Vida e a obra de mulheres criam roteiro virtual e ao ar livre por São Paulo

Às vésperas do Dia da Mulher, celebrado no dia 8 de março, conheça locais para visitar

São Paulo

Terra de bandeirantes, industriais, cafeicultores e comerciantes --não é à toa que sempre um homem vem à cabeça quando lemos essa frase. Ao longo dos séculos, São Paulo escondeu, diminuiu e até apagou muitas das mulheres que compuseram seus 467 anos de história.

Um breve exemplo é que entre os 367 monumentos da capital, há só 45 estátuas de mulheres --destas, apenas cinco são reais, entre as quais a tenista Maria Esther Bueno, que foi homenageada três vezes. Homens históricos são 112.

Mas é claro que uma série de mulheres ajudaram a fazer a história de São Paulo, com destaque ainda mais relevante na cultura e nas artes --afinal, o que dizer de Carolina Maria de Jesus, Lina Bo Bardi e Tomie Ohtake, só para citar alguns nomes?

Para o Dia da Mulher, comemorado na segunda-feira, dia 8 de março, o Guia apresenta um roteiro que apresenta as histórias e as obras de oito personalidades que marcaram a cidade e o Brasil.

No caso de artistas, há ainda Anita Malfatti e Mirthes Bernardes, que fez o mosaico que estampa muitas calçadas paulistanas ainda hoje. Já Ema Gordon Klabin mantém vivo o seu legado com um centro cultural. Isso sem falar em Chiquinha Gonzaga. A compositora da primeira marchinha carnavalesca e primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil inspira uma mostra no Itaú Cultural, também disponível online para estes tempos de museus fechados.

Como a capital entra na fase vermelha, a mais restritiva do plano de quarentena por causa da Covid-19, tudo o que não é essencial estará fechado deste sábado (6) até o dia 19. Por isso, fique em casa.
Mas, além de virtual, esse roteiro também passa por locais ao ar livre e estações de metrô --mas se lembre de sempre usar máscara e lavar as mãos se decidir mesmo sair à rua.

Amélia Todelo
Morta aos 90 anos, Amélia Toledo dedicou sete décadas de sua vida às artes plásticas, com trabalhos em materiais como pedra, vidro e algodão. Na estação Brás do metrô, são 25 chapas de aço curvadas que compõem a obra "Caleidoscópio", que ocupa cerca de 80 metros quadrados e forma uma espécie de labirinto. Quem passa por ali vê a própria imagem distorcida nas chapas de metal.
Estação Brás do metrô - r. Domingos Paiva, s/nº, Brás, região leste. Seg. a dom.: 4h40 às 24h. Ingr.: R$ 4,40 (acesso ao metrô)


Anita Malfatti
Em 1917, cinco anos antes do lançamento oficial do modernismo, com a Semana de Arte Moderna ainda longe de virar realidade no Theatro Municipal de São Paulo, a pintora abalou o mundinho artístico paulistano com uma mostra individual marcada pela influência das vanguardas europeias. Uma das críticas mais duras --e famosas-- veio de Monteiro Lobato, que escreveu um artigo chamado "Paranoia ou Mistificação?" sobre a exposição. A irritação de Lobato fez com que nomes como Oswald de Andrade e Mário de Andrade se aproximassem de Malfatti, que se tornou a "personalidade historicamente mais importante" do movimento de 1922, como apontou o crítico Paulo Mendes de Almeida. O quadro "Tropical", que integrou a mostra de 1917, compõe o acervo da Pinacoteca e pode ser visto no tour virtual do museu.
Pça. da Luz, 2, Bom Retiro, tel. (11) 3324-1000. Sex: 10h às 18h. Ingr.: grátis a R$ 25 (exposição 'Osgemeos: Segredos'). Local fechado a partir deste sáb. (6). É necessário comprar ou reservar p/ pinacoteca.byinti.com. Visita virtual: pinacoteca.org.br/visite/tour-virtual/


Carolina Maria de Jesus
São Paulo tem uma biblioteca batizada com o nome da escritora de "Quarto de Despejo". Ela fica dentro do Museu Afro Brasil, que será fechado a partir de sábado (6) por causa do endurecimento da quarentena em São Paulo. Mas vale fazer um passeio pelo portal bibliográfico Vida por Escrito, que reúne informações sobre a vida e a obra desta mineira que viveu boa parte da vida na favela do Canindé, na capital paulista. Na página, é possível saber o que aconteceu antes e depois da publicação de "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada", em 1960, seu livro mais celebrado, além de ouvir faixas de sua incursão pelo mundo da música, ver fotos e vídeos.
Biblioteca do Museu Afro Brasil - pq. Ibirapuera - av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 10, tel. (11) 3320-8900. Sex.: 10h às 12h e 15h às 17h. Ingr.: R$ 15 p/ megaticket.com.br. Fechado a partir deste sáb. (6). Site com a obra da autora: vidaporescrito.com.


Chiquinha Gonzaga
A vida da compositora e primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil é tema da exposição mais recente do Itaú Cultural, que foi aberta em 24 de fevereiro, mas que precisou ganhar uma versão virtual com a volta da capital para a fase vermelha. Da composição da primeira marchinha carnavalesca da qual se tem notícia –"Ó Abre Alas", de 1899–, a história da maestrina é contada com gravações de mulheres como a mãe de Emicida, Dona Jacira, a cantora Jup do Bairro e a fundadora do bloco Ilú Obá de Min, Beth Deli, que revelam como Gonzaga ajudou a transformar o país.
Itaú Cultural - av. Paulista, 149, piso térreo, Bela Vista, região central, tel. (11) 2168-1777. Sex.: 12h às 18h. Grátis. É necessário agendar p/ sympla.com.br. Fechado a partir deste sáb. (6). Visita virtual: itaucultural.org.br/ocupacao/chiquinha-gongaza


Ema Gordon Klabin
Filha de imigrantes lituanos, Ema Gordon Klabin teve uma participação fundamental na cultura de São Paulo. Ela foi membro de conselhos de instituições como o Masp e a Bienal de São Paulo, participou de leilões beneficentes e promoveu concertos em sua mansão no Jardim Europa. Também colecionou pinturas, esculturas e móveis de diversos países, entre eles China, Nigéria e Peru. Parte desse acervo, que é composto por 1.500 peças, pode ser visto no Google Arts & Culture. Além disso, três exposições estão disponíveis no site do centro cultural que leva o seu nome: "Porcelana Europeia na Coleção Ema Klabin", "Fragmentos" e "Balada do Terror e 8 Variações", com nove litografias da artista ítalo-brasileira Maria Bonomi.
Fundação Ema Klabin - r. Portugal, 43, Jardim Europa, região oeste, tel. (11) 3897-3232. Visita virtual: emaklabin.org.br e artsandculture.google.com


Lina Bo Bardi
A mente e as mãos que projetaram uma das construções mais conhecidas de São Paulo, o Masp, são da arquiteta Lina Bo Bardi. Nascida na Itália, ela se mudou para o Brasil em 1946 e assinou outros projetos que ajudam a formar o horizonte paulistano, como o Sesc Pompeia, o Teatro Oficina e a Casa de Vidro, onde ela morou no bairro do Morumbi. No Masp, ela também foi a responsável por projetar e criar os cavaletes de concreto e vidro que se tornaram marca do museu e tornam possíveis exposições em espaços amplos e com livre circulação do público pelas obras, já que não exigem que os quadros estejam apoiados em paredes. Com o museu fechado a partir deste sábado, dia 6, a solução é observar a inconfundível fachada da instituição na avenida Paulista. Outra opção é fazer uma visita virtual pelo acervo, que tem obras que passam por Portinari, Renoir, Cézanne e Van Gogh.
Masp - av. Paulista, 1.578, Bela Vista, tel. (11) 3149-5959. Sex: 13h às 19h. Ingr.: R$ 45. Fechado a partir deste sáb. (6). Visita virtual: artsandculture.google.com/partner/masp


Mirthes Bernardes
É difícil não reconhecer o zigue-zague em preto e branco que marca muitas das calçadas de São Paulo, um dos símbolos da cidade. A obra foi criada quase que sem querer pela artista plástica Mirthes Bernardes, em 1965. Em entrevista à Folha em 2015, ela contou que trabalhava na Secretaria de Urbanismo quando um chefe espiou alguns rabiscos em sua gaveta e a incentivou a participar do concurso municipal para a padronização das calçadas da capital. "Eu achava que tinha coisas bem mais bonitas [entre as concorrentes], mas eles não acharam", disse. Na mesma entrevista, a artista revelou que nunca recebeu um centavo pelo desenho, que virou até estampas de produtos e de suvenires para turistas. Bernardes chegou a pleitear os direitos autorais na Justiça, mas não ganhou. A artista morreu em dezembro, aos 86 anos.


Tomie Ohtake
Foi aos 23 anos que Tomie Ohtake, nascida em Kyoto, no Japão, chegou ao Brasil –mas seu mergulho no mundo das artes só foi acontecer 16 anos mais tarde, quando ela tinha já quase 40 anos. Hoje conhecida por suas pinturas, gravuras e esculturas, ela também dá nome ao Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros, que sedia mostras nacionais e internacionais de arte, arquitetura e design. Ohtake tem ainda peças espalhadas por pontos de várias cidades brasileiras. Em São Paulo, é possível conferir de perto seu painel "Quatro Estações", que colore a linha verde do metrô. Se a ideia é aproveitar o mundo virtual, o site do instituto que leva o seu nome guarda a íntegra de um documentário sobre a artista e catálogos completos de exposições passadas que contam mais sobre a obra da japonesa, morta em 2015.
Instituto Tomie Ohtake - r. dos Coropés, 88, Pinheiros, região oeste, tel. (11) 2245-1900. Sex: 12h às 17h. Fechado a partir deste sáb. (6). Visita virtual: institutotomieohtake.org.br/programacao/interna/juntos-distantes. Painel 'Quatro Estações': estação Consolação do metrô, no sentindo Ana Rosa - av. Paulista, 2.163, Cerqueira César. Seg. a dom.: 4h40 às 24h. Ingr.: R$ 4,40 (acesso ao metrô)


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