Borboletário em São Paulo tem berçário com 5.000 lagartas alimentadas com orgânicos

Laboratório de criação de borboletas do Museu Catavento é aberto ao público pela primeira vez

São Paulo

Visitar o borboletário do Museu Catavento, em São Paulo, requer atenção aos detalhes. O local abriga 595 pequenas borboletas em uma cúpula cheia de árvores, mas protegida do ambiente externo. No seu interior, abundam pistas do ciclo de vida do inseto.

A imagem mostra uma borboleta de cor clara pousada em um botão de flor, com pétalas de uma flor laranja ao fundo. O ambiente é natural, com vegetação verde ao redor.
Borboleta da espécie ascia no borboletário do Museu Catavento que completa dez anos em 2025 - Zanone Fraissat/Folhapress

Plantas escondem míni ovos, a fase inicial do animal, que só são encontrados pelos olhos treinados dos instrutores do museu. Folhas mordiscadas indicam qual foi o último almoço de lagartas, a segunda e a mais longa etapa do desenvolvimento. A vegetação ainda acolhe pupas, o abrigo em que o animal se liquefaz antes de ganhar asas.

Enquanto a cúpula protegida concentra os insetos adultos —as borboletas—, a maioria dos que ainda estão na fase inicial moram no laboratório de criação. O espaço que abriga 5.000 lagartas foi aberto para visitas pela primeira vez em julho, mês em que o borboletário completa dez anos.

A área de visitação é oficialmente um berçário que repõe animais que morrem no borboletário. Como os insetos na fase adulta vivem de 15 a 30 dias, a depender da espécie, a instituição precisa de um fluxo de reprodução para evitar que faltem borboletas.

Antes do laboratório de criação ser inaugurado em 2023, o museu dependia de pupas importadas do borboletário de Diadema, na Grande São Paulo. Hoje a instituição da capital já acompanha todo ciclo de vida de três espécies, do ovo à metamorfose. São elas a Ascia monuste, a Caligo illioneus e a Methona themisto, todas presentes no Brasil e nas Américas, comuns a borboletários.

Segundo Rodrigo Silva, biólogo responsável pelo borboletário do Catavento, as três espécies foram as que melhor se adaptaram ao clima e aos alimentos disponíveis no museu. A instituição tem autorização do Ibama para criar cinco e ainda busca permissão para outras 20.

Uma das espécies atuais, a methona, conhecida como manacá, nome dado à árvore que a borboleta gosta de comer quando lagarta, ficou cinco anos ausente por problemas na reprodução. Só sobraram fêmeas, o que impossibilita o acasalamento.

Silva conta que a instituição precisou pedir permissão para a Secretaria Estadual de Meio Ambiente para capturar lagartas, ovos e borboletas da espécie para repor os números.

O museu precisou criar um jardim com plantas que a manacá gosta para atraí-la e usou redes para pegar os insetos adultos. "Tal qual o Bob Esponja", lembra o biólogo, em referência ao personagem infantil que caçava águas-vivas com uma rede no desenho de mesmo nome.

Outra novidade do laboratório de criação é mostrar o menu dos insetos, que varia conforme o ciclo de vida de cada um. Na fase de lagarta, a ascia come couve, e a caligo, chamada de olho-de-coruja pela semelhança com a ave, prefere folhas de bananeira. Já a manacá adulta consome pasta de frutas com mel.

"São alimentos orgânicos porque os insetos são muitos sensíveis", diz Silva. Por isso, toda comida é higienizada, o que evita contaminações antes de ser oferecida às borboletas.

A delicadeza dos bichos é vista de perto em outra atividade da nova visita, feita por meio de uma espécie de lupa. Ali, instrutores do museu chamam a atenção para as escamas nas asas de borboletas, cujos detalhes lembram pele de cobra. E também para as antenas dos bichos.

Ao lado, uma sala estreita abriga um caixote de madeira com inúmeras pupas penduradas, todas numeradas. Se der sorte, serve como camarote para ver o inseto tentando se liberar da crisálida. O visitante torce para uma saída rápida: quanto menos tempo a borboleta demorar, maior a chance de sobreviver.

"Borboletários falam sobre o ciclo de vida de borboletas para construir valores de conservação ambiental", afirma Maristela Zamoner, bióloga que organizou o livro "Borboletários no Brasil" (Comfauna, 2024).

Embora essas instituições lidem com temas científicos e precisem de muito rigor técnico para funcionar, elas aproximam o público do tema quando apostam em visitas lúdicas e divertidas, diz a bióloga.

No laboratório ou na cúpula, os instrutores do Catavento estão sempre explicando cada detalhe das borboletas. Em alguns momentos, até permitem o toque, talvez para desfazer o mito de que as borboletas têm um pó que causa cegueira. Não causam, diz Rodrigo Silva, o biólogo do museu.

A nova visita do borboletário do Catavento começa na cúpula principal e depois se encaminha para o laboratório de criação. A atividade, ainda em versão piloto, abre de quarta e quinta, com cinco sessões diárias. Para participar, é preciso agendar pelo site do museu (museucatavento.org.br), depois de efetuar a compra ou a reserva do ingresso. A cúpula recebeu 25 mil visitantes em 2024, segundo o Catavento.

Borboletário do Catavento
Palácio das Indústrias - av. Mercúrio, s/n, Parque Dom Pedro II, região central. Ter. a dom., das 9h às 17h. Laboratório de criação na qua. qui., das 10h30 às 15h30, com senha retirada pelo site. Ingr.: R$ 18. Grátis ter., 1º domingo do mês e toda 2ª qua

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