Tudo parecia jogar contra. A distância provocada pela pandemia, as dificuldades de financiamento e até um diagnóstico positivo de Covid-19. Mas Kimani, nome artístico da poeta Cinthya Santos, não consegue se afastar das batalhas de slam.
Nos próximos dias, uma maratona desses eventos, que são campeonatos de poesia falada e de performance poética, está marcada —tudo virtualmente, é claro, como manda os protocolos da quarentena. E Kimani, que foi campeã brasileira de slam há dois anos, estará presente em alguns.
“Neles, os poetas têm três minutos para emocionar os jurados e o público e arrancar uma nota dez,” explica Roberta Estrela D’Alva, uma das responsáveis por popularizar no Brasil essas competições, que surgiram nos Estados Unidos.
A maratona tem início com o Slam BR, um dos principais do tipo no país, que ocorre até domingo, dia 7. Desta vez, a programação online reúne os últimos campeões desse e de outros slams nacionais —todos foram representantes brasileiros na copa do mundo da modalidade, que ocorre anualmente na França. Como é online, o público vai poder assistir e interagir pelo chat.
O slam é destaque também do Festival Corpo Palavra, que vai de 6 a 13 de março e é organizado pelo MAM-SP, o Museu de Arte Moderna.
Entre 12 e 21 de março, ocorre a primeira edição do Slam Cultura Inglesa, que promove apresentações em português e inglês, além de oficinas gratuitas. Participam nomes como a britânica Joelle Taylor e o brasileiro Emerson Alcalde, do Slam da Guilhermina, além de Roberta Estrela D’Alva.
No dia 20, por fim, é a vez do Slam das Minas SP, feito com mulheres e pessoas trans, celebrar cinco anos com uma edição virtual.
A explicação para a efervescência, segundo Estrela D’Alva, é a retomada do calendário, que costuma ganhar força só depois do Carnaval —como quase tudo no Brasil, mesmo com ausência da folia por causa do coronavírus.
No formato tradicional ou nas adaptações para a internet, os participantes devem declamar seus poemas dentro de um limite de tempo, sem o auxílio de elementos cênicos ou música. Os jurados atribuem notas e aqueles com melhor desempenho são classificados para as etapas seguintes da competição —até sobrar um só, que é o campeão.
Segundo Carolina Peixoto, uma das idealizadoras do Slam das Minas SP, o maior desafio de organizar esses embates poéticos virtualmente é a perda do contato direto com o público.
“O slam é feito por gente. Nós, artistas, percebemos a diferença de energia entre olhar para as pessoas e para a tela do computador”, diz.
Kimani vê mais um problema no formato digital –o elitismo. Segundo ela, para participar e acompanhar as competições online é preciso ter um equipamento com acesso estável à internet, algo que não faz parte da realidade de muitos poetas, uma vez que a prática se consolidou no Brasil principalmente nas periferias.
Uma das formas de contornar essa questão é a transmissão pelas redes sociais, que costumam ter acesso gratuito em alguns pacotes de dados das operadoras, explica Estrela D’Alva, uma das coordenadoras do Slam BR. Ela fez questão de que um dos meios de transmissão desta edição do evento fosse o Facebook.
“O ganho do online é a participação de pessoas que não estariam presencialmente”, diz Carolina Peixoto, do Slam das Minas SP. “A gente consegue convidar meninas do Rio, de Belém, da Bahia.” Seja para participar, seja só para assistir.
1º Slam Cultura Inglesa
Transmissão na plataforma culturainglesafestival.com.br, de 12 a 21 de março. Grátis
Festival Corpo Palavra
Transmissão pelo canal do MAM-SP (youtube.com/mamoficial), de sáb. (6) a 13 de março. Apresentações do Slam das Minas SP em 8 e 12 de março. Grátis
Slam BR
Por Zoom, canal do Núcleo Bartolomeu (youtube.com/nucleobartolomeu) e no Facebook (facebook.com/poetryslambrasil), de qui. (4) a dom. (7). Grátis
Slam das Minas SP
Transmissão no canal da Casa das Rosas (youtube.com/CasadasRosasSP), em 20 de março. Grátis
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