, o próprio conceito do documentário pode soar um bocado sensacionalista —e até meio mórbido. Mas Bárbara Paz conduz tudo com delicadeza e lirismo: se poderia haver peso, o filme traz poesia. A diretora celebra a obra de Babenco e, ao mostrá-lo sempre tenaz em sua luta contra a morte, ressalta a extraordinária paixão pela vida do cineasta.
Há, sim, muitas imagens de Babenco no hospital, ou mesmo se tratando em casa, e é claro que existe ali muita tristeza. Mas as próprias falas dele espantam qualquer deslize autopiedoso ou excessivamente depressivo. É um filme estranhamente vivo, até solar.
Conta também com cenas inesquecíveis de filmes do diretor, de seu arquivo pessoal e de entrevistas. E há imagens curiosas, como as em que Babenco aparece como ator, nos filmes em que participou como figurante, ainda no comecinho da carreira.
A Mostra destaca também outros dois documentários sobre cineastas de prestígio que, em cena, comentam sua própria obra: o brasileiro Eduardo Coutinho e o soviético Andrei Tarkovski.
Em “Banquete Coutinho”, de Josafá Veloso, o diretor do documentário “Cabra Marcado para Morrer” dá depoimentos sobre sua concepção de cinema e, inevitavelmente, acaba falando bastante de si próprio. E em “Andrey Tarkovsky: Uma Oração de Cinema”, é o cineasta de “Solaris” quem solta o verbo, gerando um material imperdível para qualquer cinéfilo. A direção ficou a cargo do próprio filho do cineasta, Andrei A. Tarkovski.
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