Quando as portas finalmente forem abertas para o público geral nesta quinta, dia 8, as escadas em curva vão receber mais uma vez os visitantes, que flanarão —com celulares à mão— entre paredes de tons ocre, estátuas de bandeirantes, quadros que povoam os livros de história e algumas novidades, como um novo mirante.
O Museu do Ipiranga, oficialmente Museu Paulista e um dos símbolos de São Paulo, estava de portas e janelas fechadas desde 2013 por causa de problemas estruturais e passou por reformas. Parte da memória afetiva do paulistano, o endereço volta a funcionar agora de cara nova.
Quem esperou nove anos para conhecer ou revisitar o local encontrará um prédio restaurado, ampliado e com algumas novidades —além do mirante com vista panorâmica, há novas exposições e itens exibidos, já que parte dos 3.500 objetos expostos nunca foi vista pelo público.
A instituição fundada em 1895 ganhou também recursos de acessibilidade e uma nova entrada, que fica na parte de baixo, onde estão duas entradas, bilheteria, banheiros, guarda-volumes e auditório. A previsão é que um café e uma loja comecem a funcionar por ali em janeiro do ano que vem.
O endereço foi reaberto como parte das comemorações dos 200 anos da Independência. As visitas nestas terça (6) e quarta (7) foram exclusivas a convidados, estudantes de escolas públicas e pessoas que trabalharam nas obras. A abertura geral será nesta quinta, dia 8 —mas os ingressos já estão esgotados.
Nos dois primeiros meses não será cobrada entrada, mas os visitantes precisam fazer reserva pela plataforma Sympla. Novos lotes de ingressos serão liberados semanalmente, às segundas, às 10h, no site do museu. A partir de 7 de novembro, o acesso será pago, mas o valor ainda não foi confirmado.
Para quem vai revisitar o Museu do Ipiranga ou conhecer o lugar, confira abaixo dez atrações imperdíveis, entre novidades e obras clássicas. Bom passeio —e leve guarda-chuva, porque a garoa deve aparecer por São Paulo nos próximos dias.
Acessibilidade
As reformas tornaram o prédio mais acessível, com a instalação de elevadores, rampas de acesso, materiais com audiodescrição e painéis táteis, que permitem a interação de pessoas com deficiência. Há também salas com cheiros. Cerca de 300 peças, entre elas uma miniatura do museu, ganharam texturas e poderão ser tocadas.
Água de rios brasileiros
Ao longo da escadaria de mármore do saguão principal estão dispostas 17 ânforas de cristal centenárias, parecidas com globos transparentes, com bases de bronze e que armazenam as águas dos principais rios do Brasil, como Tietê, São Francisco, Amazonas, Negro, Parnaíba e Paraná.
Bandeirantes
As estátuas de bandeirantes como Raposo Tavares, Fernão Dias e Manuel Preto, que se tornaram alvo de revisão histórica por seu papel sobretudo na escravidão indígena e na morte de suas populações, continuam a receber os visitantes no saguão principal. Mas, agora, elas são acompanhadas por contextualizações que questionam a história que transformou suas figuras em mitos paulistas.
Exposições
São 11 mostras permanentes, que exibem em torno de 3.500 itens, entre pinturas, fotos, esculturas e objetos. "Territórios em Disputa", por exemplo, lida com noções de território a partir de livros, cartas e mapas que remontam aos séculos 16 e 17. Em "Mundos do Trabalho", estão expostos equipamentos raros de profissões que eram comuns nas ruas da cidade, como cadeiras de barbeiros e câmeras de retratistas. Há, ainda, uma exposição de brinquedos antigos e de objetos do cotidiano.
Jardim francês
Construído há cem anos e inspirado em modelos europeus, o jardim que decora a entrada do museu foi restaurado, com paisagismo recuperado. Na ala verde, há plantas como roseiras e palmeiras. Os chafarizes e a grande fonte de água também foram reativados após anos desligados e ganharam nova iluminação. O espaço ainda recebeu duas novas fontes laterais, que estavam presentes no projeto original e foram tiradas na década de 1970.
Maquetes
O tamanho delas impressiona. Uma é a maquete de gesso que reproduz o centro da cidade de São Paulo em 1841 com locais como o mosteiro de São Bento e o Pátio do Colégio. Modelada na década de 1920 pelo holandês Henrique Bakkenist, ela mede seis metros de comprimento e cinco metros de largura. Também foi restaurada e está exposta a maquete original do próprio Museu Paulista, feita no século 19, na década de 1880, pelo arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi.
Mirante
Uma das principais novidades é um mirante instalado no terraço da torre central do edifício, que terá vista panorâmica para a cidade. De lá, é possível observar o parque da Independência, o bairro do Ipiranga e a serra da Cantareira.
Novos espaços
O museu também ganhou novos ambientes, como um anfiteatro para palestras e concertos e uma sala de exposições temporárias, com 900 metros quadrados. Ela será a maior das 49 presentes no local, mas deve ser aberta apenas em novembro, com a exposição "Memórias da Independência", que tem previsão de durar quatro meses.
Programação de shows
Até domingo, dia 11, estão programados shows, concertos, espetáculos com drones e projeções na fachada do edifício numa comemoração da reabertura. Gratuitos, os eventos ocorrem na parte de fora, no parque da Independência. O destaque é a agenda musical, que traz concerto da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo e apresentações de artistas como Juliette, Criolo, Gabriel Sater, Margareth Menezes, Gaby Amarantos, Vanessa da Mata e Fafá de Belém. A programação completa está no site da instituição.
Quadro 'Independência ou Morte'
Uma das principais atrações do museu, a famosa tela de Pedro Américo passou por reparos na moldura e retoques na pintura e pode ser observada no Salão Nobre. O quadro, que tem sete metros de comprimento e quatro metros de altura, foi pintado em 1888 em Florença, na Itália, sob encomenda de dom Pedro 2º. A imagem traz uma cena com toques de ficção do momento em que dom Pedro 1º proclama a Independência.
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