Estrela de "Hell", Bárbara Paz fala de geração que se entope de drogas

Inferno. Esta é a tradução de "Hell", título da peça encenada por Bárbara Paz que retorna a São Paulo a partir da próxima sexta-feira (27), no teatro Eva Herz (centro).

Hell é pseudônimo de Lolitta Pille, escritora francesa que lançou livro homônimo ("Hell - Paris 75016" ) em 2003, aos 21 anos, e chocou a sociedade de seu país ao relatar a rotina de uma jovem aristocrata viciada em álcool, drogas, consumo desenfreado de alto luxo (um oceano de grifes) e uma noção tão descartável de sentimentos e pessoas quanto dos cigarros que fuma.

Hell tem um amor, Andrea (interpretado pelo ator Paulo Azevedo), tão fútil, rico e perdido quanto ela. Mas ambos sofrem da falta de traquejo para lidar com bons sentimentos.

Crédito: João Caldas/Divulgação Bárbara Paz (foto) reestreia o espetáculo "Hell" em SP; peça é baseada em livro da jovem escritora Lolita Pille

"Eu sou uma putinha. Daquelas mais insuportáveis, da pior espécie. Meu credo: 'Seja bela e consumista'." Esta é primeira frase da peça, extraída do livro pelo qual Bárbara e seu marido, o cineasta Hector Babenco (Carandiru), tanto se interessaram e transformaram em texto teatral. O espetáculo tem ficha técnica estrelada, com Beto Bruel na iluminação, Giovanni Bianco na direção de arte e visagismo e Marco Antonio Braz dividindo a dramaturgia com Babenco.

Por alguma razão, Bárbara é a cara de Hell e mostra toda sua força dramática no espetáculo. Ela conta ao Guia um pouco do que a impulsionou a essa experiência "infernal".

Informe-se sobre o espetáculo


LEIA ENTREVISTA COM BÁRBARA PAZ:

Guia - O que há de específico e de universal em um texto como "Hell"?
Bárbara Paz - O texto retrata uma geração consumista existente em qualquer lugar. E há uma história de amor em que os personagens, de tão perdidos no excesso desse vazio consumista, acabam se esquecendo deles mesmos. Hell só valoriza o amor quando o perde por não conseguir enxergá-lo. É uma garota individualista demais para ver o outro e o que o envolve. Quando consegue ver o que uma relação pode trazem de bom, por exemplo, ela já a destruiu.

Quem se entusiasmou primeiro com o projeto, você ou Babenco?
Nós dois.

Hell te causa alguma forma de identificação? Tem a ver com sua personalidade?
Não, não temos muito a ver. Mas foi exatamente este o desafio. O Giovanni [Bianco, diretor de arte da peça] me ajudou muito na construção do personagem. Como ele trabalha com moda, conhece muito esse universo. Daí ele me dizia: "A Hell pode falar a barbaridade que for, mas ela tem de ser fina!". Me dizia para consertar a postura e me dava muitos toques na hora de me vestir, me ensinou a apreciar joias e a enxergar o mundo como a aristocrata que ela é.

Você conhece o universo de Hell? Como se deu sua imersão em seu mundo para fazê-la?
Eu já frequentei muito a noite e já perambulei muito por esses subterrâneos. Mas nada comparado ao mundo dela. Hell vive num mundo muito além do meu, numa sociedade aristocrática à qual nunca tive acesso. Também conheço muitas pessoas parecidas com ela, claro! Tanto no aspecto do poder e do dinheiro, quanto no aspecto do consumo de drogas. Apesar de a Hell ser uma personagem universal e poder viver em qualquer metrópole, fui a Paris conhecer os lugares que ela frequentava.

Você considera Hell infeliz?
Depende do jeito que ela acorda e de que droga utiliza. Ela não se considera infeliz, mas acredito que ela nem saiba o que é felicidade. Essa geração associa muito a felicidade ao consumo, tanto de bens materiais quanto ao de drogas. Um dia se entope de drogas, no dia seguinte, óbvio, está deprimida e daí pega o cartão de crédito e vai às compras. Isso é um ciclo. Mas felicidade mesmo ela não conhece. É tudo muito superficial. Ela nem se dá a chance de ser feliz. E como disse, quando conheceu o amor, não o reconheceu, só quando ele foi embora.

Você já disse que personagens pesados e densos lhe caem bem. Por quê?
Não sei, talvez eu tenha uma "physique du rôle" que combine com esse tipo. Mas também já fiz de tudo. Com tanto tempo de carreira, já fiz vilãs e também muita comédia. Mas gosto mesmo do que me exige.

Essa densidade não faz parte da sua vida?
Sou dramática... Meus amigos todos dizem isso [risos]. Sou uma "drama queen". Talvez pelo meu repertório ou simplesmente pela minha entrega. A densidade me cai bem.

E o que você faz para relaxar?
Pilates e leitura.

Como você preenche seus próprios vazios?
Pintando, escrevendo ou simplesmente convivendo com eles. Eles fazem parte de mim. Dos vazios é que saem as melhores criações.

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