Festival São Paulo sem Censura discute proibições às artes com peças e debates

Prefeitura se contrapõe ao governo federal escalando figuras atacadas e obras recusadas

São Paulo

A capital paulista recebe a segunda edição do festival agora rebatizado São Paulo sem Censura de quinta (3) a domingo (6). Organizado pela prefeitura, o evento, que no ano passado se chamou Verão sem Censura, reúne peças, filmes e outras manifestações que tenham por tema a censura às artes.

Na programação, está a montagem de "O Santo Inquérito", de Dias Gomes, pela companhia BR116. O grupo teve seu projeto de uso da Lei de Incentivo à Cultura, o novo nome da Rouanet, para o espetáculo arquivado pela Secretaria Especial da Cultura do governo federal, em fevereiro deste ano sem justificativas.

Às vésperas do início do festival, a vereadora paulistana Sonaira Fernandes, do Republicanos, protocolou uma ação para tentar barrar o evento, alegando que haveria caráter político. O pedido foi negado na terça (1º) pelo juiz José Eduardo Cordeiro Rocha, que apontou que era a vereadora que poderia estar incorrendo em tentativa de censura.

Para o secretário municipal de Cultura, Alê Youssef, a ação da vereadora só reforça a importância do festival. Coincidentemente, o evento acontece dias após as manifestações contra o presidente. "Parte da insatisfação com o governo tem a ver com o tratamento que a cultura tem recebido", diz Youssef. "São processos que marcam o cerceamento da liberdade artística e o ataque contínuo que o setor sofre."

A seguir, veja destaques da programação.

BATE-PAPO

Encontro Jornalistas e Democracia
Citados pelo presidente Jair Bolsonaro e por seus familiares, os jornalistas Bianca Santana, do UOL, e Guilherme Amado, da revista Época, sofreram retaliações nas redes sociais. Eles falam sobre as tentativas de silenciamento e do trabalho da imprensa.
No YouTube da Biblioteca Mário de Andrade. Sex. (4), às 11h


Quando Mário Deixou São Paulo
Nos anos 1940, Mário de Andrade saiu da diretoria do Departamento de Cultura de São Paulo e foi transferido para o Rio de Janeiro num momento de restrições do Estado Novo. Na conversa, mediada pelo jornalista da Folha Walter Porto, Jason Tércio, autor da recente biografia do modernista, e Eliane Robert Moraes, crítica e ensaísta, discutem por que a figura do intelectual incomodava o governo Vargas.
No YouTube da Biblioteca Mário de Andrade. Qui. (3), às 11h


INTERVENÇÕES ARTÍSTICAS

Burocra Parade
A intervenção lembra projetos parados na Ancine e na Lei de Incentivo à Cultura em instalações espalhadas pela avenida Paulista que imitam ficha técnicas e exibem os carimbos de "negado".
Av. Paulista, s/nº, Cerqueira César, região oeste. Qui. (3) a dom. (6).


Circuito Urgências: Palmares É Aqui!
Caminhões com painéis de LED exibem vídeos sobre os artistas excluídos da lista de homenageados da Fundação Cultural Palmares, como Zezé Motta, Leci Brandão e Elza Soares. Os carros fazem percursos a partir de Itaquera, Vila Nova Cachoeirinha e Perus até o centro.
Sex. (4) a dom. (6), das 12h às 18h


Imprensa Livre
Entre esta quinta (3) e domingo (6), das 19h às 22h, o coletivo Projetemos faz uma intervenção visual sobre a censura à imprensa nas empenas de prédios na região central. As imagens exibem trechos de matérias, livros e outras obras censuradas.
R. da Consolação, 753, região central. Qui. (3) a dom. (6): 19h às 22h.


Modulação Preta / Podeserdesligado
Com apresentação de Marcos Felinto, o projeto debate a presença da negritude na música contemporânea, especialmente na eletrônica, e discute como se dá a construção da história do audiovisual.
No Facebook do Centro Cultural Olido. Dom. (6), às 19h. Livre.


TEATRO E STAND-UP

Cartas a Madame Satã
No monólogo da companhia Os Crespos, Sidney Santiago Kuanza, investiga a afetividade negra a partir da costura de cartas confessionais endereçadas a Madame Satã, transformista e capoeirista emblemática do Rio de Janeiro do início do século 20.
Nas redes sociais da Secretaria Municipal de Cultura. Dom. (6), às 19h. 14 anos


Humor de Quinta com Silvetty Montilla
A lendária drag queen Silvetty Montilla recebe o público com seu show de comédia stand-up. Presencial, a performance ocorre no Centro Cultural Vila Formosa, com 20% da capacidade de público.
Centro Cultural Vila Formosa - Av. Renata, 163, Vila Formosa, região leste, tel. (11) 2216-1520. Qui. (3): 20h às 21h. 16 anos


Patética
A peça trata do assassinato do jornalista Vladimir Herzog (1937-1975), em texto escrito em 1976, por seu cunhado e também dramaturgo, João Ribeiro Chaves Neto. Após a sessão, haverá um bate-papo com Celso Nunes, diretor da primeira montagem do espetáculo, em 1980.
Nas redes sociais da Secretaria Municipal de Cultura. Sáb. (5): 20h (debate). Espetáculo fica disponível online por 24 horas


Santo Inquérito
Escrita por Dias Gomes em 1966, a peça conta a história do julgamento de Branca Dias pela Santa Inquisição, denunciada pelo padre Bernardo. Para o Festival São Paulo Sem Censura, a companhia BR116 propõe um tribunal dramatúrgico, no qual os atores lerão trechos da peça a fim de suscitar debate. Após a encenação, uma mesa de conversa vai reunir o padre Júlio Lancellotti, o secretário Alê Youssef e a advogada Cris Olivieri, consultora para arte e cultura.
Nas redes sociais da Secretaria Municipal de Cultura. Sex. (4): às 20h. 12 anos.


CINEMA

As Cores do Divino
O documentário reúne conversas de pessoas LGBT ligadas a alguma religião para abordar a relação entre religiosidade e sexualidade.
Brasil, 2020. Direção: Victor Costa Lopes. Livre. No CCSP. Sexta-feira (4), às 15h30. R$ 4.


Goma
O jovem Kid é MC e idolatra as letras das músicas de Preto, seu amigo, e tenta passar a mesma visão em suas rimas. Para isso, o garoto terá que primeiro enfrentar a discriminação de outros MCs nas batalhas.
Brasil, 2019. Direção: Igor Vasco. Com: Daniel Silva, Andarilho Cha, Hegberto Emiliano. 12 anos. No CCSP. Domingo (6): às 15h30. R$ 4


Noturnas
A série documental reúne 46 episódios de cinco minutos cada um. Nos vídeos, um retrato de grandes nomes do transformismo carioca em baladas gays. As histórias formam uma visão sobre o movimento no Brasil.
Brasil, 2016. Direção: Allan Ribeiro e Douglas Soares. 10 anos. Disponível no Spcine Play.


Libelu - Abaixo a Ditadura
Vencedor do festival É Tudo Verdade de 2020, o documentário faz um resgate histórico do Liberdade e Luta —a chamada Libelu—, grupo do movimento estudantil universitário criado em oposição à ditadura militar brasileira.
Brasil, 2020. Direção: Diógenes Muniz. 14 anos. No CCSP. Quinta-feira (3): às 15h30. R$ 4


Quem Pode Jogar
No documentário são apresentadas as histórias de quatro atletas transexuais que precisam enfrentar as barreiras do preconceito tanto nos treinos como nas competições. Entre as atletas que participam do longa está a menina patinadora de dez anos Maria Joaquina.
Brasil, 2020. Direção: Marcos Ribeiro. 12 anos. No CCSP. Domingo (6), às 15h30. R$ 4.

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