Na contramão da paisagem do último ano e meio de pandemia, dominada por portas com placas de aluga-se e um incansável abre e fecha causado pelas mudanças constantes no Plano São Paulo —que controla o avanço da pandemia no estado—, uma movimentação recente sugere uma luz no fim do túnel.
Os protagonistas, por enquanto, são a Casa de Francisca e o Bona, dois espaços dedicados à música que, neste ano, decidiram encerrar as atividades após um longo período de palcos vazios e contas acumuladas.
À procura de alguma sobrevida, ambos se juntaram à lista de casas que criaram vaquinhas para mobilizar clientes e artistas. O crowdfunding também não conseguiu sozinho pagar as contas. Só agora, capitaneados por uma iniciativa da Heineken, elas têm seu retorno confirmado.
Segundo o diretor de marketing da cervejaria no Brasil, Gabriel D'Angelo Braz, a ideia é dar suporte para casas que fazem parte dos setores cultural e gastronômico voltarem aos trabalhos à medida em que a pandemia comece a arrefecer na cidade.
“São duas casas muito importantes para a cena de São Paulo, não só pelo entretenimento, mas por repensarem os espaços da cidade. Quisemos chamar esses lugares para conversar e criar um movimento nesse setor que sofreu muito”, diz.
As reaberturas não necessariamente seguirão a agenda de relaxamento da quarentena sugerida pelo governo do estado —a partir do dia 17, os espaços estão liberados para funcionar em sua capacidade máxima e sem restrição de horário. As voltas são motivadas pela melhora dos índices, com menos internações e mortes, a partir do avanço da vacinação.
“Apesar de o desejo de voltar ser muito grande, estamos dando um passo de cada vez para que seja com muita segurança. Esse movimento de retorno carece de um esforço enorme, não é do dia para noite. Se os números se mantiverem assim, se a vacina for evoluindo, estamos batalhando para reiniciar algumas atividades até meados outubro”, conta Rubens Amatto, um dos fundadores da Casa de Francisca.
Conhecido palco do centro de São Paulo, o espaço arrecada ao menos R$ 74 mil mensais dos apoiadores da vaquinha —as contas da casa giram em torno de R$ 85 mil por mês.
Bem mais modesta é a arrecadação do Bona, também escolhido para receber o apoio da Heineken. As doações para o espaço giram em torno de R$ 4.155 por mês, bem menos do que os R$ 60 mil necessários para se manter. O aporte da marca, que não divulga seus números nem quanto está desembolsando nessa campanha, se junta à arrecadação dos estabelecimentos.
O Bona também aguarda a melhora da pandemia para retomar a programação. “Outubro é uma possibilidade, mas a gente ainda quer esperar. Esse abre e fecha dos protocolos causa um prejuízo grande, uma instabilidade em relação à equipe, uma programação defasada. A pandemia nos ensinou muita coisa e agora estamos mais próximos dos nossos valores, então queremos voltar coerentes”, afirma Manuela Fagundes, uma das fundadoras do espaço. Segundo ela, o apoio será fundamental para que a casa, em Pinheiros, volte “forte e bonita, e não de forma capenga”.
Outros estabelecimentos completam a lista de apoio da marca –a casa de shows Audio, os bares Exit, Heavy House, Estepe e Cavepool e a hamburgueria Fatz. A sétima escolhida é o Studio SP, clássico point musical paulistano que fechou as portas na rua Augusta em 2013. Ainda não há detalhes confirmados, mas o local deve voltar a funcionar em breve.
“Além de serem casas incríveis, todos têm em comum não só a cena cultural, mas também o cuidado com o entorno”, afirma Braz. A ideia é que a lista aumente. “A Casa de Francisca e o Bona são um pontapé. Nossa intenção é que seja um movimento que comece agora e que tenha longevidade.”
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