Pode não ser novidade, mas vale repetir: ao entrar no Teatro Oficina Uzyna Uzona, esqueça o que você sabe sobre teatro. Nem italiano, nem elisabetano, nem arena: no lugar do palco, há uma passarela que vai dos portões ao fundo do espaço, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi.
Inaugurado em 1961, o Oficina pegou fogo em 1966 após um curto-circuito e precisou se reerguer. Zé Celso, diretor teatral, fundador do grupo e dramaturgo que morreu no ano passado, atribuía a destruição à ditadura militar.
O novo espaço, tombado pela cidade e pelo Estado de São Paulo, ganhou um formato único, que conecta o teatro aos seus arredores. A estrutura já chegou a ser reconhecida como a melhor do mundo pelo jornal dominical do britânico The Guardian, o The Observer.
Ao cruzar a passarela que faz as vezes de palco, o público pode se acomodar entre arquibancadas, bancos e cadeiras de madeira distribuídos por três andares feitos de andaimes dispostos nos dois lados do corredor. O reconhecimento do Oficina não vem do luxo ou do conforto —pelo contrário, as cadeiras são resistentes e duras. O sacrifício é compensado pela experiência única e imersiva.
O contato com os atores pode ser mais próximo para quem fica perto do solo, mas quem senta nos andares superiores também consegue ver e interagir de perto. Atores usam as plataformas e escalam as vigas dos andaimes. Tudo dentro da sala é considerado palco —e fora também, já que artistas cruzam o portão e as janelas que apontam para o futuro parque do Rio Bixiga.
Como um dos sobreviventes teatros de grupo, o Oficina mantém uma programação de peças dirigidas e encenadas por seus integrantes. Neste ano, estiveram em cartaz "O Jogo do Poder", "O Bailado do Deus Morto" e "Mutação de Apoteose", além das homenagens "Go Back Torqu4to", a Torquato Neto, "Pretobrás, e Daí?", a Itamar Assumpção, e "Dorival e a Mar", a Dorival Caymmi.
Além de peças de seu repertório, o teatro também recebe outras produções. Neste ano, o grande destaque foi uma nova temporada de "O que Nos Mantém Vivos?", do Teatro Promíscuo, companhia de Renato Borghi, um dos fundadores do Oficina e amigo de Zé Celso.
Velórios, festas, shows e atos políticos também integram a programação do espaço, fazendo do lugar um centro cultural. Foi lá a cerimônia de velório do Zé Celso, em julho de 2023.
Nas cercanias do teatro, dá para aproveitar algum dos bares da região para matar a fome após uma peça, que, na tradição do grupo, pode durar horas. Na saída é possível ainda adquirir livros, camisetas e outros itens da companhia. As vendas ajudam a financiar o Oficina, que desde 2016 perdeu o patrocínio da Petrobras.
TEATRO OFICINA UZYNA UZONA
R. Jaceguai, 520, Bela Vista, região central, @oficinauzynauzona. tel. (11) 3106-2818
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