Semanas antes da cerimônia do Oscar, era comum que cinéfilos embarcassem em maratonas para assistir à maioria dos filmes que concorrem aos principais prêmios. Mas, neste ano, isso vai ser mais difícil no Brasil —e, sobretudo, em São Paulo.
No pior momento da pandemia no país, as necessárias medidas para conter o vírus deixaram apenas 128 salas de cinema funcionando no Brasil, ou seja, 3,6% do total.
Isso impacta diretamente a disponibilidade dos indicados ao Oscar, muitos deles na lista de concorrentes a melhor filme. Neste ano, estão indicadas oito produções na categoria —sendo que três delas têm cenário ainda nebuloso para chegar aos cinemas e ao streaming e podem não ser vistas no Brasil antes da cerimônia da premiação, em 25 de abril. São eles “Minari”, “Bela Vingança” e “Nomadland”.
Este último chega ao Oscar como favorito. De acordo com a Disney, distribuidora por aqui, a data de estreia no Brasil é 15 de abril. Mas isso pode mudar, já que São Paulo terá uma reavaliação das regras da quarentena em 11 de abril, quando em tese há chances de os cinemas reabrirem —mas o cenário parece cada vez mais improvável, num momento em que a pandemia está fora de controle. Com isso, a distribuidora pode ter de decidir entre adiar a estreia no Brasil ou fazer o lançamento com somente 3% das salas abertas.
Outra possibilidade seria “Nomadland” estrear direto no streaming, o que não deve ocorrer porque a obra não dialoga diretamente com o catálogo do Disney+. Uma alternativa seria o lançamento num dos braços da plataforma, o Star+, mas o serviço ainda está indisponível no Brasil.
Outro indicado a melhor filme, “Bela Vingança” é protagonizado por Carey Mulligan e estava previsto para chegar aos cinemas em 8 de abril, mas teve o lançamento postergado para o dia 22. Ainda não se sabe se a data será mantida caso São Paulo não reabra as salas.
Se não houver estreia nos cinemas antes da cerimônia do Oscar, a Universal Pictures diz que o longa não deve chegar direto às plataformas digitais.
Por fim, há o caso de “Minari”. O filme acompanha uma família sul-coreana que chega aos Estados Unidos nos anos 1980 e também deve estrear nos cinemas no dia 22. Mas, de acordo com Gabriel Gruman, codiretor da Diamond Films, pode haver um adiamento se os cinemas não forem abertos.
“É uma tristeza muito grande não lançar o filme nem saber quando e como faremos isso”, lamenta. “A gente espera passar esse período, mas os filmes têm certos prazos.”
Ele conta que quando “Minari” poderia ter estreado, os cinemas de rua já estavam fechados em São Paulo e no Rio de Janeiro. “São nesses cinemas que ele e outros indicados teriam a melhor bilheteria”, afirma.
Nos últimos anos, todos os indicados a melhor filme no Oscar foram lançados no Brasil antes ou na mesma semana da premiação. A não disponibilidade desses longas é algo que não ocorre no Brasil há, pelo menos, 15 anos, calcula André Sturm, ex-secretário de Cultura de São Paulo e dono do cinema Petra Belas Artes.
Segundo Sturm, agora esses filmes devem ser lançados após a cerimônia do Oscar. “É como acontecia nos anos 1970 e 1980, quando o título estreava como vencedor do Oscar, e não como indicado.”
Em meio a esse cenário incerto, o streaming surge como uma válvula de escape. Três dos oito indicados a melhor filme no Oscar estão disponíveis lá –“Mank” e “Os 7 de Chicago”, ambos na Netflix, e “O Som do Silêncio”, disponível no Amazon Prime Video.
Até agora, apenas um título chegou aos cinemas de São Paulo —“Judas e o Messias Negro”, que ficou em cartaz por pouco mais de uma semana e teve a estreia interrompida quando as salas foram fechadas por causa da fase vermelha do plano de quarentema, no dia 6 de março. Agora o estado está na fase emergencial, ainda mais restritiva, e não há como ver o filme.
Para quem não conseguiu assistir à produção nos cinemas, a previsão é que o longa de Shaka King seja disponibilizado para aluguel digital em maio —ou seja, após o Oscar. Além disso, o título integra o catálogo da HBO Max, que deve chegar ao Brasil em junho.
Já o último dos indicados a melhor filme no Oscar, “Meu Pai”, que é protagonizado por Anthony Hopkins, tem estreia prevista para o dia 8 de abril nas plataformas digitais.
Sturm admite que o streaming e o aluguel online são um sucesso e se tornaram uma maneira de dar vazão aos lançamentos em tempos de cinemas fechados, mas, segundo ele, o filme pode acabar arrecadando pouco nesse modelo digital se comparado ao total investido na produção.
“Com o recrudescimento da quarentena, não foi possível fazer algum tipo de planejamento”, diz ele. “No limite, a distribuidora vai acabar colocando nas plataformas digitais, mas essa dúvida dos cinemas, esse ‘será que vai reabrir?’, faz os distribuidores ficarem de mãos atadas.”
Isso acaba respingando em outros indicados ao Oscar. Além de “Minari”, a Diamond também está com “Estados Unidos Contra Billie Holiday” na fila de estreias —a protagonista é interpretada por Andra Day, que disputa o Oscar de melhor atriz. “Estamos com uma safra boa, mas que não sai do lugar”, diz Gruman, codiretor da distribuidora.
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