Roteiro por cemitérios destaca passeios culturais e históricos por São Paulo; confira

Entre os túmulos famosos há o de Tarsila do Amaral, na Consolação, e de Assis Chateaubriand, no Araçá

Detalhe de escultura no Cemitério da Consolação

Detalhe de escultura no Cemitério da Consolação Eduardo Knapp/Folhapress

São Paulo

O Dia de Finados, que acontece na sexta (2), deve lotar os cemitérios de visitantes, que reservam o dia para prestar homenagem a parentes e amigos. As necrópoles da cidade, no entanto, têm atrativos que podem valer uma visita mais longa e atenta.

Alguns espaços, como o Cemitério da Consolação, mais antigo de São Paulo, concentram tantas obras de arte que são considerados museus a céu aberto. O local, que tem visitas guiadas e até um aplicativo, também é conhecido por abrigar túmulos de personalidades famosas, como a pintora Tarsila do Amaral e o escritor Mário de Andrade.

As atrações, no entanto, não se limitam à Consolação. Perto dali, o Cemitério do Araçá também tem um rico acervo de arte e túmulos do jornalista Assis Chateaubriand e das atrizes Nair Bello e Cacilda Becker.

Outro destaque no roteiro artístico é o Cemitério São Paulo. Ele abriga, inclusive, o túmulo de um artista brasileiro que assina uma grande quantidade de esculturas encontradas em cemitérios: Victor Brecheret.

Mas nem só a arte e a fama despertam curiosidade nos cemitérios. Conhecer suas histórias também é importante para compreender o contexto do país. O Cemitério Dom Bosco, por exemplo, é conhecido por abrigar as ossadas de perseguidos políticos da ditadura. Já o Cemitério de Vila Formosa é a maior necrópole da América Latina.

Para ajudar a orientar os interessados em conhecer um pouco mais sobre os cemitérios paulistanos, o Guia preparou um roteiro que traz os principais destaques de seis importantes espaços da cidade.

 

 

Araçá

Ano de fundação: 1887
Área: 220 mil m²
Público ou privado? Público
O que visitar? Mausoléu da Polícia Militar e túmulos de personalidades, como as atrizes Cacilda Becker e Nair Bello e o jornalista Assis Chateaubriand.

A menos de dois quilômetros do Cemitério da Consolação, a necrópole foi construída para ser um tipo de extensão do seu vizinho, que, à época, estava praticamente lotado.

O Araçá abriu espaço para o sepultamento da elite paulistana, especialmente de imigrantes italianos, responsáveis por boa parte dos templos e capelas que ocupam o local.

Um dos espaços mais imponentes do cemitério é o Mausoléu da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Construído em 1969, ele abriga os policiais mortos em serviço. O lugar tem um belo mirante, de onde é possível ver quase toda a extensão da necrópole e parte da cidade.

O site policiamilitar.sp.gov.br/institucional/herois-da-pm disponibiliza a história de todas as pessoas sepultadas no local. 

Além de belas esculturas, quem passeia por ali pode desfrutar de um ambiente tranquilo em meio a uma das avenidas mais movimentadas da cidade.

Arte Tumular:

Seja sobre os túmulos, adornando os mausoléus ou ao longo das vielas, cerca de 80 obras de arte ocupam o Cemitério do Araçá. Um dos destaques é a escultura “Musa Impassível”, de Victor Brecheret, instalada sobre a sepultura da poeta parnasiana Francisca Júlia (1871-1920). A escritora morreu um dias depois do marido.

Também tem esculturas no Araçá o italiano Eugenio Prati, cujos anjos ornamentam o túmulo de uma família. Além de ter obras adornando uma lápide, Armando Zago assina uma réplica da “Pietà”, de Michelangelo. Outros destaques de arte tumular são de autoria do argentino Vicente Larocca e do brasileiro Rafael Galvez.

Mortos Ilustres:

  • Assis Chateaubriand, jornalista (1892-1968)
  • Cacilda Becker, atriz (1921-1969)
  • Nair Bello, atriz (1931-2007)
  • José Carlos Pace, piloto (1944-1977)
  • Francisca Júlia, poeta (1871-1920)

Cemitério do Araçá - Av. Dr. Arnaldo, 666, Sumaré, região central, tel. 3256-6486. Seg. a dom.: 7h às 18h.

Consolação

Ano de fundação: 1858
Área: 76 mil m²
Público ou privado? Público
O que visitar? Túmulos de personalidades importantes da história brasileira, como os escritores Mário de Andrade e Monteiro Lobato e os presidentes Campos Salles e Washington Luís, além do mausoléu da família Matarazzo. Também há cerca de 400 obras de arte de nomes como Nicola Rollo e Victor Brecheret.

Até a segunda metade do século 19, era de praxe que os sepultamentos ocorressem em igrejas católicas —acreditava-se que a proximidade do solo sagrado facilitasse a entrada da alma no Paraíso.

O costume já vinha sendo condenado pela comunidade médica há alguns anos, já que a prática de manter corpos em igrejas era vista como responsável por grandes epidemias (além de causar diversos problemas relacionados ao mau-cheiro).

Tomada a decisão de construir um cemitério público, faltava determinar lugar. A escolha foi feita com base em estudo da qualidade do solo, direção dos ventos, altitude e a distância do centro da cidade. Assim, o Cemitério da Consolação tornou-se a primeira necrópole paulistana. 

No começo, o cemitério era usado por todas as classes sociais. Depois, com a construção de outros espaços públicos, especialmente o do Brás, ficou cada vez mais elitizado. Não era incomum que famílias endinheiradas encomendassem obras de arte na Europa para usar como adorno de túmulos instalados ali.

Arte Tumular:

Com um acervo de cerca de 400 obras, o Cemitério da Consolação é um museu a céu aberto. Para estimular as visitas, a prefeitura disponibiliza o aplicativo para Android Guia Cemitério Consolação. Ali estão fotos das obras e um breve contexto explicativo.

Para quem preferir conhecer o espaço acompanhado, o cemitério oferece visitas guiadas às terças e sextas. Basta enviar um email até um dia antes com seus dados para assessoriaimprensa@prefeitura.sp.gov.br. 

Na necrópole, é possível ver esculturas de artistas como os ítalo-brasileiros Nicola Rollo e Galileo Emendabili e o brasileiro Victor Brecheret. Também há gigantescos mausoléus, como o da família Matarazzo.

Mortos Ilustres:

  •  Francisco Matarazzo, industrial (1854-1937)

  • Guiomar Novaes, pianista (1895-1979)

  • Mário de Andrade, escritor (1893-1945)

  • Marquesa de Santos, nobre do período imperial (1797-1867)

  • Monteiro Lobato, escritor (1882-1948)

  • Oswald de Andrade, escritor (1890-1954)

  • Ramos de Azevedo, arquiteto (1851-1928)

  • Tarsila do Amaral, pintora (1886-1973) 

  • Washington Luís, presidente da República (1869-1957)

R. da Consolação, 1.660, Consolação, região central, tel. 3256-5919. Seg. a dom.: 7h às 18h.

São Paulo

Ano de fundação: 1926
Área: 104 mil m² 
Público ou privado? Público
O que visitar? Túmulos de personalidades como o escultor Victor Brecheret e o cartunista Belmonte, e esculturas de Brecheret, Nicola Rollo e Bruno Giorgi, entre outros artistas

Criado em 1926 para suprir a demanda de espaço da elite na cidade, o cemitério tem jazigos imponentes e arte tumular assinada por brasileiros e estrangeiros. Há ali esculturas dos ítalo-brasileiros Galileo Emendabili e Nicola Rollo e dos brasileiros Bruno Giorgi e Victor Brecheret.

Brecheret é também um dos ilustres acolhidos pelo cemitério. Ao contrário do que se pode pensar, no entanto, seu túmulo não é decorado com suntuosas esculturas: um dos mais simples do cemitério, é composto apenas por uma pedra branca.

Outros mortos ilustres são o escritor Menotti del Picchia e o cartunista Belmonte.

R. Card. Arcoverde, 1217A, Pinheiros, região oeste, tel. 3032-5986. Seg. a dom.: 7h às 18h.

Parque das Cerejeiras

Ano de fundação: 1993
Área: 300 mil m² 
Público ou privado? Privado
O que visitar? Esculturas do designer Hugo França e da artista Alê Bufe

Único cemitério privado da lista, o Parque das Cerejeiras está localizado em uma área verde extensa, que tem espaços pavimentados e um lago. Para zelar pela arborização, o lugar tem um projeto ambiental, em que enlutados são convidados a plantar uma árvore em homenagem ao morto.

Também a natureza inspira as obras de arte instaladas no espaço. Usando raízes de árvores mortas, o designer Hugo França criou uma série de 18 bancos e duas esculturas. Há também por ali dois trabalhos da artista Alê Bufe.

Durante o Dia de Finados, o espaço recebe a Orquestra de Paraisópolis (9h e 15h), além de missas e palestras sobre luto.

Av. pq. das Cerejeiras, 300, Jardim Ângela, região sul, tel. 5832-5977. Seg. a dom.: 24 horas.

Vila Formosa

Ano de fundação: 1949, e uma segunda parte em 1976
Área: 763 mil m² 
Público ou privado? Público
O que visitar? Túmulo do cantor de funk MC Daleste.

Maior cemitério da América Latina, o local tem duas áreas, com administrações diferentes. Apesar de contar com área verde extensa, com mata nativa e trilha ecológica, a falta de conservação —o mato alto e a ausência de sinalização— é um empecilho aos visitantes. Enquanto caminhava pelo cemitério, a reportagem não conseguiu encontrar o início da trilha, que a própria administração desconhecia.

Por se situar em uma área afastada do centro, não abriga tantas celebridades. Uma das poucas enterradas ali é o cantor de funk MC Daleste, assassinado em 2013. Também não há um conjunto notável de obras de arte.

Av. Flor de Vila Formosa, s/ nº, Vila Formosa, região leste, tel. 2781-3755. Seg. a dom.: 7h às 18h. Não aceita cartões.

Perus

Ano de fundação: 1970
Área: 254 mil m²
Público ou privado? Público
O que visitar? Memorial em homenagem às vítimas da ditadura militar, inaugurado em 1993 pela então prefeita Luiza Erundina

Criado para atender à demanda da população da região, o Cemitério Dom Bosco, também conhecido como Cemitério de Perus, acabou se tornando um espaço de sepultamento de perseguidos políticos.

Ali foram enterrados como indigentes uma série de militantes mortos durante a ditadura. Até hoje, pesquisadores tentam identificar os corpos a partir de análises forenses e comparação com o material genético fornecido pelas diversas famílias de desaparecidos do período.

Em 1993, a então prefeita Luiza Erundina inaugurou o monumento Mortos e Desaparecidos Políticos em homenagem às vítimas anônimas da ditadura.

R. Ernesto Diogo de Faria, 860, Perus, região norte, tel. 3917-0893. Seg. a dom.: 7h às 18h.
 

Túmulos famosos em outros cemitérios da cidade

Cemitério da Paz

  • Adoniran Barbosa, cantor
  • Jânio Quadros, ex-presidente da República
  • Marcelo Fromer, músico
  • Paulo Freire, educador

Rua Doutor Luis Migliano, 644, Morumbi.

Cemitério Morumby

  • Ayrton Senna, piloto
  • Elis Regina, cantora

Rua Deputado Laércio Corte, 468, Morumbi.

Cemitério Vila Mariana

  • Alfredo Volpi, pintor
  • Lasar Segall, pintor

Av. Lacerda Franco, 2084, Aclimação.

Cemitério Gethsêmani

  • Hebe Camargo, apresentadora de TV
  • Jair Rodrigues, cantor
  • Ariclê Perez, atriz

Praça da Ressureição, 1, Vila Sônia.

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