Depois de um período pandêmico que deixou estragos no universo da música independente de São Paulo, fazendo com que locais menores fechassem as portas ou dependessem de apoio de público e patrocinadores, a cena dá sinais de retomada de seu fôlego, com casas se unindo para recuperar o que foi perdido.
Neste sábado, 23, dez lugares de shows da capital e do ABC fecham suas sedes para transportar uma amostra do que oferecem para o Cine Joia, que sedia a primeira edição do Festival Aonde. Levam não só atrações que tocam em suas noites, mas as pessoas que estão à frente dos espaços.
Estarão representadas na casa a Associação Cultural Cecília, o Estúdio Aurora, o Porta, o FFFront, a Laje, o Secilians Shop, o Centro da Terra e a Tectonica. De fora da capital, aparecem o 74Club, de Santo André, e a Fun House, de Ribeirão Pires.
A ideia de unir forças começou a ganhar forma justamente na pandemia, centralizada nas figuras de Renato Joseph, um dos donos da Associação Cultural Cecília, que atravessou aqueles anos com dificuldade, e de Danilo Leonel, o Mancha, criador da Casa do Mancha —um dos principais redutos da cena alternativa paulistana que funcionou por mais de uma década e teve de fechar.
"A gente se falava para desabafar, porque é difícil manter as estruturas para girar música independente no país. E nós temos essa visão forte de que esses espaços não são concorrentes. O trabalho de um puxa o do outro e constrói um público", diz Mancha, que agora faz parte da gerência do Joia e faz testes com festas e audições de álbuns em sua nova Casinha, em Pinheiros, desde o começo do ano.
A preocupação dos produtores era, em parte, com a extensão do estrago que faria o fechamento de palcos dedicados à música alternativa —como aconteceu com a Casa do Mancha, o Morfeus Club e o Breve. Com menos espaços para tocar, bandas menores ou em início de carreira perderiam seus primeiros palcos, importantes para ganhar público e amadurecer a performance.
"Ninguém quer fazer show no mesmo lugar toda semana. Quanto maior a rede, melhor para o artista", afirma Joseph. "Essa intersecção já existia. Quem toca na Cecília já tocou no Porta, no FFFront. Agora a gente quer transformar isso numa associação para contar com o apoio público e privado, correr atrás de leis, isenções."
O sócio da Cecília conta que, logo depois da pandemia, a cena viveu cerca de um ano de boom —a mesma demanda represada que entupiu a agenda musical da cidade com turnês e festivais em 2022. Foi nessa época que São Paulo ganhou novos palcos menores que recebem artistas independentes, como o Porta, em maio, o Cineclube Cortina, em julho, e o Bar Alto, em dezembro.
Mas o público parece já ter se acostumado com a retomada desses ambientes, que ficaram a um passo de deixar de existir, diz Joseph. O festival também vem nesse embalo, embora eles avaliem
que há uma nova disposição de querer fazer a cena acontecer por parte dos produtores.
"Eu vejo uma evolução no sentido de haver uma geração mais disposta a meter as caras. Quem quer criar um festival, uma casa de shows ou uma festa entrou num modo de fazer para não se arrepender, porque qualquer coisa pode acontecer e fazer a gente ficar trancado de novo", diz Mancha.
Mas, afirma, isso não significa que a cena esteja voltando aos eixos. "É como se fosse um motor e a gente desse umas apertadas nas porcas para, dependendo do preço da gasolina, botá-lo para funcionar. Ainda precisamos de anos de construção para chegar a um lugar mais satisfatório."
ONDE CONHECER A CENA DA MÚSICA INDEPENDENTE DE SP
Festival Aonde - Cine Joia - pça. Carlos Gomes, 82, Liberdade. Sáb. (23), das 19h às 5h. A partir de R$ 70 em Sympla
Associação Cultural Cecília - r. Vitorino Carmilo, 49, Santa Cecília, Instagram @ceciliacultural
Bar Alto - r. Aspicuelta, 194, Vila Madalena, Instagram @baralto.sp
Bona - r. Dr. Paulo Vieira, 101, Sumaré, Instagram @bona_casa_de_musica
Casinha - r. Jorge Rizzo, 63, Pinheiros, Instagram @casinha.cc
Centro da Terra - r. Piracuama, 19, Perdizes, Instagram @centro.da.terra
Cineclube Cortina - r. Araújo, 62, República, Instagram @cineclubecortina
Estúdio Aurora - r. João Moura, 503, Pinheiros, Instagram @estudioaurora
FFFront - r. Purpurina, 199, Sumarezinho, Instagram @seufffront
Fun House - av. Humberto de Campos, 29, Ribeirão Pires, Instagram @fun.houseestudiobar
Picles - r. Cardeal Arcoverde, 1.838, Pinheiros, Instagram @piclescardeal
Porta - r. Fidalga, 642, Vila Madalena, Instagram @_____porta_____
Secilians Shop - pça. Olavo Bilac, 87, Santa Cecília, Instagram @secilianshop
Tranquilo - Às segundas, Instagram @tranquilosaopaulo
74Club - r. Itobi, 325, Vila Alpina, Santo André, Instagram @74club
Laje - r. João Ramalho, 1.494, Perdizes, Instagram @lajesp
Tectonica - r. Min. Ferreira Alves, 686, Pompeia, Instagram @tectonica.sp
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