Museu de Arte de Rua promove em SP mural de artista que teve obra investigada em BH

Capital paulista recebe projeto de arte urbana com grafite, estêncil, fotografia e lambe-lambe

São Paulo

O cinzento horizonte paulistano ganha um pouco de cor no decorrer do mês de junho. Com a quinta edição do Museu de Arte de Rua, o MAR, os caminhos da cidade servem de plataforma para intervenções visuais diversas. O projeto entrega cerca de cem obras em espaços públicos, em formatos como mural, grafite, fotografia, colagem, estêncil e lambe-lambe.

Há, ainda, uma intersecção com o evento São Paulo sem Censura, com a participação do multiartista Robinho Santana.

Em outubro do último ano, Santana participou do Cura (Circuito Urbano de Arte), festival que promove a pintura de empenas em prédios de Belo Horizonte, com uma obra gigantesca intitulada “Deus É Mãe”. Em janeiro, o mural foi incluído em um inquérito da Polícia Civil de Belo Horizonte, para que fosse investigado crime ambiental.

Empena pintada por Robinho Santana para o festival CURA, em Belo Horizonte; obra se tornou alvo de inquérito da Polícia Civil
Empena pintada por Robinho Santana para o festival CURA, em Belo Horizonte; obra se tornou alvo de inquérito da Polícia Civil - Caio Flavio/Área de Serviço

O problema não era a pintura em si, mas as pichações que a emolduravam, uma colaboração com um grupo da capital mineira. Feitas com tinta spray na cor marrom, as intervenções faziam menção às tragédias ambientais de Mariana e Brumadinho, além de trazer frases como o verso “ô mãe, olha como me olham”, de “A Música da Mãe”, do rapper belo-horizontino Djonga.

A capital mineira é conhecida pela severa política antipichação. Segundo o advogado Felipe Soares, que atuou no caso do Cura, enquanto no resto do país o picho é tido como uma contravenção menor, ali se adota a estratégia de ampliar o leque de acusações aos pichadores. As denúncias podem incluir formação de quadrilha, apologia do crime, entre outros.

A presença da pichação no mural assinado por Santana acendeu um alerta para as autoridades, que levou à abertura do inquérito —mesmo que o festival Cura tivesse autorização do prédio, da prefeitura de Belo Horizonte e se beneficiasse de leis de incentivo.

Os processos relacionados ao festival Cura e à empena pintada por Robinho Santana caíram. E então veio o convite para a participação do artista para o São Paulo sem Censura e para o MAR.

Em São Paulo, ele vai dar cor a um prédio no entorno do Minhocão, na rua General Júlio Marcondes Salgado. E recebe, mais uma vez, o grupo mineiro, formado por Tek, Potter, Zoto, Bani e Lambão.

Grafite de Pri Barbosa no CEU Jardim Paulistano
Grafite de Pri Barbosa no CEU Jardim Paulistano; intervenção integra o MAR 2021 - Divulgação

O secretário paulistano de Cultura, Alê Youssef, afirma que a pasta adotou uma política de liberdade artística total para o Museu de Arte de Rua. “Uma cidade ocupada pela arte com certeza é uma cidade mais humana, mais colorida, mais diversa, muito melhor para se viver, e o MAR representa isso”, diz.

Embora o mural de Santana esteja previsto para o dia 20 de junho, já é possível espiar algumas das obras que integram o MAR. É o caso do painel “O Verdadeiro Campeão É o Povo”, de André Mogle, no número 2.538 da rua da Consolação, já no encontro com a avenida Paulista.

Outra é “Respira Fundo”, assinada por Priscila Barbosa. A pintura está exposta nos muros do CEU Jardim Paulistano (rua Aparecida do Taboado, sem número), na zona norte.

Mas não é preciso sair de casa para apreciar as obras do festival. A plataforma MAR 360º traz cerca de cem murais criados nas últimas edições do projeto em um passeio virtual com mapa personalizado e interativo. Acesse em mar360.art.br.

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